*Augusto Bernardo Cecílio

No coração da floresta, o 5 de setembro pulsa como um dia de afirmação: é o Dia da Amazônia, mas também a data em que o Amazonas deixou oficialmente de ser apenas uma capitania e alcançou o status de Província, graças à Lei nº 582, assinada por Dom Pedro II em 1850. Essa dupla celebração não poderia ser mais simbólica, pois ela entrelaça a valorização do bioma com o desenho político e institucional que moldou a região.

À época, a área era conhecida como Capitania de São José do Rio Negro, subordinada ao Grão-Pará, distante, extensa e pouco atendida. A separação, com a assinatura da lei imperial, representou uma conquista de autonomia administrativa, marco de emancipação regional. A partir dali, a nova Província do Amazonas passou a contar com governo próprio, Assembleia Legislativa e a capital estabelecida em Manaus, firmando suas bases para crescer cultural e economicamente.

Mas o dia 5 de setembro é mais do que um símbolo político. Também é chamado de Dia da Amazônia por despertar, em cada canto do bioma, um sentido de responsabilidade com a maior floresta tropical do planeta, patrimônio ecológico mundial que abrange nove países e resguarda recursos naturais vitais à vida. Nesse sentido, a data é um convite à reflexão: a autonomia conquistada há quase dois séculos precisa vir acompanhada de cuidado e preservação, numa terra onde o potencial se mescla à fragilidade ambiental.

Em Manaus, o feriado estadual é celebrado com brilho cívico e cultural. Escolas organizam desfiles, peças e atividades pedagógicas que lembram a histórica mudança política de 1850. Muitas vezes, desfilam estudantes ao som de hinos e entoam os nomes daqueles que transformaram um território em sede de protagonismo regional. Os órgãos públicos e bancos suspendem o funcionamento, como em um silêncio que reverencia a memória.

A história não se resume à burocracia imperial, ela vive também no papel pioneiro de figuras como João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha, primeiro presidente da Província do Amazonas, que assumiu o cargo em 1852 e implantou estruturas administrativas, educação e imprensa na então incipiente capital. Seu legado ecoa nos alicerces da identidade amazônica: cultura, autonomia e progresso inseridos em profunda singularidade.

Nesse 5 de setembro é um dia de olhar para onde estamos e para onde vamos. Uma data que cruza passado e futuro, autonomia política e responsabilidade ambiental. Celebrar o Dia da Amazônia e a elevação à Província é celebrar a força de um povo e a vastidão de um território que, longe de ser mera abstração, respira, vive e pede cuidado. É convite à memória e ao compromisso. Afinal, ter sido protagonista de sua própria história obriga o Amazonas a honrar seu legado com sabedoria e proteção, para que a autonomia conquistada continue ecoando em crescimento, preservação e identidade.

*Auditor fiscal e professor

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