“Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino; dá-nos, a cada dia, o pão cotidiano, e perdoai-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todo aquele que nos deve; e não nos deixeis cair em tentação” (Lc 11,1-13).
“Dizei: Pai”! É a oração que se tornou a oração dos discípulos, de todos os seguidores e seguidoras de Jesus, a oração da Igreja. Nela acontece a relação com Deus, nosso Pai, ou como dizia Clemente de Alexandria, mais a uma mãe. É o diálogo de um filho, de uma filha com o Pai.
Ao dizer Pai em aramaico, Jesus diz Abba, isto é, papai. Santo Agostinho dizia: quanta graça encera essa primeira palavra. Nela ressoa a gratuidade e a graciosidade da benevolência de Deus, o Criador, o Gerador, Cuidador, Servidor dos homens, filhas e filhos. Em virtude da graça de Cristo, passamos de servos a filhos, recebendo Dele o espírito da filiação, o Espírito Santo, que nos permite poder clamar a Deus, invocando-o assim: “Abba!”, “Pai!”, “Paizinho!” “Papa!”
O Pai é criador, doador do ser a tudo o que é ou existe. O Pai é redentor e salvador, enviando o Filho e acolhendo, no amor, ao seu sacrifício, que, pela sua cruz, redimiu e salvou. O Pai é Deus de toda a consolação. Consolador é Ele, tanto quanto consolador é o Filho, e também o Espírito Santo. São Francisco ensinava a invocar o Pai, desde a obra da criação, desde a obra da redenção e salvação, e desde a obra da santificação. O Pai do céu é origem essencial do nosso ser (cf. Fernandes, M.A., Fassini, D., Comentário ao Evangelho).
Sentir-se “filho”, “filha”, de Deus que é “Pai”, significa e implica reconhecer a fraternidade, a familiaridade, ancestralidade que liga a uma imensidão de irmãs e de irmãos. Dizer a Deus “Pai” implica sair do individualismo que aliena, superar as divisões e destruir as barreiras que impedem de amar e de ser solidários com os mais necessitados, pois todos filhos do mesmo “Pai”. Um convite a assumir, na relação e no diálogo com Deus, a mesma atitude de Jesus: a atitude de uma criança que, com simplicidade, se entrega confiadamente nas mãos do pai, acolhe naturalmente a sua ternura e o seu amor e aceita a proposta de intimidade e de comunhão que essa relação pai/filho, pai/filha implica. É um convite para assumir a comunhão de vida, que nasce do cuidado e do amor do “Pai”.
Assim, Digam Pai, é o início da oração, mas o início de toda a oração. É quase um pedido, uma súplica, uma exortação, uma “acordação” para uma relação mais sublime, mais nobre e terna. É como se dissesse: não digam juiz, ele é aquele que julga; não digam senhor, aquele que domina, que está distante das necessidades e aflições. Em todos os momentos e situações exclamar: Pai nosso. Pai de todos, as mulheres e os homens; Pai de todas as criaturas, pois cuida e vela, matricia a cada uma das suas criaturas.
Em todos os instantes, momentos, todos os dias, todos os anos, sempre e sempre de novo: Pai! Nas aflições, nas alegrias, nas desesperanças, nos desencantos, nos encantamentos, nos amores e desamores: Pai. Sempre e sempre de novo: Pai! Pai nosso, santificado seja o teu nome! Santificados no teu nome, no teu amor. Amém.

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