Vamos e convenhamos. A ministra Marina Silva, sempre com discursos rebuscados e promessas “técnicas”, tem usado a BR-319 como instrumento de sobrevivência política, não como ponte para o desenvolvimento do Amazonas. O que está em jogo não é o meio ambiente — é o futuro eleitoral de Lula em 2026 no Norte do país.

Ao longo dos últimos meses, a ministra adotou um discurso dúbio: diz não ser contra a BR-319 por princípio, mas exige “salvaguardas robustas”, estudos estratégicos e compromissos com a sustentabilidade. Na prática, isso significa procrastinar com verniz técnico, travar com elegância, empurrar com a barriga em nome de um “equilíbrio” que só beneficia a inércia.

A verdade é que Marina quer manter a narrativa de defensora da Amazônia perante a comunidade internacional — que serve de vitrine para o governo Lula no exterior — enquanto o Planalto se esforça para não perder votos no Amazonas, onde a paciência com a paralisia da BR-319 está se esgotando. É uma coreografia ensaiada, não uma política de Estado.

A avaliação ambiental estratégica exigida pode levar anos, e qualquer ponto mal alinhado vira munição para judicializações infindas. Até lá, Marina ganha tempo e Lula foge do desgaste. Se os estudos forem negativos, o governo diz que está apenas “respeitando a ciência”. Se forem positivos, aparecem exigências impossíveis: “só pode asfaltar se zerar o desmatamento antes” — e o ciclo da enrolação recomeça.

A BR-319 virou moeda eleitoral. Se Lula precisar conquistar o Amazonas em 2026, anuncia a liberação de um trecho “não tão crítico”, com toda a pompa e discurso verde. Se o custo ambientalista for alto demais, recua dizendo que “os estudos ainda estão sendo avaliados”. No fim, Marina vira “guardiã da floresta” e Lula, o “homem do equilíbrio entre o progresso e a natureza”. Tudo bem colorido.

No mais, o Amazonas continua isolado, a logística absurda, o sofrimento de quem vive na região cresce. Mas o que vale é manter o jogo político em movimento. Marina não quer ser a ministra que “liberou a boiada”, mas também não pode ser a algoz do Norte. O resultado é uma dança cínica, em que todos fingem agir com responsabilidade enquanto o povo continua à margem.

A leitura é clara: a BR-319 não é prioridade de governo. É peça estratégica para chantagem eleitoral e composição de narrativa internacional. O que deveria ser enfrentado com coragem e soluções concretas virou teatro de conveniências, onde ninguém se compromete de verdade com o desenvolvimento sustentável da Amazônia.

Até 2026, o que veremos será o de sempre: reuniões, promessas vagas, pequenos anúncios simbólicos, falas tecnocráticas e nenhuma decisão firme. O futuro da BR-319 será decidido não por critérios técnicos, mas pelo cálculo eleitoral do PT.

Juscelino Taketomi¹.

¹Articulista do Portal Em Tempo, Juscelino Taketomi, é Jornalista. Há 28 anos é servidor da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam)

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