Manaus (AM) – O deputado federal Amom Mandel (Cidadania-AM) defendeu, em entrevista ao Com a Palavra, do portal Em Tempo, que aumentar o número de cadeiras na Câmara federal não é a solução para a sub-representação do Amazonas — e que o problema está na qualidade do trabalho parlamentar, não na quantidade de políticos.
Na conversa, ele também criticou o modelo de trabalho 6×1, cobrou responsabilidade ambiental na BR-319 e se posicionou contra a anistia total aos envolvidos no 8 de janeiro. Com discurso de independência política e críticas à velha forma de fazer política, o parlamentar falou sobre o relacionamento com a bancada amazonense, projetos para inclusão, infraestrutura e gestão pública, além de reforçar que eficiência e transparência precisam substituir “estruturas inchadas e discursos vazios”.
Leia na íntegra a entrevista com o deputado federal
ET: O senhor votou contra o aumento no número de deputados federais e propôs reduzir parlamentares na Aleam. Isso não enfraquece a representatividade? Qual o limite do enxugamento da máquina pública?
Amom Mandel – Nós precisamos de uma redistribuição das cadeiras de deputados federais de um estado para outro. O Amazonas, por exemplo, é um dos estados sub representados, mas de forma alguma seria necessário aumentar a quantidade total de deputados. A representatividade não está no número de cadeiras, mas na qualidade da atuação. A máquina pública precisa ser eficiente, enxuta e focada em resultados. Não dá mais para manter estruturas inchadas enquanto o povo sofre com serviços precários. É preciso coragem para repensar modelos ultrapassados.
ET: Como vice-presidente da Comissão de Defesa da Pessoa com Deficiência, o que o senhor considera mais urgente para garantir acessibilidade e inclusão nas universidades públicas do país?
Amom Mandel – O mais urgente é parar de tratar acessibilidade como favor. A universidade pública é pública. Se ela não inclui, ela está falhando. A gente precisa começar do básico: rampa não é acessibilidade. Legenda em vídeo não é acessibilidade. Isso é o mínimo. O que falta são intérpretes de Libras suficientes, adaptação de conteúdos para pessoas com deficiência intelectual, tecnologia assistiva para cegos e surdos, e capacitação dos próprios professores. É necessário ouvir as pessoas com deficiência! Não adianta fazer conselho universitário sobre inclusão e deixar quem vive a exclusão do lado de fora da sala.
BR-319 em questão
ET: O senhor enfrentou críticas de ambientalistas e defensores da BR-319 após afirmar que a rodovia não tem passagens de fauna. Diante da controvérsia, o que defende hoje para o futuro da estrada?
Amom Mandel – A fala foi retirada de contexto. O que afirmei durante a entrevista está alinhado com o relatório técnico elaborado pelo Grupo de Trabalho da BR-319, que recomenda a construção de 172 passagens de fauna ao longo da rodovia, uma a cada 2,5 km. O que observamos durante o trajeto é que essas passagens sequer existem em grande parte do percurso. Não se trata apenas de melhorar o que já existe, mas de construir estruturas que garantam uma mínima sustentabilidade para a rodovia. Nunca fui contra a BR-319. Pelo contrário, acredito na viabilidade da pavimentação com responsabilidade ambiental. O que precisamos é superar o discurso raso e buscar soluções concretas.
ET: Como se pode conciliar desenvolvimento da infraestrutura no Amazonas com preservação ambiental e respeito às comunidades tradicionais?
Amom Mandel – Dá pra fazer infraestrutura sem devastar floresta. A gente precisa parar de tratar as comunidades tradicionais como se fossem obstáculos ao progresso, quando na verdade elas são parte da solução. Se você quer abrir uma estrada, ela precisa vir com um plano de proteção de fauna, compensação ambiental, consulta prévia com indígenas e ribeirinhos e, principalmente, um projeto de impacto que seja transparente e público. Não dá mais pra fingir que o asfaltamento de uma vicinal é neutro. A tecnologia já permite que a gente planeje infraestrutura com base em dados climáticos, mapas de carbono e respeito à biodiversidade. Mas o problema não é técnico. É político. A maior obra que o Brasil precisa fazer é de mentalidade.
Eleições 2026 e lições
ET: O senhor vai disputar a reeleição em 2026? Quais propostas pretende defender como prioridade na próxima campanha?
Amom Mandel – Tenho percorrido o Amazonas e recebido muitos retornos positivos sobre o nosso mandato. Meu foco agora é concluir esse ciclo com responsabilidade, coerência e entrega, como prometi em 2022. Ainda é cedo para tratar de reeleição. O momento é de trabalho. Na hora certa, vamos avaliar os próximos passos.
ET: Desde o início do ano, o senhor apresentou alguns requerimentos sobre áreas de risco em Manaus. As respostas do governo federal e estadual têm sido efetivas? O que falta para evitar novos desastres como o do bairro Educandos ou deslizamentos de terra?
Amom Mandel – Não, as respostas não têm sido efetivas. Eu não fui eleito pra ouvir “estamos avaliando”. O povo de Manaus já sabe onde os deslizamentos vão acontecer, todo mundo sabe. A Defesa Civil sabe. O governo estadual sabe. O governo federal sabe. E mesmo assim, nada é feito a tempo. O que falta é gestão. Falta mapa atualizado de risco, falta monitoramento em tempo real, falta plano de evacuação e sobra descaso. Apresentei requerimentos exigindo atualização dos dados geotécnicos da cidade e priorização de verba para reurbanização de encostas e continuo cobrando. Desastre natural é uma coisa. Descaso institucional é outra.
