Manacapuru é uma cidade onde o comércio ensina mais do que qualquer curso. Aqui, errar custa caro, insistir cansa e desistir parece, muitas vezes, o caminho mais fácil. A história de Pedro Martins Ferreira mostra exatamente o contrário.

Aos 75 anos, Pedro não é apenas um comerciante antigo do interior do Amazonas. É o retrato vivo de uma geração que aprendeu no improviso, caiu sem proteção e precisou se levantar sem manual. Sua trajetória atravessa décadas, crises econômicas, mudanças de moeda, vícios, falência e recomeço.

Quando chegou a Manacapuru, se instalou na região do Marecão e montou um pequeno comércio que vendia de tudo um pouco. Bebidas, gás de cozinha, alimentos e itens variados. Um modelo comum no interior, onde o multivarejo nasce mais por necessidade do que por estratégia. Funcionou. E funcionou rápido.

Pedro chegou a empregar sete homens, unindo comércio e agricultura para manter o estoque e reduzir custos. O faturamento semanal alcançava mil cruzeiros, um valor que, corrigido pela inflação da época, representaria hoje uma pequena fortuna. Era dinheiro suficiente para comprar várias casas populares por mês.

Mas o crescimento não veio acompanhado de controle. O excesso de bebida, o hábito de vender fiado e a falta de organização financeira começaram a corroer o negócio por dentro. Mesmo sendo um dos maiores revendedores da região, abastecendo dezenas de caixas das cervejarias Antártica e Brahma todos os meses, o caixa não fechava.

Depois de oito anos de altos lucros, veio a queda. O comércio faliu. Funcionários foram dispensados. O patrimônio se perdeu. Pedro voltou ao Marecão sem capital, sem estrutura e praticamente sozinho.

O recomeço só foi possível ao lado da esposa, Elizabeth Gomes Ferreira. Juntos, venderam o que restava dentro de casa. Móveis, eletrodomésticos, ferramentas. Arrecadaram cerca de trinta mil reais. Com esse valor, compraram uma casa simples em Manacapuru, reformaram o que era possível e ainda conseguiram separar dez mil reais para tentar mais uma vez.

Foi com esse dinheiro que Pedro entrou na Feira do Produtor. Primeiro, um pequeno boxe. Sem capital suficiente para comprar frutas e verduras, precisou recorrer a um empréstimo. O risco era grande, mas não havia outra saída.

Dessa vez, tudo foi diferente. O erro do passado virou regra no presente. Controle, disciplina e foco passaram a guiar cada decisão. Em poucos meses, o negócio cresceu. Pedro comprou bancas vizinhas, ampliou o estoque e hoje, em 2025, opera com sete bancas e um boxe fixo, com mercadorias avaliadas em mais de sessenta mil reais.

Foto: Divulgação

Mais do que números, houve uma mudança de postura. Pedro passou a organizar sua vida comercial com base em princípios que ele mesmo resume de forma simples: trabalhar, orar e respeitar limites. A fé cristã se tornou parte central da rotina, não como promessa de riqueza, mas como fundamento de disciplina e responsabilidade.

Entre os ensinamentos que carrega, um se repete com frequência, aprendido com o pastor Irmão Inácio: árvore que não cresce, morre. Para Pedro, crescer não significa apenas faturar mais, mas aprender, corrigir erros e não se acomodar.

Hoje, ele é procurado por pequenos empreendedores da cidade que buscam conselhos. Não fala de fórmulas mágicas. Fala de queda, de erro, de prejuízo e de recomeço. Fala do que viveu.

Manacapuru tem cerca de 104 mil habitantes e uma economia fortemente baseada no setor informal e no microempreendedorismo. Mais de 68 por cento da atividade econômica da cidade vem desse perfil. A Feira do Produtor, onde Pedro atua, reúne mais de 700 feirantes, com faturamento médio mensal em torno de dois mil reais por banca. É nesse cenário real, longe de discursos idealizados, que a história dele ganha força.

Pedro Martins Ferreira não construiu um império nos moldes tradicionais. Construiu algo mais raro. Reconstruiu a própria vida depois de perder tudo. Sua história mostra que empreender não é apenas abrir um negócio, mas sobreviver às próprias falhas e ter coragem para começar de novo quando ninguém mais aposta.

Nada veio fácil. E talvez seja exatamente por isso que essa história mereça ser contada.

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