O operador de guindaste que trabalhava fantasiado de Papai Noel pulou da cabine para se salvar quando a máquina tombou durante a montagem da Árvore de Natal de 2025, no Largo de São Sebastião, em Manaus. Mesmo afastado pelo INSS e recebendo auxílio-doença, ele atuava no serviço e acabou preso logo após o acidente. O delegado Marcelo Martins, do 24º DIP, confirmou a informação.

O tombamento matou Antônio Paulo Rodrigues de Souza, 40 anos, conhecido como Antônio Suricate, que era içado pelo guindaste. Henes Libório Ramos, 47 anos, fraturou a perna e permanece internado.

Segundo o delegado, o operador do guindaste, identificado como Antônio Benjamin, trabalhou apenas como diarista contratado pela empresa responsável.

“Ele está afastado pelo INSS, recebendo auxílio-doença. Ou seja, não tinha habilitação nem condições para estar trabalhando. E a empresa falhou ao contratá-lo sem verificar suas qualificações”, afirmou Martins.

Horas antes do acidente, a empresa divulgou um vídeo em que Benjamin aparece fantasiado de Papai Noel dentro da cabine. Depois, outro registro mostra o momento em que ele salta pouco antes do tombamento.

Em depoimento, Benjamin disse que ouviu estalos na máquina enquanto manobrava e tentou corrigir a operação, sem sucesso. A investigação do 24º DIP identificou falhas no procedimento.

“Deveria existir um plano de içamento, um plano de rigging, um plano de engenharia, além de auxiliares e isolamento. Ninguém poderia estar pendurado ou dentro da estrutura durante o içamento. Foi uma sequência de erros que resultou na tragédia”, explicou o delegado.

🔎 O plano de rigging é o documento técnico que define a operação segura de içamento de cargas pesadas.

Questionado sobre a fantasia de Papai Noel, Benjamin afirmou que decidiu usá-la por conta própria. Ele também não utilizava equipamentos de proteção individual. O delegado classificou o caso como homicídio culposo. Benjamin foi autuado em flagrante e seguirá para audiência de custódia.

Crea-AM aponta ausência de documentação

O Crea-AM informou que fiscalizou o local na semana anterior e autuou uma empresa sem registro. Na ocasião, foram apresentadas apenas ARTs de elétrica e estruturas metálicas.

Até sexta-feira, o órgão não havia identificado operação de guindaste na área — apenas um caminhão-munck, também autuado. Neste domingo, a fiscalização localizou a empresa envolvida, mas o trabalhador presente não soube informar sobre ARTs específicas nem sobre o plano de rigging. Nenhuma ART referente ao içamento executado foi encontrada no sistema.

O Crea-AM afirmou que continuará acompanhando o caso.

As vítimas

Antônio Suricate estava na lança do guindaste auxiliando a guiar a estrutura quando a máquina tombou. Ele já havia trabalhado na ornamentação de 2022 e chegou a gravar vídeos no alto do equipamento sem capacete e preso apenas por uma corda.

Ele morreu ao chegar ao hospital. O IML apontou edema cerebral, hemorragia e traumatismo craniano causados pela queda.

Henes Libório Ramos, que segurava uma corda para estabilizar a estrutura, continua internado com fratura na perna.

Ambos trabalhavam para a empresa contratada pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (SEC) para montar a ornamentação natalina. Esse é o segundo acidente grave no local — em 2024, a árvore de 23 metros pegou fogo, sem feridos.

Acidente, socorro e investigação

O acidente ocorreu por volta das 10h. Um ex-militar da reserva e um médico que passava pelo local prestaram os primeiros socorros até a chegada das equipes de emergência.

As vítimas são de Parintins. Uma estava na ponta da lança; a outra permanecia no chão.

A SEC afirmou que a empresa apresentou a documentação exigida. A Polícia Civil abriu inquérito para apurar as causas.

O Governo do Amazonas disse que presta assistência às famílias. O governador Wilson Lima lamentou o acidente e determinou apuração rigorosa.

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