Quem diria que o batom da sua avó, que provavelmente tinha mais chumbo que um cano de obra, evoluiria para um batom com ácido hialurônico e vitamina E? A maquiagem deixou de ser apenas vaidade superficial para se tornar um ritual de saúde, autoestima e até de sustentabilidade. Hoje, passamos corretivo que hidrata, base que trata acne e rímel que promete crescimento dos cílios — tudo isso enquanto a indústria tenta convencer a gente que “não é só maquiagem, é skincare com cor”.
Do chumbo ao ácido hialurônico
Durante décadas, os cosméticos carregaram nas costas (e na pele das consumidoras) metais pesados como chumbo, níquel e cádmio. Afinal, quem não gostaria de combinar uma sombra azul com uma dermatite de contato? A evolução tecnológica e a pressão regulatória botaram ordem no camarim: fórmulas mais seguras, testadas e livres desses vilões passaram a ser regra. Hoje, consumidor bem informado não aceita um “batom tóxico fashion”.
Fórmulas verdes: maquiagem sem culpa
O movimento clean beauty deu um sacode na indústria. Agora, ser vegano, cruelty-free e livre de parabenos deixou de ser diferencial para virar obrigação. O interessante é ver como a ciência e a natureza começaram a dançar juntas nessa passarela: ativos biotecnológicos são combinados com extratos naturais, e o resultado é maquiagem que não só cobre, mas também trata. E aqui entra a cereja do bolo amazônico: ativos regionais como açaí, buriti, castanha e até o famoso mulateiro podem ser incorporados em fórmulas globais. A bioeconomia da Amazônia não é só discurso sustentável, é futuro lucrativo e verde.
A onda kids: maquiagem para pequenos influencers
O crescimento da categoria “kids-safe” não é coincidência. Crianças estão cada vez mais expostas às câmeras, e o mercado percebeu uma brecha. Agora, existem batons dermatologicamente testados para crianças e blush que prometem “brilho natural da infância”. O problema? É preciso cuidado para não empurrar a adultização precoce disfarçada de fofura. Porque, convenhamos, nem todo rosto de 7 anos precisa de contorno Kardashian.
TikTok, o novo espelho da penteadeira
Se antes as tendências vinham das revistas de moda, hoje o algoritmo manda mais que qualquer editor-chefe. O TikTok dita o formato da sobrancelha, o gloss da vez e até o “jeito certo” de passar base. Em 15 segundos, um produto pode esgotar no mundo inteiro. Resultado: marcas já lançam maquiagens pensando em como elas vão performar no feed — porque não basta ser boa, tem que ser “viralizável”.
K-Beauty e o blush cushion
A Coreia do Sul já havia transformado skincare em religião, e agora faz o mesmo com maquiagem. O conceito é simples: leveza, tecnologia e naturalidade. O blush cushion e a base com acabamento glow já são mania mundial, copiadas e adaptadas em todos os continentes. E o que impressiona é como a K-Beauty une inovação com performance, conquistando o Ocidente que antes achava que maquiagem boa era reboco.
Beleza + saúde + tecnologia + likes
A maquiagem funcional deixou de ser tendência para virar exigência. O consumidor quer um combo completo: saúde da pele, sustentabilidade, performance e ainda likes garantidos no TikTok. No fim, não basta maquiar — tem que hidratar, tratar, proteger e, se possível, render engajamento.
E aqui fica a provocação: se a Amazônia é a farmácia do mundo, por que não também a penteadeira? Imagine uma linha global de maquiagens funcionais com pigmentos naturais amazônicos, hidratantes de buriti e antioxidantes de camu-camu. Sustentabilidade, inovação e beleza, tudo na mesma embalagem. Esse, sim, seria o verdadeiro “upgrade científico da maquiagem”.

(*) Natasha Mayer é Farmacêutica, formada pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), pós-graduada em Cosmetologia pela Faculdade Oswaldo Cruz – SP, em Saúde Estética pela Biocursos e em Gestão de Empresas pela Fundação Dom Cabral. Mestre em Engenharia de Produção pela UFAM, CEO da Pharmapele Manaus e presidente da Associação dos Jovens Empresários e Empreendedores do Amazonas (AJE-AM).
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