Manaus (AM) – O vereador de Manaus Rodrigo Guedes (PP) classificou a atual legislatura da Assembleia Legislativa do estado do Amazonas (Aleam) como “a pior da história” e defendeu uma ampla renovação no parlamento estadual nas eleições de 2026. Em entrevista ao Com a Palavra, do caderno de Política do jornal Em Tempo, Guedes afirmou que pretende disputar uma vaga de deputado estadual e manter seu perfil crítico e fiscalizador.

Segundo ele, a Aleam é hoje um “grande desperdício de dinheiro público” por atuar de forma subserviente ao governo do Estado.

Conhecido por suas posições firmes e confrontos com colegas de parlamento, Guedes não poupou críticas durante a entrevista. Ele disse ter sido sabotado em 2022 por partidos que queriam barrar sua entrada na Assembleia, por temerem seu estilo fiscalizador. Ao comentar as críticas que recebe da base governista, disparou: “Não fui eleito para ser convidado para pelada de fim de ano ou jantar de confraternização, fui eleito para escancarar os bastidores da política”.

Confira a entrevista completa com o parlamentar:

(Foto: Divulgação)

Em Tempo – O senhor está no segundo mandato como vereador e tem se posicionado de forma crítica à atual gestão municipal. Qual é o saldo que faz dessa atuação de oposição até aqui?

Rodrigo Guedes – Eu não me considero de oposição, eu me considero uma pessoa que cobra, que fala de forma independente as questões da população, cobra os direitos, traz as denúncias, fiscaliza e eu entendo que eu cumpro a minha função, a função verdadeira de vereador. Longe de mim ser contra alguém especificamente, eu não sou apoiador político do David Almeida (prefeito de Manaus), mas não sou contra a gestão por si só, apenas reservar o direito de cobrar, de denunciar o que está errado, questões graves, suspeitas e também estender a voz da população nos pleitos mais importantes da população.

Em Tempo – O nome do senhor é citado como um possível pré-candidato a deputado estadual em 2026. Essa pré-candidatura já está definida?

Rodrigo Guedes – Eu tenho muita chance de ser candidato a deputado estadual, Essa possibilidade é bastante real e eu não vejo outro caminho. Em 2022 eu fui, entre aspas, forçado a ser candidato a deputado federal porque não me deram legenda para ser candidato a deputado estadual, me sabotaram. Porque não me queriam, na verdade, era isso, era isso na Assembleia Legislativa porque eu cobraria coisas lá que hoje eu não vejo ninguém cobrindo.

Em Tempo: Se for eleito deputado estadual, pretende manter o mesmo tom crítico em relação ao Executivo estadual? A oposição continuará sendo uma marca da sua atuação parlamentar?

Rodrigo Guedes – Eu não tenho a menor dúvida de que eu tenho que manter e vou manter as cobranças, as denúncias, o tom realmente questionador, fiscalizador, até porque isso é uma característica bem própria do meu mandato, do nosso mandato. Então eu vou manter, sim, vou manter porque a função parlamentar é ser fiscal e ser independente, não votar de acordo com os interesses do governo, mas de acordo com os interesses da população.

Em Tempo – Quais bandeiras ou temas centrais o senhor pretende levar para a campanha de 2026, caso confirme a candidatura?

Rodrigo Guedes – Primeiramente, a questão da saúde pública, ela precisa melhorar. Aqui eu não tô julgando ninguém pessoalmente, mas tá caótica a saúde do Amazonas e precisa melhorar. A gente não pode continuar desse jeito, então a saúde, a questão da segurança ainda é um ponto muito grave e a gente precisa de geração de renda. A gente precisa de políticas de geração de renda do nosso Estado. E aí também uma questão que é muito própria a minha, ao meu mandato, ao nosso mandato, é a questão de fiscalização do próprio parlamento. É combate aos privilégios, às regalias, a vida boa dos políticos e isso a gente vai fazer também se for da vontade do povo, se eu estiver na Assembleia Legislativa. E hoje eu não vejo ninguém fazendo isso lá.

