Na medicina, e especialmente na urologia, aprendemos que nem tudo é o que parece. Às vezes, um pequeno detalhe, quase imperceptível, pode mudar completamente o destino de um órgão, ou até mesmo da vida de uma pessoa. E poucas coisas ilustram isso tão bem quanto os cálculos renais, popularmente conhecidos como “pedras nos rins”.

Estima-se que cerca de 20% das pessoas terão pelo menos um episódio de cálculo renal ao longo da vida. E pior: em até metade dos casos, o problema volta a ocorrer dentro de alguns anos, exigindo atenção redobrada dos pacientes e dos profissionais de saúde.

O que muitos não sabem é que as pedras nem sempre causam dor. Em diversas situações, esses cálculos se desenvolvem de forma silenciosa, sem sintomas evidentes, e só são descobertos quando já causaram danos importantes. É justamente esse silêncio que representa um risco.

Um cálculo pode estar ali, aparentemente inofensivo, mas atrapalhando o funcionamento do rim, favorecendo infecções ou, em casos mais graves, levando à perda do órgão. Recentemente, atendi um jovem de 28 anos que havia procurado atendimento por um quadro de infecção urinária. Ele recebeu antibióticos, melhorou e foi orientado a buscar um urologista para avaliação complementar.

Quando chegou ao meu consultório, parecia tranquilo, sem queixas significativas. Solicitamos exames de imagem e o que encontramos foi surpreendente: uma única pedra, pequena, localizada no rim. Mas o problema não era o tamanho, e sim o local onde ela estava.

O cálculo estava obstruindo o fluxo de urina daquele rim, provocando dilatação e comprometimento progressivo da função renal. Era uma bomba-relógio silenciosa. Decidimos pela remoção cirúrgica imediata. Felizmente, conseguimos interromper a piora da função renal.

No entanto, parte do dano já estava feito, e o rim não voltou ao normal. Esse caso me marcou muito porque reforça uma lição que todo médico deveria lembrar e todo paciente deveria saber: o tamanho da pedra, por si só, não define o perigo que ela representa. Costumo dizer que pedras pequenas em locais críticos podem causar um estrago muito maior do que pedras grandes que não obstruem o fluxo urinário.

A localização, o impacto funcional e a presença ou não de sintomas são os verdadeiros indicadores de gravidade. E o mais perigoso, sem dúvida, é quando a doença se desenvolve em silêncio, sem alertas evidentes, passando despercebida até ser tarde demais.

Por isso, reforço sempre a importância do acompanhamento médico. Muitas vezes, um exame de rotina pode revelar algo que, se tratado a tempo, evita danos permanentes. Subestimar um cálculo por causa do seu tamanho pode custar caro. O rim é um órgão silencioso, mas essencial. E, infelizmente, quando ele perde função, raramente recupera completamente.

Meu papel como urologista vai além de tratar dores ou infecções. Estou aqui para ajudar a preservar funções vitais, orientar e agir antes que o dano se torne irreversível. O cuidado preventivo é o melhor caminho. Agir cedo faz toda a diferença e, muitas vezes, essa diferença é o que salva uma vida.

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