Com frequência, recebo no consultório pacientes recém-diagnosticados com câncer de próstata e percebo a apreensão natural que essa palavra provoca. Afinal, o câncer costuma ser associado imediatamente à necessidade de cirurgias, radioterapia ou quimioterapia. No entanto, a medicina evoluiu muito, e hoje sabemos que nem todos os casos precisam de tratamento imediato. Em situações específicas, podemos apenas acompanhar o paciente com segurança. Esse tipo de conduta é chamado de vigilância ativa.
A vigilância ativa consiste em realizar um acompanhamento rigoroso e periódico do câncer de próstata, com exames de sangue, ressonância magnética e biópsias quando indicadas. O objetivo é monitorar de perto a doença e intervir apenas se houver sinais de progressão. Ou seja, tratamos apenas se e quando for realmente necessário.
Mas afinal, quem pode se beneficiar dessa estratégia? Normalmente, são os pacientes com tumores localizados, de baixo risco, diagnosticados em fase muito inicial e com comportamento biológico pouco agressivo. Nesses casos, a evolução costuma ser lenta, e as chances de o câncer trazer complicações significativas são pequenas.
Culturalmente, esse conceito ainda gera estranhamento. Muitos pacientes me perguntam: “Mas, doutor, como assim eu tenho câncer e não vou fazer nenhum tratamento?” Essa reação é compreensível. Durante décadas, aprendemos que todo câncer deveria ser eliminado o quanto antes. No entanto, as evidências científicas atuais mostram que, para casos selecionados, a vigilância ativa oferece resultados de sobrevida equivalentes aos dos tratamentos tradicionais, com a vantagem de evitar os efeitos colaterais da cirurgia ou da radioterapia, como incontinência urinária e disfunção erétil.
O mais importante é que essa decisão seja sempre compartilhada. É fundamental uma conversa aberta entre médico, paciente e familiares, esclarecendo benefícios, riscos e limites dessa abordagem. Assim, conseguimos alinhar expectativas e reduzir a ansiedade que o diagnóstico naturalmente provoca.
Lembro-me de um caso marcante. Há cerca de seis anos, diagnostiquei um paciente com um câncer de próstata muito inicial, ideal para vigilância ativa. Quando expliquei a ele e à esposa que poderíamos apenas acompanhar, com exames regulares e a opção de tratamento a qualquer momento, a primeira reação foi de espanto: “Mas, doutor, eu tenho câncer e não vou tratar?” Expliquei com calma as vantagens, as possíveis desvantagens e pedi que pensassem com tranquilidade.
Duas semanas depois, retornaram com o filho mais velho. Conversamos novamente e, juntos, optamos pela vigilância ativa. Desde então, seguimos com controles periódicos e, até hoje, o quadro permanece estável, sem qualquer sinal de progressão.
Casos como esse reforçam o quanto é essencial individualizar o tratamento. Cada paciente tem sua história, seus medos e suas prioridades. A vigilância ativa não é sinônimo de “não fazer nada”, mas sim de fazer o que é necessário, no momento certo, na hora correta.

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