Nos dias 17 e 18 de outubro de 2025, Manaus sediou o Encontro de Lideranças Femininas da Sociobioeconomia na Amazônia, um evento inédito que reuniu cerca de 60 mulheres extrativistas de diferentes regiões do bioma. Durante dois dias intensos, elas participaram de rodas de diálogo, oficinas, debates e atividades culturais.
O evento reuniu representantes de coletivos que atuam no manejo do pirarucu, açaí, farinha, oleaginosas e borracha, vindas de diversas regiões do Amazonas. A iniciativa foi promovida por organizações como Memorial Chico Mendes, CNS (Conselho Nacional das Populações Extrativistas), RFN (Rainforest Foundation Noruega), Sitawi — via Programa Território Médio Juruá —, WWF-Brasil, Natura e Instituto Juruá. O Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (CETAM) e o Consulado da Mulher também apoiaram a realização.
“Esse é um espaço construído por mulheres e para mulheres, com o propósito de fortalecer nossas vozes, trocar experiências e inspirar novas trajetórias. E que este seja apenas o primeiro de muitos encontros, abrindo caminhos para que cada vez mais mulheres possam ser protagonistas na construção de uma sociobioeconomia mais justa, inclusiva e sustentável”, afirmou Maria Silva, diretora financeira do Memorial Chico Mendes.
O encontro possibilitou uma valiosa troca de experiências entre mulheres de diferentes cadeias produtivas da sociobioeconomia, reforçando o papel central das lideranças femininas em todas as etapas — da coleta ao manejo, gestão, comercialização e transmissão de saberes tradicionais.
Desafios e conquistas do protagonismo feminino
“É de extrema importância a gente participar, porque a gente aprende muito, pega muito conhecimento, conhece outras pessoas de outros territórios que trabalham também na mesma luta, com o mesmo objetivo que a gente. Todos trabalham de forma unida, pra adquirir mais força, pra que a gente seja vista e reconhecida pelo nosso trabalho, que ainda não é bem reconhecido nem bem representado nos nossos territórios”, destacou Ivaneide Sousa, do Coletivo do Pirarucu.
Os debates revelaram desafios estruturais que ainda limitam a atuação plena das mulheres, como o acesso desigual a espaços de decisão, a ausência de formação técnica e a falta de reconhecimento econômico do trabalho feminino. Ao mesmo tempo, as trocas revelaram estratégias coletivas de superação e fortalecimento territorial.
“Trabalhar nesse setor é um desafio. A gente precisa estar sempre melhorando, se atualizando, e essa troca de experiências com outras pessoas nos ajuda muito. Por isso, é muito gratificante participar desse evento e ver tudo o que acontece dentro do nosso trabalho, dentro do produto”, compartilhou Adriana Pereira.
Além do papel produtivo, as participantes enfatizaram sua atuação na defesa da sociobiodiversidade amazônica frente a ameaças como o desmatamento, o garimpo ilegal e o narcotráfico.
“Esse evento mostrou a ativa participação das mulheres na linha de frente para o enfrentamento de ameaças atuais na Amazônia, como garimpo, narcotráfico, desmatamento e outras atividades ilegais nos seus territórios. Reunir mulheres diversas e de várias localidades em um mesmo espaço reconhece esse trabalho e amplia ainda mais os efeitos sobre a conservação da sociobiodiversidade”, explicou Ronnayana Silva, coordenadora de Programas Territoriais da Sitawi.
Troca de saberes e fortalecimento coletivo

O encontro também foi um espaço de aprendizado mútuo e fortalecimento político das redes femininas amazônicas. As participantes compartilharam experiências, técnicas de produção e estratégias de resistência e empreendedorismo local.
“Conheci muitas pessoas de vários municípios diferentes, e cada experiência compartilhada aqui é muito importante pra mim. Isso vai me ajudar a dividir o que aprendi com as minhas parceiras que ficaram lá. Nosso trabalho é com a borracha, e aqui encontrei muita gente que trabalha com extração de óleos, com a pesca do pirarucu, com biojoias… Estou muito feliz e espero ter outras oportunidades como essa”, disse Lucineide Brito, do coletivo da Borracha.
Encontro marca avanço da equidade de gênero na Amazônia
Mais do que um espaço de formação, o evento se consolidou como um marco na articulação política e solidária entre mulheres amazônidas. Ele reforçou a necessidade de uma sociobioeconomia mais inclusiva, onde as mulheres ocupem papel de protagonismo na construção de um modelo de desenvolvimento sustentável e justo.
“É muito importante poder compartilhar essas vivências e levar pontos positivos desse encontro para a minha região, para o meu território, e dividir isso com outras mulheres e com todo o coletivo que faz parte da pesca manejada. A experiência está sendo muito boa; estou muito feliz por estar aqui, conhecendo outras mulheres, outras realidades. Através das vozes que estamos ouvindo aqui, podemos nos fortalecer e fortalecer também os nossos territórios”, destacou Iza Mura.
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