Em 1972, na primeira conferência climática global, ocorrida em Estocolmo, o embaixador brasileiro João Augusto de Araújo Castro surpreendeu o mundo ao afirmar que o meio ambiente só pode reivindicar proteção se estiver acompanhado do direito ao desenvolvimento. A frase, ousada à época, ecoa ainda mais forte hoje, às vésperas da COP30, que será sediada pelo Brasil em Belém, em 2025.
Quase cinco décadas depois, o país encara um dos maiores desafios de sua história recente: conciliar a preservação ambiental com o crescimento econômico e a recuperação das terras degradadas. Trata-se de harmonizar progresso com natureza, tecnologia com floresta, justiça social com biodiversidade.
Sob a influência da ministra Marina Silva, o governo brasileiro tem priorizado um ambientalismo restritivo. Porém, é urgente resgatar a visão equilibrada de Araújo Castro: a Amazônia não pode ser tratada como um santuário intocável, mas como um território vivo, pulsante, repleto de oportunidades para seu povo à luz da inovação, tecnologia e respeito às leis ambientais.
O Brasil chega à COP30 cercado de expectativas internacionais, mas também carregando grandes contradições. Segundo a Embrapa, há mais de 140 milhões de hectares de terras degradadas no país, que poderiam ser regenerados por meio da agricultura sustentável, da bioeconomia e do reflorestamento produtivo.
Outro ponto que exigirá explicações é a prometida, e ainda não implementada, Autoridade Climática. Desde 2022, o compromisso com essa estrutura institucional permanece no papel.
Desenvolver é preservar
Araújo Castro certamente repetiria hoje: não basta proibir, é preciso desenvolver. O Brasil precisa chegar à COP30 com um plano claro de valorização econômica da Amazônia, incluindo a recuperação de áreas degradadas com cultivos de alto valor agregado.
O incentivo à bioindústria, com tecnologias capazes de transformar insumos naturais em produtos manufaturados, deve ser prioridade. Isso inclui fármacos, cosméticos, alimentos e bioprodutos. A regularização fundiária e o acesso ao crédito para pequenos produtores são essenciais para combater a grilagem e garantir direitos, promovendo uma economia verde de base local.
A fala de Araújo Castro continua atual porque expõe uma verdade incômoda: a pobreza é a maior fonte de degradação ambiental. Sem alternativas de renda, o homem amazônico recorre ao desmatamento ilegal como meio de sobrevivência. Preservar a floresta exige, antes de tudo, oferecer caminhos de prosperidade.
O Brasil já preserva mais que qualquer outro país: mais de 60% do território nacional continua coberto por vegetação nativa. É possível demonstrar que o desenvolvimento responsável é viável. Países como Noruega (com petróleo) e Canadá (com mineração) são exemplos de como explorar recursos naturais sem destruir o meio ambiente.
Alta tecnologia
Na COP30, o Brasil deve abandonar qualquer discurso que demonize o desenvolvimento e, em vez disso, propor uma nova narrativa baseada na bioeconomia de alta tecnologia. Em vez de exportar matéria-prima bruta, o país pode e deve investir na industrialização de produtos da floresta e no pagamento por serviços ambientais a comunidades que ajudam a preservar os biomas.
Rodovias e hidrovias com baixo impacto ambiental, fontes limpas de energia e uma infraestrutura sustentável para a região amazônica devem integrar o discurso brasileiro, que também deve reafirmar a importância de valorizar o homem da floresta.
Nesse contexto, a regularização dos títulos de terra para ribeirinhos e povos indígenas, permitindo-lhes desenvolver atividades sustentáveis, será fundamental.
A COP30 será um verdadeiro teste de força para o Brasil: o país poderá repetir uma retórica ambientalista submissa, que não gera prosperidade, ou poderá adotar a visão corajosa de Araújo Castro — provando que só o desenvolvimento sustentável e inclusivo poderá, de fato, salvar a Amazônia. Como ele disse em 1972: “O direito ao desenvolvimento não é inimigo do meio ambiente; a miséria sim”.

¹Articulista do Portal Em Tempo, Juscelino Taketomi, é Jornalista. Há 28 anos é servidor da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam)
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