O delegado Marcelo Martins, responsável pelo inquérito sobre a morte do menino Benício Xavier, de 6 anos, afirmou que a investigação identificou uma série de falhas médicas durante o atendimento, incluindo omissões que comprometeram qualquer possibilidade de sobrevivência da criança.
As declarações foram feitas após análise de depoimentos e laudos técnicos reunidos no procedimento policial.
Investigação aponta falhas críticas na UTI
De acordo com Marcelo Martins, um dos pontos centrais envolve a conduta do médico que prestou atendimento na UTI no início da intercorrência.
“Há apontamentos no sentido de que o médico deveria ter entubado o Benício de imediato, e isso não foi feito”, disse o delegado.
A autoridade destacou que a intubação precoce era fundamental diante da gravidade do quadro apresentado pelo menino.
Intubação e suporte especializado não foram realizados
O delegado ressaltou também a ausência de solicitação de apoio de especialistas, o que, de acordo com a investigação, teria sido determinante para o desfecho.
“Ele deveria ter solicitado o parecer de especialistas, no caso o pediatra infantil e o anestesista, e isso não foi feito”, afirmou.
A polícia considera que as decisões clínicas adotadas impediram a implementação de medidas que poderiam ter estabilizado a criança naquele momento crítico.
Outro aspecto destacado por Marcelo Martins foi a não administração de uma medicação que poderia reduzir os efeitos da adrenalina.
“Surge a informação de que havia uma medicação que poderia ter sido administrada no início para diminuir os efeitos da adrenalina, como o metoprolol, segundo especialistas”, disse.
O delegado explicou que o remédio teria efeito seletivo sobre o coração, ajudando a reduzir a frequência cardíaca e a estabilizar o quadro.
“A adrenalina continuaria no corpo, mas os efeitos cardíacos poderiam ser controlados”, acrescentou.
Erros contínuos no atendimento agravam quadro clínico
A investigação também identificou falhas na fase seguinte do atendimento, como liberação da alimentação e interrupção do tratamento hospitalar.
“Foi liberada a alimentação, o que não poderia ter ocorrido, e a intubação foi feita sem observar que o paciente havia se alimentado”, afirmou.
Marcelo Martins apontou ainda a ausência de um médico de retaguarda para intervir caso o procedimento falhasse, além do uso inadequado de sedativos.
Para o delegado, os erros ocorreram de forma contínua e configuram um quadro extremo de negligência. “Foram muitos erros em sequência. Todas as chances de fazer o certo não foram aproveitadas”, afirmou.
Por fim, ele acrescentou que o conjunto de falhas reforça a tese de abuso sexual e terá repercussão direta no inquérito, que continuará investigando a atuação de outros profissionais e possíveis falhas estruturais em todo o atendimento.
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