A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de sancionar o ministro Alexandre de Moraes e impor tarifas contra o Brasil, sob a justificativa de perseguição política a Jair Bolsonaro, revela algo muito mais grave do que uma mera disputa ideológica: abre um perigoso precedente de ingerência de uma superpotência nos assuntos internos de uma democracia soberana.

Conforme destacou a revista britânica The Economist, esse gesto configura um “ataque sem precedentes” ao Judiciário de um país em funcionamento democrático.

Francamente, é inédito e alarmante que um juiz de Suprema Corte, no exercício legítimo de suas funções constitucionais, seja alvo de sanções econômicas e diplomáticas por outro país, simplesmente por conduzir um processo judicial baseado em leis nacionais e provas documentadas.

O episódio deve acender um alerta global: se o Brasil, com todas as suas instituições funcionando, pode sofrer esse tipo de retaliação de uma potência estrangeira, o que poderá ocorrer com países menos estruturados institucionalmente?

Ao transformar sanções — que antes se limitavam a ditadores, genocidas e regimes totalitários — em instrumentos de pressão sobre autoridades judiciais de países democráticos, Trump sinaliza uma nova era de tensão internacional, marcada por ameaças à soberania nacional.

Pior: o gesto pode ser replicado por outros líderes populistas ao redor do mundo. A justificativa usada por Trump — de que Moraes cometeu abusos de poder — é frágil e desconsidera o arcabouço jurídico brasileiro, no qual as ações do ministro estão inseridas.

O Brasil possui uma Constituição sólida, e o STF é um dos pilares institucionais mais respeitados do país, responsável justamente por conter os excessos de quem tentou sabotar a democracia.

Ao comparar Moraes a violadores de direitos humanos — como generais golpistas de Mianmar e assassinos do regime de Putin —, Trump rebaixa o debate político e tenta reescrever a realidade dos fatos com base em interesses eleitorais e ideológicos.

A The Economist é clara ao afirmar que a perseguição judicial a Bolsonaro se fundamenta em evidências concretas de tentativa de golpe, plano de assassinato de autoridades e vandalismo institucionalizado, e não em motivações partidárias.

É nesse ponto que mora o risco sistêmico. Se sanções como essa passarem a ser toleradas pela comunidade internacional, abriremos espaço para que superpotências utilizem sua força econômica e militar para intervir, chantagear e desestabilizar democracias legítimas ao redor do globo.

A democracia, que já enfrenta uma crise de confiança em muitos países, pode ser empurrada para o abismo por atos unilaterais travestidos de “defesa da liberdade”.

Além disso, o uso distorcido de legislações como a Lei Magnitsky, criada para punir criminosos de guerra e violadores dos direitos humanos, pode descredibilizar mecanismos sérios de responsabilização internacional. Quando tudo vira guerra ideológica, a justiça internacional vira instrumento de vingança política — e isso é perigosíssimo.

O Brasil precisa reagir com firmeza diplomática e política, não só em defesa de Moraes, mas em defesa do princípio maior que rege o mundo desde o fim da Segunda Guerra Mundial: o respeito à soberania nacional.

Se a moda pega, amanhã será outro país — talvez mais frágil, mais isolado, menos preparado — a sofrer sanções por julgar um político inconveniente ao gosto de Washington, Moscou ou Pequim.

Mais do que nunca, é hora das democracias se unirem contra a escalada de intervenções que visam moldar o mundo ao capricho de líderes autoritários. Porque o que está em jogo vai além da política brasileira: é o próprio conceito de soberania, autodeterminação e respeito entre nações que está sendo posto em risco.

Juscelino Taketomi¹.

¹Articulista do Portal Em Tempo, Juscelino Taketomi, é Jornalista. Há 28 anos é servidor da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam)

Leia mais: O Irã e a questão da bomba nuclear