Em Tempo – Como avalia a receptividade do eleitor manauara ao discurso de oposição, especialmente diante de uma base aliada tão forte dentro da Câmara Municipal?

Rodrigo Guedes – Eu cumpri o meu compromisso mais importante de ser independente e de não ser subserviente ao Executivo. O resto são coisas que não dependem exatamente de mim para acontecer, né? Eu não tenho como colocar como vereador um compromisso dizendo que eu vou fazer com certeza no que diz respeito para políticas públicas, porque depende dos outros vereadores aprovarem. Mas eu acho que a própria fiscalização que a gente já faz, eu acho que já é um compromisso cumprido mais importante. E no mais, também eu havia falado que eu ia fiscalizar os próprios vereadores e isso foi bastante notório, a meu ver, também, falo sem nenhum tipo de soberba. No mais, eu tenho muita. A causas ambientais, a causas de pessoas com deficiência. A gente criou a Comissão de Defesa da Pessoa com Deficiência, isso foi bem importante. Eu tenho trazido a discussão ambiental sem viés ideológico, mas como um viés de uma causa suprapartidária, uma causa que não deve nem ser ideológico, mas de própria sobrevivência da espécie humana e do nosso planeta mesmo.

Em Tempo – Quais promessas ou compromissos de campanha o senhor considera que conseguiu cumprir até agora como vereador? Há alguma pauta que ainda gostaria de tirar do papel?

Rodrigo Guedes – Eu acho que o principal problema é que a atual gestão, ela simplesmente repetiu as velhas fórmulas, por isso que não alcançou resultado na saúde, na educação, na mobilidade urbana. E quando eu falo resultado, não adianta pegar um número e dizer que Manaus é tal lugar. Eu estou dizendo de resultado realmente transformador, que marque. Então, a gente tem ainda problemas, os grandes problemas crônicos de Manaus, desde mobilidade urbana à infraestrutura, a desorganização da cidade, eles persistem e quando a gente não começar a combater os problemas na raiz, a gente não vai melhorar enquanto cidade. Então eu acho que a falta de gestão e de inovação na gestão tem gerado ali, feito com que os problemas. Apenas sejam tratados de forma superficial não de forma estrutural. Então, eu não acho que tem só um grande problema, mas se fosse para elencar um eu colocaria, na verdade, dois. A questão da infraestrutura e a questão da mobilidade urbana porque está cada vez mais caótica na nossa cidade a mobilidade urbana, e essas para mim são mais emergenciais. Agora tem a questão ambiental, tem a questão da saúde pública, eu acho que pouco a gente fala, mas, a própria desorganização da cidade gera outros tantos problemas. Então, esses também são problemas, questões prioritárias, mas se fosse para enumerar, eu colocaria a questão da infraestrutura e da mobilidade urbana.

Em Tempo – Nos bastidores, comenta-se que o senhor é alvo constante de críticas e até ataques da base governista. Como lida com esse ambiente político mais hostil dentro da Câmara?

Rodrigo Guedes – Eu não lido, eu não me importo com as críticas da base governista nem de outros vereadores que também não são da base. Eu não fui lá para fazer amigo, eu não fui lá para fazer inimigo também, lógico, mas sem sombra de dúvidas eu não fui lá para ser queridinho e nem ser convidado para o jantar de final de ano, para a pelada do final do ano. Eu fui lá para fazer o meu papel, meu trabalho, fazer um papel realmente de questionar, de escancarar as coisas que acontecem na política, aqueles acordos que ninguém sabia de votação de aumento de salário, de cotão, de benefícios, de regalias que ficava tudo ali às escondidas sendo voltado na surdina, no apagar das luzes, a gente trouxe luz para isso e muitas coisas conseguimos derrubar, outras não, mas pelo menos demos visibilidade para que as pessoas entendam e saibam do que acontece no parlamento. Coisa que antes não acontecia, tinha até a oposição à prefeitura, ao gestor municipal, mas lá dentro todo mundo meio que se ajudava para aumentar os seus benefícios, regalias, mordomias, seus privilégios.

