Quem já ouviu falar de Adelaide de Andrade Neves, musa subestimada da história ? Ela não era uma sensitiva guerreira como Joana Darc, mas seu charme irresistível e suas curvas maravilhosas deixaram louco um marechal ao ponto de fazê-lo assinar a sentença de uma monarquia em novembro de 1989.
Adelaide era gaúcha das mais belas e dizem que foi a verdadeira estrategista por trás da Proclamação da República, uma heroína incompreendida que jamais teve seu nome gritado nos livros de história.
A cena se desenrolou quando o Brasil fervilhava com intrigas e conspirações. Marechal Deodoro da Fonseca, insatisfeito com a posição do Exército sob o reinado de Dom Pedro II, estava prestes a se tornar peça-chave em um jogo ardiloso. E quem estava nos bastidores? O astuto Solon Ribeiro, pronto para tecer sua teia de mentiras e persuasões.
A trama aconteceu como uma novela. Solon espalhou falsidades sobre prisões e traições imperiais, tudo para empurrar Deodoro para o lado dos republicanos. E quem poderia imaginar que uma simples fofoca poderia derrubar um Império?
Em certo estágio da virulenta novela a astúcia dos conspiradores foi desafiada pela dissipação das fofocas, deixando-os em pânico. Solon havia espalhado que o imperador ordenara a prisão de Benjamin Constant e de do próprio Sólon.
O documento fatal
O objetivo era jogar Deodoro contra o imperador a qualquer custo e depois convencê-lo a assinar o documento fatal da Proclamação da República que destruiria o governo monárquico. A assinatura do marechal seria o xeque-mate.
Só que aos poucos as fofocas foram se esfumaçando, irritando os rebeldes republicanos. Correndo contra o tempo, eles tinham que agir rápido, tinham que conseguir a assinatura de Deodoro, tinham que fabricar outra jogada suja.
Foi quando se lembraram do caso Adelaide, que rejeitara o marechal em favor de seu rival, Gaspar Silveira Martins. Se ao menos Deodoro tivesse dado mais atenção às suas escolhas amorosas, talvez a história fosse diferente. Mas, não. A rejeição doeu fundo, levando o marechal à loucura.
Dispostos a jogar pesado com todas as armas disponíveis para alcançarem seu intento, os republicanos foram até Deodoro com o documento da Proclamação em mãos. Disseram-lhe que o documento garantiria Deodoro na chefia do governo provisório.
Para convencê-lo de uma vez por todas, tascaram a mentira, naquela tarde do dia 15 de Novembro de 1989 , de que Dom Pedro colocara Gaspar Silveira no lugar do Visconde de Ouro Preto no Conselho de Ministros.
A fake News funcionou. Deodoro se indignou e achincalhou Dom Pedro. “Assim eu não aguento, não gosto do Silveira, à bosta com ele”, vociferou o marechal. Quando comandante da Praça de Porto Alegre, Deodoro disputara com Silveira o amor de Adelaide, que deu um tremendo fora no marechal, caindo nos braços de Silveira.
Então, vermelho de ódio, Deodoro assinou o documento. E foi assim que, em meio a um circo de eventos, a República foi proclamada, com Deodoro montando em um cavalo dos Dragões da Independência, como um herói de conto de fadas, e expulsando do Palácio de Petrópólis o Visconde de Ouro Preto (Affonso Celso de Assis Figueiredo).

Ao som da Marselhesa
O ato proclamatório foi circense: na falta de um símbolo nacional que destacasse o caráter pretensamente glorioso do regime nascente, o evento foi realizado ao som da incrível Marselhesa francesa, e a bandeira hasteada não tinha nada a ver com o verde e o amarelo, era idêntica a dos EUA.
Quanto a Dom Pedro, um excelente governante, querido pelo povo e reconhecido pela comunidade internacional, foi-lhe dado o prazo de 24 horas para deixar o país. Foi colocado em um navio junto com sua família e enxotado para Paris.
Preocupado com a possibilidade de uma reação popular, Benjamin Constant chegou a prometer uma consulta pública, livre, para o povo decidir entre a República e a Monarquia. Mas a consulta foi esquecida. Só um século depois houve o plebiscito, com o povo preferindo o regime republicano que infelicita o Brasil até hoje.
Esse é o curioso bastidor da Proclamação da República, um movimento que derrubou o melhor monarca do mundo à época, amado pelos brasileiros, que comandava o regime democrático mais perfeito da conturbada América do Sul naqueles tempos. Dois anos depois, em 1891, Dom Pedro II morreria em Paris, amargurado e triste.
Note-se que Carlos Gomes, músico consagrado internacionalmente, amicíssimo de Dom Pedro, acabaria perseguido e execrado pelos republicanos por se recusar a escrever a letra do Hino da República.

