Ela chegou tímida, o olhar meio cabisbaixo e o sorriso contido. Tinha 60 anos e um incômodo que há tempos lhe tirava a liberdade, mas que só agora teve coragem de contar. Disse-me que já não saía de casa com frequência, que evitava encontros com as amigas e até deixara de participar das reuniões de família. “Doutor, eu não aguento mais…”, desabafou. “Perco urina quando espirro, quando tusso, às vezes até quando me levanto. Achei que fosse coisa da idade, mas está me deixando triste.”
Esse tipo de relato é mais comum do que se imagina e o mais doloroso é perceber quantas mulheres convivem com a incontinência urinária em silêncio, acreditando que não há o que fazer. A perda involuntária de urina, tecnicamente chamada assim, ainda é vista por muitas como uma consequência natural do envelhecimento, mas não é. É um problema de saúde com tratamento e, principalmente, com solução.
A incontinência urinária traz repercussões que vão muito além do físico. Ela afeta a autoestima, o convívio social e até a vida afetiva. Muitas pacientes me contam que, antes de sair de casa, precisam “mapear” banheiros próximos, que reduzem a ingestão de líquidos e evitam viagens mais longas. Pequenas situações do dia a dia, como rir alto, dançar ou praticar exercícios, passam a ser evitadas. Aos poucos, o medo toma o lugar da espontaneidade.
Entre os tipos de incontinência, a incontinência urinária de esforço é a mais comum entre as mulheres. Ela acontece quando há perda de urina ao tossir, espirrar, correr ou fazer algum esforço físico. Após os 40 anos, cerca de 40% das mulheres apresentam algum grau desse problema. Os principais fatores relacionados são o número de partos, especialmente os normais e prolongados, além da própria idade e das mudanças hormonais que afetam a musculatura do assoalho pélvico.
É importante reforçar: envelhecer não significa aceitar limitações que comprometem a qualidade de vida. A perda de urina não é uma sentença, é um sinal do corpo pedindo atenção. O primeiro passo é conversar com um médico, sem medo ou vergonha.
Hoje, o tratamento é bastante eficaz e varia conforme a intensidade do quadro. Casos leves costumam responder muito bem à fisioterapia pélvica, que fortalece os músculos responsáveis pelo controle da urina. Em situações mais avançadas, existem medicações específicas e cirurgias minimamente invasivas, com ótimos resultados e rápida recuperação.
Lembro com carinho da paciente que mencionei no início. Após algumas semanas de acompanhamento e tratamento adequado, ela retornou ao consultório com outro semblante. Contou que voltara a sair com as amigas, que estava se sentindo confiante e, com brilho nos olhos, disse que planejava uma viagem que há anos adiava. “Doutor, minha vida é outra”, ela disse. E de fato era.
Neste Outubro Rosa, o convite é para ampliarmos o olhar sobre a saúde feminina. Falar de autocuidado também é falar de temas que por muito tempo foram tabu. A incontinência urinária é um deles e merece ser discutida com naturalidade e empatia.

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