Por muito tempo, o Brasil tem tratado suas imensas riquezas subterrâneas com a negligência típica de um país que parece ignorar sua posição estratégica no cenário geopolítico mundial. Como bem pontua o jornalista Alisson Ficher em artigo recente, estamos “sentados sobre o novo petróleo” — e o mundo já se organiza para nos tomar o banquinho.
Terras raras, nióbio, tório e até hidrogênio branco compõem um patrimônio energético e tecnológico de valor incalculável, capaz de transformar o Brasil, e particularmente a Amazônia, em eixo fundamental da nova ordem energética global. Mas, o Governo Federal ainda parece não ter compreendido a gravidade nem a urgência desse cenário.
Historicamente, o Brasil age como um país de vocação colonial, exportando riquezas brutas a preço de banana e importando tecnologia cara, sem desenvolver a indústria e a pesquisa capazes de agregar valor àquilo que nos foi generosamente dado pela natureza.
Não há, até hoje, políticas públicas robustas para a exploração racional, planejada e soberana desses bens minerais estratégicos. O Estado brasileiro carece de visão de longo prazo, de ousadia científica e de investimento contínuo em inovação. E isso cobra seu preço.
O alerta de Ficher também reflete o de muitos cientistas lúcidos, como o geofísico Sérgio Sacani: o verdadeiro interesse internacional na Amazônia não está apenas nas árvores. Está debaixo delas.
Enquanto isso, o discurso ambientalista hegemônico, protagonizado por vozes equivocadas como a do pesquisador Lucas Ferrante, prega a intocabilidade absoluta da floresta, como se nela não vivessem quase 30 milhões de brasileiros, incluindo indígenas, muitos dos quais relegados à miséria, à exclusão e à indigência.
Esse tipo de ambientalismo ortodoxo, embora bem-intencionado, acaba sendo funcional a interesses externos. Defende a “preservação” com um viés ideológico que ignora o ser humano amazônico, tratando-o como obstáculo à pureza do ecossistema, quando ele deveria ser sujeito do desenvolvimento sustentável.
É preciso romper com essa dicotomia simplista que opõe desenvolvimento e meio ambiente, e construir um novo paradigma: o da sustentabilidade com protagonismo humano, científico e tecnológico.
A Amazônia não pode continuar a ser um parque temático exótico para satisfazer as consciências ecológicas do Norte global. Ela precisa ser compreendida como um território estratégico, dotado de riquezas que, se bem manejadas, podem garantir soberania energética, inclusão social, geração de emprego qualificado e autonomia tecnológica.
O Brasil tem tradição em energia limpa, é pioneiro no etanol, domina técnicas de bioenergia e tem recursos hídricos abundantes. Mas precisa urgentemente integrar ciência, tecnologia e políticas públicas de Estado, e não de governo, para explorar com inteligência aquilo que o mundo já está de olho para tomar, ajudado pelas Ongs disfarçadas de entidades preservacionistas.
Enquanto o país continuar paralisado por discursos contraditórios, outros irão avançar. A China já descobriu a maior mina de tório do planeta. A Austrália domina parte considerável do mercado de terras raras. E nós, com mais de 90% do nióbio mundial e vastas reservas inexploradas, ainda patinamos em debates ideológicos ao mesmo tempo em que exportamos o futuro e importamos o atraso.
O Brasil precisa acordar. Não se trata de devastar, mas de pensar, planejar e liderar. E isso passa por uma mudança de postura do Governo Federal, que deve colocar a Amazônia e o homem amazônico no centro da política de desenvolvimento nacional.
Porque, como diz Sacani, “quem tem terra rara, manda no mundo hoje”. E o Brasil não pode continuar sendo o país que entrega a chave da porta, pede licença para entrar e ainda agradece.

¹Articulista do Portal Em Tempo, Juscelino Taketomi, é Jornalista. Há 28 anos é servidor da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam)
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