O espetáculo “Dona Batata”, do grupo Pintando o 7, percorre municípios do interior do Amazonas como parte das comemorações pelos 35 anos da companhia, de 29 de outubro a 18 de novembro. A circulação revela o impacto do teatro nas escolas e comunidades, especialmente entre crianças e adolescentes que têm o primeiro contato com as artes cênicas, reafirmando o compromisso histórico do grupo com a formação de plateia e a interiorização cultural.

A iniciativa é contemplada pelo Programa Rouanet Norte, com patrocínio do Banco da Amazônia (BASA), realizada pela Rosa Malagueta Produções, com apoio do Centro de Artes Integradas do Amazonas (CAIA) e Cacique Produções.

Interiorização cultural e o primeiro contato com o teatro

Na pré-produção, o grupo realizou um levantamento junto aos produtores locais para contemplar escolas onde grande parte das crianças e jovens nunca teve acesso a um espetáculo profissional.

Segundo a atriz e diretora Rosa Malagueta:

“É esse movimento de descentralizar as ações de prática e consumo cultural que ainda hoje se concentram, majoritariamente, na capital.”

O primeiro contato com o teatro tem ocorrido de formas distintas:

“Na primeira, a criança ou o adolescente acaba se rendendo ao encantamento daquela experiência inédita, mergulhando no que estamos propondo e se permitindo vivenciar a situação; já no segunda há um nítido estranhamento e um afastamento, comum às crianças e jovens nessa fase da vida, diante de algo a que não estão habituadas”.

A equipe se prepara para lidar com todas as reações:

“Para esta segunda recepção por parte do público, estamos todos na equipe artística e técnica preparados para contornar a situação, com o entendimento que esse estranhamento também faz parte do processo de formação de plateia”, destaca Rosa.

Desafios logísticos e geográficos

Foto: Divulgação

No Amazonas, a circulação de um espetáculo exige planejamento minucioso. A equipe define o processo como “delicado e cirúrgico”:

“Vivemos em uma região continental, em um estado que é maior que muitos países. Em uma região de muitas particularidades geográficas que nos apresentam muitos empecilhos, fazer uma circulação na Amazônia é um processo delicado e cirúrgico. Uma operação de guerrilha”, relata Malagueta.

A maior dificuldade é a distância entre os municípios:

“Isso torna nossa logística mais lenta e mais cara”, afirma Rosa.

O clima também influencia:

“As altas temperaturas da nossa região, principalmente nesse período de forte calor, acabam sendo o período propício para realização de atividades como essa, já que no período de chuvas as dificuldades logísticas ficam ainda maiores”, declara Rosa.

Além disso, a maioria das cidades não possui espaços adequados para teatro, exigindo adaptações:

“Como os municípios, quase em sua totalidade, não dispõem de espaços físicos adequados à realização de atividades cênicas, acabamos tendo que realizar as atividades em quadras de esportes e pátios, que não dispõem de sistema de refrigeração. É um desafio. Concluímos as apresentações totalmente ensopados de suor. Mas o carinho que temos recebido ao final das apresentações fazem todas essas dificuldades valerem a pena”, lembra a atriz.

Impacto social e educativo

A circulação também gera troca e aprendizado para a equipe:

“Esse impacto não é uma via de mão única. A gente percebe que, da mesma forma como o trabalho que nós estamos oferecendo para estes jovens, crianças e professores, impacta e atravessa suas vidas… da mesma forma esse contato com essas populações, esses públicos por onde estamos passando, também nos atravessam. E também tem nos ensinado coisas que certamente impactam em nossos processos artísticos e pessoais”, pontua a diretora.

A demanda surgiu nas primeiras apresentações:

“Percebemos essa demanda de forma muito forte já nas primeiras apresentações. As crianças saem das apresentações com vontade de ler. Acho que estamos no caminho certo e estamos alcançando nosso objetivo”, afirma Malagueta.

O espetáculo, que estimula a leitura, atua em regiões com alta taxa de analfabetismo:

“Tem sido muito positivo para nós, ao término dos espetáculos, receber as crianças e ouvir pedidos de livros. No momento, trabalhamos com uma seleção de obras que fazem parte do material cênico da peça, mas já estamos pensando em fechar uma parceria que nos possibilite doar esses livros ao final de cada apresentação para o público presente. Percebemos essa demanda de forma muito forte já nas primeiras apresentações e isso nos emocionou muito. As crianças saem das apresentações com vontade de ler. Acho que estamos no caminho certo e estamos alcançando nosso objetivo”, celebra a atriz.

O final das apresentações é um momento especial:

“As crianças nos cercam, nos abraçam e pedem para que a gente não vá. Algumas pedem pra fazer foto, muitas querem um autógrafo (é até engraçado para nós), e muitas só querem um abraço. É revigorante esse momento ao final de um dia cansativo”, diverte-se a diretora.

35 anos de resistência do teatro amazônico

Foto: Divulgação

Celebrando 35 anos de trajetória, o Pintando o 7 reflete sobre a permanência do teatro no Amazonas:

“A cena teatral amazonense se renova de tempos em tempos. São poucos os núcleos ou artistas que perseveram. Eu mesma algumas vezes esmoreci. Pensei em parar, em desistir. Mas com certeza essa circulação, esse contato direto com o público surge como um novo gás. Para mim, para a minha companhia. A cabeça está fervilhando de novas ideias, e o coração cheio de vontade de fazer muito mais, e não só para quem já acompanha a cena teatral, mas principalmente para aqueles que nem sabem o que é teatro”, finaliza ela.

Segunda etapa

  • 10/11 – Itacoatiara/Escola Municipal Maria Nira Guimarães (10h)
  • 10/11 – Itacoatiara/Escola Municipal Jamel Amed (15h)
  • 11/11 – Silves/Escola Municipal Alda Amazonas Martins (10h)
  • 11/11 – Silves/Escola Estadual Humberto Alencar Castelo Branco (16h)
  • 12/11 – Itapiranga/ Escola Estadual Quitó Tatikawa (10h)
  • 12/11 – Itapiranga/Escola Estadual Teresa dos Santos (14h)

Terceira etapa

  • 17/11 – Novo Airão/Escola Municipal Raimundo Nonato Teixeira (10h)
  • 17/11 – Novo Airão/Escola Estadual de Tempo Integral Joaquim de Paula (14h)
  • 18/11 – Manacapuru/Escola Estadual Carlos Espinho (10h)
  • 18/11 – Manacapuru/Escola Estadual André Vidal Araújo (14h)

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