Em Tempo – Em sua visão, qual o maior desafio hoje da cidade de Manaus que não tem sido enfrentado pela atual gestão?

Rodrigo Guedes –Eu acho que o principal problema é que a atual gestão, ela simplesmente repetiu as velhas fórmulas, por isso que não alcançou resultado na saúde, na educação, na mobilidade urbana. E quando eu falo resultado, não adianta pegar um número e dizer que Manaus é tal lugar. Eu estou dizendo de resultado realmente transformador, que marque. Então, a gente tem ainda problemas, os grandes problemas crônicos de Manaus, desde mobilidade urbana à infraestrutura, a desorganização da cidade, eles persistem e quando a gente não começar a combater os problemas na raiz, a gente não vai melhorar enquanto cidade. Então eu acho que a falta de gestão e de inovação na gestão tem gerado ali, feito com que os problemas apenas sejam tratados de forma superficial, não de forma estrutural. A questão da infraestrutura e a questão da mobilidade urbana porque está cada vez mais caótica na nossa cidade, e essas, para mim, são mais emergenciais. Agora tem a questão ambiental, saúde pública, eu acho que pouco a gente fala, mas, a própria desorganização da cidade gera outros tantos problemas. Então, esses também são problemas, questões prioritárias, mas se fosse para enumerar, eu colocaria a questão da infraestrutura e da mobilidade urbana.

Alianças são necessárias

Em Tempo – O senhor pretende construir alianças políticas para 2026 ou seguirá uma candidatura mais independente, como já demonstrou em outras disputas?

Rodrigo Guedes – Na eleição a gente sempre tem alianças, porque você não tem como concorrer sem estar num grupo político. Um grupo político que faz a parte de uma candidatura, de uma aliança política. Até porque se você não tiver, você não tem partido ou você vai estar num partido que não vai eleger ninguém. Então, sim, eu vou estar em alguma aliança e muitas vezes não é nem aliança porque a gente tem tanta afinidade, mas, de repente, às vezes é que você tem menos pontos de divergência. Porque você não consegue estar fora de algum dos arcos que são colocados de candidaturas, das majoritárias, logicamente. Você sempre acaba ficando em algum dos arcos, porque o partido que você tiver. Vai estar dentro de algum arco de candidatura majoritária e inevitavelmente você tem que estar também, até por questão obrigatória, não é só vontade. O partido te obriga a fazer campanha para o candidato que esteja dentro daquele arco que o partido que fecha. Às vezes não é você, é o partido”.

Em Tempo – Como o senhor enxerga o cenário político para 2026 no Amazonas? Acredita que haverá espaço para renovação na Assembleia Legislativa?

Rodrigo Guedes – Eu espero que haja uma grande renovação na Assembleia Legislativa. Eu acho essa a pior legislatura de todas da história, a legislatura que ninguém sabe nem o que os deputados fazem, que apenas votam a favor de tudo que o governo quer e eu acho que infelizmente hoje a Assembleia é um grande desperdício de dinheiro público, então precisa renovar. Eu acho que a Câmara ainda é menos subserviente do que a Assembleia, pelo menos a Câmara tem mais vereadores que pelo menos cobram mais, falam mais, não ficam calados para os problemas por serem da base. Então eu espero realmente que o povo entenda que a responsabilidade de solução, de melhoria de vida. A população não cabe somente ao Executivo. Quando existe um problema na saúde, por exemplo, não é só culpa do Executivo, é o Legislativo que, na maioria das vezes, é omisso e se cala para aqueles problemas, porque se falasse, se cobrasse, 50, 60, até 70% dos problemas poderiam ser resolvidos, mas quando tá todo mundo calado, realmente a chance de resolver é muito menor.

Em Tempo – Em que medida a sua atuação como fiscalizador do Executivo pode ser usada como trunfo em uma campanha estadual?

