Por Flávio Antunes – urologista
Sou urologista há muitos anos, e se tem algo que aprendi na prática diária é que tudo no nosso corpo está conectado. Uma das associações mais claras, e infelizmente ainda pouco faladas, é entre a síndrome metabólica e o surgimento de doenças da próstata, como a hiperplasia prostática benigna (HPB) e até mesmo o câncer de próstata.
A síndrome metabólica é um conjunto de fatores: obesidade abdominal, colesterol e triglicerídeos altos, glicemia elevada e hipertensão. Ter pelo menos três desses já é o suficiente para caracterizá-la. Ela é amplamente conhecida como fator de risco para infarto e AVC, mas o que muitos não sabem é que também aumenta o risco de doenças prostáticas.
Essa relação tem uma explicação: esses pacientes vivem em um estado de inflamação crônica, silenciosa, mas persistente. O corpo “inflamado” se torna mais vulnerável a alterações celulares que favorecem o crescimento prostático anormal e, em alguns casos, até o desenvolvimento de câncer.
Quero compartilhar com você a história de um paciente que ilustra muito bem essa conexão. Ele vinha fazendo consultas anuais comigo, exames sempre em dia, sem sintomas. Porém, eu já havia alertado sobre os exames alterados: colesterol, triglicerídeos nas alturas e glicemia preocupante. Além disso, ele estava acima do peso e completamente sedentário. Reforcei que era preciso mudar. Mas ele, como muitos, respondeu: “Doutor, estou muito atarefado com o trabalho. Não estou sentindo nada, depois eu vejo isso.”
Seis meses atrás, ele retornou ao consultório com queixas que passaram a atrapalhar sua vida: dificuldade para urinar, noites mal dormidas, cansaço constante, irritação. Os exames mostraram um aumento considerável da próstata, além das alterações metabólicas que já vínhamos observando há anos. Iniciamos o tratamento medicamentoso para a hiperplasia prostática e também atuamos diretamente na síndrome metabólica.
O resultado? A resposta foi quase imediata. Ele voltou a dormir bem, recuperou a energia, começou a praticar atividade física e adotou uma alimentação saudável. Mais do que melhorar os sintomas urinários, ele viu sua qualidade de vida se transformar.
A grande lição aqui é que cuidar da próstata não se resume a exames de toque ou dosagem de PSA. É preciso olhar para o todo. Alimentação equilibrada, exercícios regulares e controle de peso não são apenas frases de efeito, são atitudes concretas que previnem doenças e garantem bem-estar.
Então, deixo aqui o meu alerta: não espere os sintomas aparecerem. A prevenção é sempre o melhor caminho. E, quando o assunto é próstata, ela começa muito antes do que você imagina, começa na sua rotina, no seu prato, no seu estilo de vida. Infelizmente, muitos homens ainda acreditam que, se não há dor ou incômodo, também não há problema. Essa falsa sensação de segurança é traiçoeira. A maioria das doenças da próstata e até mesmo os fatores de risco cardíacos se desenvolvem de forma silenciosa. Quando os sintomas surgem, o impacto na rotina é grande. Cuide-se!
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