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Artigo de opinião

Da Bola Caramuri ao Vale do Silicio verde- Transformações possíveis para a ZFM e AM

Esta crônica de hoje tem como proposta, dar ênfase na sustentabilidade e principalmente para os Amazonenses

Mais uma Copa do Mundo FIFA está chegando e um novo panorama mundial se avizinha pós pandemia e em plena guerra na Europa.  A 22ª edição será realizada pela primeira vez no Golfo Pérsico, oriente médio, no menor país a sediar uma Copa, o Qatar. Com mudanças significativas, a começar pelas alterações nas datas, entre os dias 21 de novembro e 18 de dezembro de 2022, saindo do forte verão para o outono, um clima mais ameno para todos.

As alterações ratificam a importância que o esporte futebol alcança em todo o planeta, ou seja, o esporte futebol está inserido diretamente na cultura mundial, e na relação indissociável entre homem e meio ambiente. Se algum país pretende se candidatar a sediar uma Copa terá que se comprometer com projetos inovadores e sustentáveis.

No Brasil, teve como tema central a Copa Verde, o Comitê Organizador Local (COL) e FIFA, desenvolveram conjuntamente um conceito de “Estratégia de Sustentabilidade da Copa”, porém os resultados na Copa 2014, não alcançaram os objetivos proposto.

Manaus foi uma das sedes, nosso estádio um dos mais lindos, tem forma de um cesto trançado, um paneiro. Ele pode ter diferentes formas, tamanhos, utilidades, e carrega consigo este apelo pela consciência verde. Manter a floresta em pé é tarefa dificílima em tempos de escassez de recursos naturais.

Acredito que o estado do Amazonas, a Zona Franca de Manaus e a imensidão verde no horizonte, é prova suficiente que este modelo é um sucesso. Mas só isto não basta, precisamos com urgência tomar à frente, nos impor e definirmos como sociedade o que queremos!

Esta crônica de hoje tem como proposta, dar ênfase na sustentabilidade e principalmente para os Amazonenses, que tem 85% de seu modelo econômico alicerçado na Zona Franca de Manaus e quando ameaçado, causa enorme instabilidade socioeconômica.

Convidei para este jogo o pesquisador Doutor em doenças tropicais André Leturiondo – atuando na Fundação Hospitalar Alfredo da Matta. Agradeço a entrevista e de primeira, lanço minha bola imaginária Caramuri e pergunto:

Já fomos protagonistas nos áureos tempos da borracha, a primeira cidade a ter luz – A Pariz dos trópicos e percebo que ficamos preso ao passado. Você acredita que Manaus e o Amazonas estão estagnados socioeconomicamente?

O modelo da Zona Franca tem pouco mais de 50 anos e nas primeiras décadas houve um grande avanço socioeconômico de Manaus, com empregos abundantes e boa renda familiar. Com a instalação de grandes empresas industriais e benefícios fiscais, o estado teve grandes arrecadações que foram voltadas basicamente para a infraestrutura da cidade de Manaus, em detrimento do interior. Esse modelo é muito importante por movimentar a economia local e manter a floresta em pé, sem dúvida nenhuma. Porém, esse modelo está se exaurindo lentamente, fica cada vez mais difícil mantê-lo devido as rápidas mudanças tecnológicas e socias no Brasil e no Mundo, nas últimas duas décadas.

Somos uma sociedade com baixíssima preocupação verde?

Acredito que sim! E isso passa necessariamente pela educação nas escolas. Projetos de saneamento básico não foram priorizados e praticamente não existem na agenda da sociedade, principal prejudicada. Talvez, se os investimentos fossem melhores planejados e priorizados com mais eficiência em educação desde a criação da Zona Franca, teríamos uma sociedade voltada para entender a beleza da floresta amazônica, com o seu enorme potencial de pesquisa científica, tanto da sua flora quanto da fauna existente.  O amazonense não reconhece que ele vive em um dos Biomas mais importantes do planeta, e deveria se orgulhar disso!

