Mensagens de WhatsApp e vídeos de drones ajudaram o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) a comprovar como o Comando Vermelho (CV) organizava execuções, torturas e operações criminosas na capital fluminense.
A denúncia do Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ), feita com base em uma investigação da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), resultou na megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão, que deixou 121 mortos, entre eles quatro policiais — a ação mais letal da história do Rio.
📱 Líderes usavam WhatsApp para ordenar execuções
Os promotores descobriram que os chefes do CV determinavam execuções e torturas por meio de grupos de WhatsApp.
As mensagens interceptadas mostram ordens diretas de Edgar Alves de Andrade, o Doca ou Urso, apontado como o principal líder da facção no Complexo da Penha e em comunidades como Gardênia Azul, Cesar Maia, Juramento, Quitungo e Alemão.
Mesmo com a megaoperação, Doca conseguiu escapar e continua foragido. Ele mantinha uma cadeia hierárquica rígida, com punições severas a quem desobedecesse suas ordens.
⚠️ “Matar agora na frente de geral”
Em uma das conversas obtidas pela polícia, Carlos Costa Neves, o Gardenal, ordena a execução de um “vapor” — responsável pela venda de drogas — por supostamente ter “perdido” parte da mercadoria:
“O vapor mais derramado, o gerente nós vai matar agora na frente de geral. Se o Bacurau aparecer, nós vamos mandar geral brotar aqui, o gerente vai executar ele na frente de geral”, escreveu Gardenal.
Outro líder, Washington Cesar Braga da Silva, o Grandão, aparece orientando subordinados a só agir com autorização de Doca ou de Pedro Paulo Guedes, o Pedro Bala:
“Bagulho não é com nós. Vamos monitorar apenas, meus amigos. Ninguém dá tiro sem ordem do Doca ou do Bala”, disse em uma das mensagens.
🧠 Facção usava drones e empresas de fachada
As conversas também revelam que os criminosos usavam drones para monitorar a polícia e até jogar bombas contra agentes.
Em uma das trocas de mensagens, Gardenal e Grandão discutem a compra de um drone noturno para ampliar a vigilância.
O relatório aponta ainda que Juan Breno Malta Ramos, o BMW, comandava o grupo Sombra, responsável por expandir o domínio do CV na região da Grande Jacarepaguá. BMW controlava câmeras de segurança em várias comunidades e usava empresas de fachada para lavar dinheiro.
🧩 Rede criminosa estruturada
O Gaeco detalhou um organograma completo do Comando Vermelho, com funções bem definidas para cada integrante:
- Doca (Urso): líder geral da Penha e comunidades vizinhas;
- Pedro Bala e Gardenal: gerentes-gerais do tráfico;
- Grandão: chefe operacional e disciplinar;
- BMW: responsável pela expansão e pelo treinamento de soldados armados.
Os líderes também discutiam roubos de veículos, contabilidade de vendas de drogas e escalas de plantões em pontos de venda e segurança armada.
⚖️ Base para a operação mais letal do Rio
O MPRJ destacou que a análise das conversas, vídeos e registros eletrônicos foi essencial para comprovar a estrutura da facção e embasar os 69 pedidos de prisão.
A operação, que envolveu 2,5 mil agentes civis e militares, resultou na morte de 121 pessoas, incluindo quatro policiais, e é considerada a mais letal da história do Rio de Janeiro.

Leia mais
VÍDEO: PM destrói barricadas após cancelar homenagem ao CV em Manaus
