No consultório, é muito comum que homens cheguem com receio, vergonha ou insegurança para falar sobre vida sexual. E quase sempre começo lembrando que eles não estão sozinhos. A chamada disfunção erétil acomete mais de 40% dos homens acima dos 40 anos, mas pode surgir em qualquer faixa etária. Ela é caracterizada pela dificuldade persistente em manter uma relação sexual satisfatória, algo que não deve ser ignorado.

As causas são variadas. A idade, naturalmente, aumenta o risco, assim como doenças bastante frequentes: hipertensão, diabetes, colesterol e triglicerídeos elevados. Sedentarismo, obesidade, tabagismo e consumo excessivo de álcool também têm impacto direto na saúde sexual. Outro ponto importante é a queda no nível de testosterona, que pode ocorrer gradualmente. Em homens mais jovens, o componente emocional costuma ter papel fundamental. E vale lembrar de algo que muitos não imaginam: distúrbios do sono, mesmo isoladamente, podem prejudicar de forma significativa o desempenho sexual.

Quando recebo um paciente com essas queixas, sempre começamos da mesma forma: analisando os possíveis fatores envolvidos e reforçando que os primeiros passos do tratamento passam por mudanças de hábito. Em resumo, falamos de melhora da qualidade de vida, alimentação equilibrada, atividade física regular, redução do álcool, abandono do cigarro e uma rotina de sono adequada.

Existe ainda um alerta muito importante: a disfunção erétil pode ser um sinal precoce de doenças cardiovasculares, incluindo risco aumentado de infarto. Por isso, jamais deve ser tratada apenas como um desconforto sexual; ela pode ser a ponta do iceberg.

As repercussões emocionais também pesam. A vida sexual fragilizada pode gerar tensão no relacionamento, baixa autoestima e afastamento afetivo. Por isso, recomendo sempre buscar avaliação profissional ao menor sinal de dúvida.

Para ilustrar, lembro de um caso recente no consultório. Um amigo de 52 anos me procurou preocupado: além da dificuldade para manter relações satisfatórias, o casamento começava a sofrer. Conversamos longamente, revisei seus hábitos e solicitei alguns exames. Ele demorou um pouco para retornar, mas, quando voltou, contou que apenas as mudanças no estilo de vida já haviam trazido melhora expressiva. Os exames estavam normais e, naquele momento, não foi necessária medicação. Bastou manter o “novo” ritmo de vida e o acompanhamento regular.

A mensagem que deixo é simples: a saúde sexual é parte essencial da saúde global do homem. Cuidar do corpo, da mente e dos hábitos cotidianos é o melhor caminho para prevenir e tratar grande parte das alterações. E, quando necessário, estamos aqui para ajudar com acolhimento, escuta e orientação individualizada. Além disso, é importante reforçar que a saúde sexual não deve ser um tema abordado apenas quando algo vai mal. Assim como fazemos check-ups de rotina, incluir a avaliação urológica como parte do cuidado regular ajuda a identificar precocemente qualquer alteração preocupante.

Flavio Antunes – urologista

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