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Segurança

Líder indígena aponta estratégias para a proteção dos povos indígenas ameaçados no AM

Para Beto Marubo, a importância da atuação desses povos na proteção de seus direitos é uma herança deixada pelo indigenista Bruno Pereira na região

Manaus (AM) – O desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips completou um mês nesta terça-feira (5). O caso, que aconteceu no Vale do Javari, extremo oeste do Amazonas, ainda causa comoção. O medo ainda assombra quem vive naquela região pelo aumento da criminalidade e da instalação do tráfico internacional de drogas nos territórios indígenas, de acordo com líder e ativista indígena, Beto Marubo.

Em um seminário promovido pelo IPAAM, Marubo, que é integrante da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), apontou estratégias para a proteção dos povos tradicionais isolados da região, ameaçados pelo crime organizado atualmente.

A Terra Indígena do Vale do Javari localiza-se no extremo oeste do estado do Amazonas e ocupa uma área de mais de 8 milhões de hectares, concentrando a maior densidade de povos isolados do mundo, segundo dados da Funai.

Contudo, com o desmonte de órgãos fiscalizadores, a região tem sido assolada pela violência do crime organizado, que culminou com o assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips.

De acordo com Marubo, os povos indígenas da região têm se articulado para operacionalizar ações de vigilância territorial, algo complementar à fiscalização, que é de competência estatal, sobretudo, qualificar as informações obtidas em campo, com a finalidade de otimizar a atuação dos órgãos competentes, como FUNAI, PF e MPF.

“Temos que convencer o Governo Brasileiro da importância de proteger as terras indígenas. Tendo informações sobre a importância dessas terras públicas e dessas culturas, para o clima e para a segurança do Brasil, podemos conversar com políticos para justificar as políticas públicas necessárias para a região, como as bases da Funai, por exemplo. O Estado renegou completamente essas áreas, mas com esses dados fortalecemos nossa luta e podemos avançar”,

afirmou.

O pesquisador sênior do IPAAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), Paulo Moutinho, anunciou, durante o seminário, a produção de relatórios a respeito da grilagem e a fraude do Cadastro Ambiental Rural no Vale do Javari. “Serão relatórios curtos e cheios de dados que possam ser usados como arma na mão do Ministério Público Federal”, destaca.

Um narcoestado na Amazônia

De acordo com Beto Marubo, existe uma escalada de violência e tráfico internacional instalados na região nas proximidades das fronteiras do Peru e Colômbia, que já dominam aquela área de floresta e da política. Além das drogas, o crime organizado tem investido na pesca ilegal, garimpo, grilagem de terras e corte de árvores protegidas (desmatamento).

“O estado abdicou de suas competências nessa parte da Amazônia e destruiu as instituições, criando as condições para que esses grupos entrassem. Nós estamos lidando com quadrilhas organizadas e não mais com simples pescadores que entravam nos nossos rios. Falta pouco para que a região do vale do javari seja totalmente dominada pelo crime e vire um narcoestado em todas as esferas”.

Segundo o representante da Univaja, a coleta de informações sobre a região também é importante no combate à criminalidade e as coletas de informações realizadas por indígenas capacitados são, muitas vezes, os únicos dados referentes ao Vale do Javari. “Precisamos de dados para que essas áreas não sejam semelhantes a algumas áreas da Colômbia e do Peru, onde não existe nenhum controle do Estado. Se o Vale do Javari for ocupado e dominado por quadrilhas, aquela região vira um inferno e um problema de segurança nacional. Estamos sozinhos no mato”, alerta Beto Marubo.

Ampliando a defesa dos direitos indígenas

Para o líder indígena, é necessário ter segurança para os povos indígenas ameaçados, pois a importância da atuação desses povos na proteção de seus direitos é uma herança deixada pelo indigenista Bruno Pereira na região.

“A equipe de monitoramento treinada e capacitada pelo Bruno voltou a fazer seu trabalho normal. Não podemos recuar. Não temos o direito de recuar. Ou a gente faz esse trabalho ou a gente vai perder o controle total do nosso território. Foi por causa do nosso trabalho que o nosso território foi conhecido no mundo todo e as autoridades foram pressionadas. Somos o último anteparo para os povos isolados que dependem de uma Funai que os renega”,

concluiu.

*Com informações da assessoria

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