André, por aqui tentamos lançar o nome da bola de 2014, e o Amazonas sugeriu “Caramuri”, nome indígena de uma fruta verde e amarela, que só pode ser colhida de quatro e quatro anos. A decepção foi grande, pois, se falava a época que seria a “Copa da Sustentabilidade, a Copa Verde”.  Você acredita que podemos manter a floresta em pé e sustentável?

Sem dúvida alguma – Mas tem que haver conscientização da sociedade como todo, precisamos que estejam em sintonia o legislativo, executivo, judiciário e sociedade civil organizada, além iniciativa privada com esse viés da sustentabilidade. Devemos escolher nossos representantes sempre por essa ótica, com projetos de preservação da floresta e sua exploração científica, econômica e turística. Devemos ficar vigilantes com a temática verde e o desenvolvimento do Amazonas.

Em nosso primeiro contato você usou um termo que me chamou a atenção, uma analogia – “O Amazonas poderia ser o novo vale do silício verde”, o que seria isto?

É uma oportunidade única de mudar a matriz econômica do Amazonas. A floresta em pé não só ajuda no equilíbrio do clima em várias regiões do Brasil e do planeta, mas também pode ser explorada cientificamente. O “Vale do Silício Verde” seria um termo comparativo com o Vale do Silício, na Califórnia, Estados Unidos. Lá foi criado um grande polo tecnológico, com grandes empresas de alta tecnologia. Porque não criar algo semelhante por aqui? A sociedade deve sair do comodismo, cobrar de seus representantes projetos políticos ousados e com incentivos. Ressuscitar o CBA (Centro de Biotecnologia da Amazônia) é fundamental. Atrair novos PhDs do Brasil e exterior, agregando saberes com os heróis pesquisadores do INPA e UFAM. Incentivar a implantação de fábricas de biotecnologia para os produtos farmacológicos descobertos, é possível.

A criação de polos itinerantes de estudos científicos em diferentes cidades do interior do Amazonas. O melhoramento genético de peixes da região, o turismo ecológico e tantos outros projetos, são fontes econômicas que precisam ser implementadas a fim de diversificar nossa matriz econômica.

Seria uma verdadeira revolução, desmitificando de uma vez por todas, que Homem e natureza podem e devem andar de mãos dadas. Criaríamos novas fontes econômicas, uma transição entre a ‘ZFM e o Vale do Silício Verde”. Seria uma utopia para seguirmos em frente, em novo e sustentável modelo econômico?

É factível desde que se tenha vontade política!! Jamais a sociedade amazonense teria que ficar de costas para o seu potencial: A exploração científica, econômica e turística da floresta amazônica – Cada região do país tem o seu potencial econômico, não adianta sair da nossa característica, ou seja, derrubar a floresta para a agricultura ou a pecuária, deixando de explorar o maior potencial farmacológico do planeta. A Petrobrás, por exemplo, explora petróleo na província petrolífera do Urucu, próxima de Coari, há mais de trinta anos, de forma sustentável. Porque os minerais mais importantes não podem ser explorados dessa maneira?

Agradeço a você André e espero que nossa semente plantada, nos renda bons frutos. Suas considerações Finais.

O Amazonense tem que voltar a sentir orgulho da terra! Valorizar nossa herança ancestral, a cultural local, a gastronomia, o turismo ecológico, a exploração científica e econômica da floresta. Temos que respeitar os povos indígenas que habitam nesses locais. E dizer não a exploração absurda, desenfreada e altamente poluidora de nossa biodiversidade amazônica.

Por fim, espero que consigamos manter a esperança, porém, precisamos com urgência que cada amazonense pinte seu rosto e invoque o espirito guerreiro de Ajuricaba a proclamar a nossa independência. Não é justo pisotear a maior e mais rica biodiversidade do planeta e ter um dos piores índices do IDH do Brasil.

O Amazonas ainda é verde!

*Ricardo Onety

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