Os dados são da maior pesquisa cultural já realizada no país. A Cultura nas Capitais foi desenvolvida pela consultoria JLeiva Cultura & Esporte, com apoio do Itaú, Instituto Cultural Vale e execução do Datafolha. O levantamento ouviu 19.500 pessoas em todas as capitais brasileiras, sendo 600 delas em Manaus. O resultado impressiona. A capital do Amazonas lidera o ranking de acesso popular à dança. Trinta e dois por cento dos moradores participaram de espetáculos nos últimos 12 meses, oito pontos acima da média nacional.
Mas não para por aí. Manaus também se destaca na frequência a cinemas, com 52 por cento, festas populares, com 41 por cento, e concertos, com 13 por cento. Todos esses dados estão acima da média das demais capitais. Em um país que muitas vezes trata a cultura como adereço, esses números mostram que, por aqui, a arte é parte do cotidiano. Ela resiste. Ela pulsa. Ela se espalha mesmo sem incentivos robustos.
O Boi-Bumbá é a maior prova disso. Para 21 por cento da população, a Festa do Boi é o evento cultural mais importante da cidade. E não é só festa. É memória coletiva em forma de toada. É o coração amazônico batendo alto, carregando orgulho e tradição.
Outro símbolo é o Teatro Amazonas. Conhecido por 99 por cento dos moradores, ele não é apenas monumento histórico. É um espaço vivo. Dos que foram ao teatro recentemente, 69 por cento não pagaram ingresso. É o maior índice de acesso gratuito do Brasil. Um exemplo real de democratização cultural que precisa ser reconhecido e mantido.
A cultura em Manaus não mora só nos palcos. Um em cada quatro habitantes já escreveu poesia, contos ou romances. Outro quarto já experimentou artes visuais, grafite ou desenho. Isso mostra que a arte aqui não é privilégio de poucos. Ela nasce nas ruas. Nas casas. Na vontade de se expressar que atravessa o concreto da cidade.
O recado é claro. Cultura não é luxo. É direito. Não é gasto. É investimento. E enquanto a população faz sua parte, dançando, criando e celebrando suas raízes, o poder público precisa estar à altura desse movimento.
Que esses dados não se percam em curtidas passageiras. Que virem políticas públicas com verba, estrutura e continuidade. Porque em Manaus a cultura não se assiste passivamente. Ela se veste. Ela se canta. Ela se dança. E merece ser prioridade.
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