Duas mulheres denunciaram nas últimas semanas que motoristas de aplicativos tentaram dopá-las durante viagens na cidade de São Paulo. O caso mais recente foi da fotógrafa Bruna Custódio, de 32 anos, que disse ter sido atacada na última terça-feira (10) por um produto químico solto no ar-condicionado durante uma corrida da empresa 99 que saiu da Vila Mariana, zona sul, com destino a Pinheiros, na zona oeste.
Ela diz que entrou no carro e logo se atentou às janelas. Isso porque em sua mente ainda estava vívido o relato de uma amiga que, poucas semanas antes, denunciou nas redes sociais ter sido dopada por um motorista de aplicativo durante uma viagem.
O produto químico que quase a deixou inconsciente foi solto através do ar, e as janelas fechadas potencializam seu efeito. A fotógrafa narra que sentou no banco do passageiro e deixou o seu vidro aberto. O vidro do motorista, por sua vez, estava até a metade.
Dois quilômetros à frente, próximo à rua Domingos de Morais, na Vila Mariana, enquanto estavam parados no semáforo, ela sentiu um forte cheiro químico. A vítima conta que começou a ficar tonta, enjoada e com a visão turva. Percebeu, então, que o homem havia fechado o próprio vidro e olhava para trás, em direção a ela
A fotógrafa chegou a colocar a cabeça para fora do carro, a fim de inalar ar puro e se certificar de que não era um odor exterior, mas o mal-estar não cessou. Quando o carro voltou a se movimentar, a sensação começou a ficar ainda mais forte e ela pediu para que o motorista parasse o veículo.
Ao descer, conta, o homem perguntou o que estava acontecendo. A mulher conta que decidiu sair dali o mais rápido possível e fotografou os dados do veículo. Além disso, ela relata que se ficasse mais alguns instantes inalando aquele produto iria desmaiar.
Relato
A vítima publicou o relato em suas redes sociais nesta quarta-feira (11), a fim de alertar outras mulheres. Ela contou que pretende registrar um boletim de ocorrência contra o motorista, que se chamava José e tinha uma placa de Belo Horizonte.
A segunda vítima, Larissa Cristiane do Amaral Gomes, de 33 anos, denunciou um motorista da Uber que a transportou por volta das 4h10 do dia 21 de abril. Ao realizar o chamado, ela estranhou que não havia o número de corridas feitas, nem a simulação do carro, que aparece ao lado da foto do motorista, chamado de Douglas.
Logo que entrou no carro, um HB20S branco, de placa GAK5J92, o homem fechou todos os vidros. Ela não viu problema já que estavam no Centro de São Paulo, onde acontecem muitos assaltos. A mulher sentou-se atrás do banco do motorista.
Em seguida, Douglas pegou um pote transparente, com a tampa preta, que continha um líquido incolor. Já sabendo sobre esse tipo de crime, rapidamente Larissa abriu a janela. Quando ele abriu o recipiente, sentiu um forte cheiro de produto químico e já começou a ficar zonza. Larissa acredita não ter desmaiado por estar sóbria, de máscara PFF2 e ter respirado o ar de fora.
Ela começou a se debater, pedindo que ele parasse o carro para ela descer. Pela avenida Duque de Caxias, altura do número 30, na República, ela desembarcou às 4h18. Ela procurou uma lojinha próxima, enquanto Douglas a chamava de “louca” diversas vezes.
Com medo, por estar próximo à Cracolândia, chamou a amiga com quem estava anteriormente para ajudá-la. A vítima registrou o Boletim de Ocorrência na Delegacia Eletrônica e reportou o ocorrido à Uber como agressão física, por não tem opção nenhuma para esse tipo de violência.
A mulher ainda afirmou que a Uber não a procurou, só desativou sua conta. “Fiquei dias sem notícias da Uber e sem conseguir sair de casa com medo do motorista ter meu endereço. A Uber só me ligou para saber como eu estava, quando uma repórter entrou em contato com eles”, relatou Larissa.
Empresas de app
Em nota, a 99 afirma ter bloqueado o motorista denunciado e mobilizado uma equipe para acolher a vítima. “Investimos constantemente em ferramentas de segurança para a prevenção, proteção e acolhimento de todos os usuários, principalmente para as passageiras. Entre as medidas estão a opção de compartilhar rota com contatos de confiança, monitoramento da corrida, gravação de áudio e botão para ligação direta para a polícia”, informou a empresa.
Já a Uber disse que trata todas as denúncias com seriedade e está sempre à disposição das autoridades para colaborar. O aplicativo ressaltou que a única denúncia semelhante à relatada por Larissa ocorreu em Canoas (RS), e acabou sendo arquivada após investigação policial.
“Passageiras que tenham experiência essa situação devem reportar imediatamente para a empresa, por meio de seu app, ou no telefone 0800-888-8999 para que as medidas cabíveis sejam tomadas. Trabalhamos 24 horas por dia, 7 dias por semana, para cuidar da proteção e suporte dos usuários”, disse a Uber.
*R7
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