Rodrigo Guedes – Sem sombra de dúvidas a questão do fiscalizador do Executivo vai ser a minha pauta, porque eu já faço isso eu já não preciso mais dizer que se eu ganhar eu vou fazer, lógico, eu tenho que falar em relação ao mandato de deputado estadual, mas eu já tenho mostrado que eu já faço isso. Eu falei isso antes da campanha de vereador, as pessoas muitas vezes não acreditavam, mas eu cumpri. Então eu acredito que tenho uma credibilidade para dizer que eu vou continuar fazendo assim.

Em Tempo -O senhor pretende adotar uma nova estratégia de comunicação para ampliar seu alcance fora da capital? Já há planos nesse sentido?

Rodrigo Guedes – Eu não tenho trabalhado na comunicação para fora de Manaus ainda, porque eu realmente estou muito voltado para o mandato de vereador. Não estou dizendo que eu não tenha planos e que eu não pense em eleição. Qualquer político que disser que não pensa ou não está pensando é mentiroso. Eu acho que a classe política tem que parar de mentir para a população. Eu agora não tenho realmente trabalhado uma estratégia, por enquanto, voltada para uma campanha de deputado ou para falar para a população do interior, ainda não.

Em Tempo -O que a população pode esperar do seu mandato em 2025, ano pré-eleitoral? O foco será manter a atuação fiscalizadora ou ampliar a visibilidade do seu nome no interior do estado?

Rodrigo Guedes – Eu vou focar no meu mandato, sim, de vereador. Eu tenho falado com pessoas do interior, tenho feito contatos, tenho feito pouquíssimas visitas. A tendência, é lógico, é aumentar, para você realmente ver as situações, conhecer um pouco mais. Isso também faz parte, você não pode fazer só na eleição, mas eu tenho trabalhado pouco com essa questão de uma comunicação que seja voltada para a questão do interior, por enquanto. Mas, logicamente, seria mentira se eu dissesse que isso também não vai entrar ali no meu radar. Com certeza tem que entrar, até porque quando você disputa uma eleição, ainda que você eventualmente, nem estou dizendo que seja esse o caso, tenha voto para se eleger só na capital, por exemplo, você vai representar todo o Estado. Então, você tem que falar também o que você pretende fazer para a população do interior. Então, é lógico que eu vou abordar temas que dizem respeito especificamente ao interior do Amazonas, também que precisa muito desse olhar, que não se restringe a assistencialismo. Mas que a gente possa falar de desenvolvimento para o interior, com base nas nossas potencialidades econômicas, que vão desde do setor primário ao turismo, ao comércio, à biotecnologia, também às nossas potencialidades minerais. Então, a gente precisa fazer uma discussão para o interior do Estado do Amazonas um pouco maior do que eu vejo que está sendo feita hoje. Eu vou dizer que não tem pessoas que não se interessam, mas eu acho que tem feito uma fórmula muito mais do mesmo, por isso que o interior tem saído pouco ali do próprio lugar, digamos assim, no sentido de desenvolvimento econômico e, posteriormente, consequentemente social. Então, precisa de um olhar diferente também para o interior, que faça com que o interior se desenvolva e não fique ali dependendo sempre da capital.

Fiscalização, críticas e confronto

Rodrigo Guedes tem construído sua trajetória política com base no enfrentamento direto ao que chama de “velhas práticas” dentro do Parlamento municipal. Com forte presença nas redes sociais, ele se consolidou como uma das vozes mais críticas da CMM, especialmente em pautas ligadas à fiscalização dos gastos públicos, meio ambiente e defesa das pessoas com deficiência.

Embora ainda não figure entre os nomes mais citados nas pesquisas eleitorais deste ano, o vereador aposta no seu perfil combativo para conquistar espaço na corrida por uma vaga na Assembleia Legislativa em 2026. Vale lembrar que uma das suas maiores atuações neste ano foi acionar a Justiça do Amazonas e derrubar o fim do uso de dinheiro no pagamento das tarifas de ônibus, apesar de perder o caso.

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