ET: O senhor ficou em terceiro lugar na disputa pela prefeitura de Manaus. Que lições tirou da campanha? Pretende disputar novamente o Executivo?
Amom Mandel – A política é feita de ciclos e aprendizados. A campanha de 2024 me aproximou ainda mais da população. Foi uma experiência transformadora. Cresci, amadureci e confirmei que Manaus quer mudança real. Se disputarei o Executivo novamente? O futuro a Deus pertence, mas o compromisso com a cidade permanece firme.
ET: O edital de emendas parlamentares foi alvo de críticas por suposta finalidade eleitoral. O senhor manteve o projeto em 2025. Como garante que ele não é usado como moeda política?
Amom Mandel – O edital de emendas é uma ferramenta transparente, democrática e inédita no Amazonas. Criamos um modelo onde os recursos públicos são distribuídos com critérios e sem favorecimentos. Incomodar quem está acostumado com o jogo antigo faz parte do processo de mudança. Estamos construindo uma nova forma de fazer política.
Votações e posicionamentos
ET: Qual sua posição sobre a ‘escala 6×1’ na indústria? Ela precariza ou moderniza o trabalho?
Amom Mandel – Depende de quem tá perguntando. Para quem está na sala com ar-condicionado desenhando o cronograma, é “modernização”. Para quem tá no chão da fábrica virando noite sem ver a família, é precarização. O modelo 6×1 pode até funcionar tecnicamente, mas do jeito que é aplicado no Brasil, geralmente vira desculpa para esticar jornadas e cortar direitos. E isso é inaceitável. Eu defendo uma política industrial que olhe para produtividade com dignidade, que escute os trabalhadores, não só os CEOs. A gente tem que parar de aceitar que “crescimento” vem com burnout. A modernização precisa começar com respeito ao trabalhador.
ET: O senhor se posicionou contra a anistia total aos envolvidos no 8 de janeiro. Como analisa a atuação do Congresso nesse tema?
Amom Mandel – Sou a favor de revisões individuais e não julgamentos coletivos. Não podemos ignorar que muita gente foi massa de manobra e acabou preso como golpista, inclusive idosos, autistas, pessoas com doenças graves que podem ter sido presas sem oferecer risco real à ordem pública. Não sou a favor de atropelar a Constituição como forma de resposta ao atropelo da Constituição que o Supremo tem feito. A democracia se fortalece com responsabilidade. Destruir patrimônio público, vandalismo, quebra-quebra não é a solução. Quem atenta contra o Estado de Direito deve responder por seus atos. O Congresso precisa ser firme nesse posicionamento.
ET: O senhor votou pela derrubada do veto no Marco da Energia Offshore. Por quê, mesmo com risco de encarecimento da conta de luz?
Amom Mandel – Votei com responsabilidade e visão de futuro. O Marco da Energia Offshore é essencial para atrair investimentos e garantir segurança jurídica ao setor. O Brasil precisa diversificar suas matrizes energéticas e pensar no médio e longo prazo. A transição energética exige coragem.
‘Mandato independente’
ET: O senhor afirma ter independência de grupos como Omar Aziz, Eduardo Braga e Wilson Lima. Isso não o isola politicamente?
Amom Mandel – A independência política é uma escolha consciente. Respeito todos os atores do nosso estado, mas não faço parte de acordos que silenciam ou travam pautas importantes. Tenho construído pontes com quem quer trabalhar, sem barganhas. Quem faz política com seriedade não fica isolado. O povo reconhece.
ET: Existe espaço real para renovação na bancada federal em 2026 ou as forças tradicionais ainda dominam o cenário?
Amom Mandel – O eleitor é o protagonista. A renovação acontece quando a sociedade exige e o voto confirma. Ainda é cedo para prever cenários, mas acredito que a política está mudando. O povo quer resultado, quer verdade, quer compromisso. E esse movimento não tem volta.
ET: Como o senhor descreveria sua relação com os demais parlamentares do Amazonas? Há articulação e unidade em pautas regionais?
Amom Mandel – Existem diferenças, sim, mas sempre que a pauta é o interesse do Amazonas, eu estou presente. O diálogo é necessário, mesmo com visões distintas. Acredito na construção coletiva e na articulação em torno de temas que impactam nossa população.
ET: O senhor foi apontado como o deputado mais produtivo do Amazonas e o segundo do país em 2025, segundo o Congresso em Foco. A que atribui esse desempenho? O que mais ainda precisa ser feito?
Amom Mandel – Esse resultado vem da escuta ativa e da participação direta da população no mandato. Cada sugestão que chega é analisada com responsabilidade. Muitas viram projetos de lei. A produtividade é consequência de um mandato aberto, presente nas comissões e conectado com a realidade das pessoas.
ET: O senhor aparece entre os mais lembrados para a Câmara Federal, mas 86% dos eleitores ainda estão indecisos. Isso revela uma desconexão entre bancada e população?
Amom Mandel – Mostra que a política precisa se reinventar o tempo todo. Nosso mandato é participativo e tenta preencher essa lacuna. Falta presença, falta escuta, faltam projetos que realmente dialoguem com a vida das pessoas. Estamos fazendo isso e os números mostram que estamos no caminho certo.
Considerações finais
Amom Mandel – Seguimos com o compromisso de fazer política com verdade, transparência e resultados. O Amazonas precisa de pontes, não muros. Agradeço o espaço e reforço que o nosso mandato está sempre aberto à população. Meu gabinete está sempre aberto.
Leia mais:
Governo Federal trava pavimentação da BR-319 por entraves ambientais, diz Amom Mandel
