Manaus (AM) – A produção de eventos, uma das áreas mais afetadas pela pandemia da Covid-19 nos últimos dois anos, tem apresentado sinais positivos com a retomada das atividades, e consequentemente, da movimentação econômica e cultural no país. Apesar do destaque nacional, organizar eventos de grande porte se torna um imenso desafio para artistas e produtores culturais de Manaus (AM).
Em tempos de turbulência econômica e política, o setor da economia criativa atua como uma importante fonte de renda e geração de empregos. A área permite a movimentação anual de R$ 270 bilhões, nas mais de 590 mil atividades que são promovidas a cada ano no país. Em 2020 e 2021, cerca de 880 mil eventos foram cancelados, um prejuízo que ultrapassa a marca de R$ 230 bilhões. Os números são da Associação Brasileira de Promotores de Eventos (Abrape).
Cultura, gastronomia, artesanato, shows ao vivo e lazer são apenas alguns dos itens que compõem a economia criativa. Colocando a criatividade em primeiro lugar, o setor abrange conjunto de ações e atividades relacionadas à cultura, tecnologia e criatividade que geram receita e impacto na economia. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a indústria criativa tornou-se uma força vital na aceleração do desenvolvimento humano. Isso porque os negócios orientados por ela capacitam as pessoas a assumir a responsabilidade por seu próprio desenvolvimento.
Com o desejo de proporcionar lazer e entretenimento com qualidade e conceito para a cena do rap manauara, o casal Thayná Gomez e Gabriel Joia decidiu dar origem ao evento “O Bailinn”. Completando 1 ano de história, o evento realiza a sua 4ª edição, “O Bailinn Sunset Festival”, que acontece no dia 16 de julho, a partir das 16h, no La Casa Pub. Com um histórico de sucesso, O Bailinn estreou suas atividades no Espaço Cultural Curupira Mãe do Mato, lotando em todas as suas edições. Além da geração de renda, a produção independente é um movimento que representa as lutas de ambos.
“Eu e Gabriel nascemos no berço do samba. Meu pai produz eventos do gênero e o pai dele é músico, um dos fundadores do Ases do Pagode. Desde o começo do nosso namoro, há 7 anos atrás, idealizamos produzir algo junto. Gabriel é rapper e eu acompanho o hip hop manauara desde muito cedo, então sabíamos que os nossos eventos seriam de rap. Além disso, eu sou uma mulher gorda e ele é um homem preto, na sociedade no geral nos falta espaços de acolhimento e pertencimento. Então nós criamos esse espaço. O Bailinn é, primordialmente, um movimento que endossa nossas lutas. Isso é o hip hop”
, destaca Thayná.
Complementou ainda: “O Bailinn é um evento que nasce da vontade de proporcionar um baile de rap com verdadeira entrega de qualidade na cena manauara. É uma produção independente, eu e Gabriel organizamos todos os detalhes, da logística às mídias sociais. Do design à fotografia, contamos com nossos amigos que, diga-se de passagem, são profissionais incríveis. Além da musicalidade, valorizamos muito a estética do evento. Eu trabalho com moda e entendo a mesma como arte visual, um veículo poderoso de comunicação e expressão, empoderamento e autoestima. Levamos isso para o nosso evento e essa é uma das principais marcas do Bailinn. Hoje as pessoas nos encontram e comentam sobre a expectativa para os looks do Bailinn, isso é incrível”.
Para ambos, dentre todas as dificuldades durante esse primeiro ano do evento, a que mais se destaca foi a que passaram em decorrência da pandemia da Covid-19, que trouxe prejuízos para o setor. A primeira edição do Bailinn foi realizada quando Manaus começava a sair do cenário pandêmico e os decretos governamentais liberavam aos poucos os eventos.
“O maior desafio que passamos foi a pandemia. Principalmente, a forma que a classe de produções de eventos, mesmo que legalizadas e regularizadas, foram colocadas como criminosas, mas organizações de outros gêneros não. Além disso, nós somos uma produção independente, isso por si é um grande desafio. Exige planejamento e organização para o projeto fluir e prosperar. A primeira edição ocorreu quando estávamos começando a sair do cenário pandêmico, o público era limitadíssimo, os decretos estavam liberando aos poucos, mas tudo ainda estava muito incerto, era difícil visualizar um projeto a longo prazo”
, pontuou.
Apresentando uma nova proposta para a cena manauara, a dupla ressalta que o principal objetivo da criação do evento é dar início a um movimento econômico coletivo e oferecer para o público uma experiência ainda mais ampla, visto que em todas as edições traz diversos stands de empreendimentos locais como tabacarias, marcas autorais de roupa, hamburguerias e até flash tattoos. Além disso, o Bailinn tem papel fundamental na valorização de artistas locais.
“É incabível a quantidade de artistas potentes que nós temos aqui no Norte, amplificar o público que consome o Norte é com certeza um dos objetivos principais. Promover eventos em que as pessoas se sintam inspiradas, potencializadas, acolhidas, representadas é também um grande pilar do O Bailinn. Além de movimentar economicamente as produções artísticas locais. O Bailinn trouxe uma proposta nova para a cena, que posteriormente outros eventos começaram a aderir também. Em todas as edições buscamos trazer stands de empreendimentos locais. A ideia é justamente criar um movimento econômico coletivo e oferecer para o público uma experiência ainda mais ampla”
, afirma a stylist e produtora.
Ainda na cena manauara a marca criada por Yasmin Feitosa e Saulo Fernando, a Cepecompany – que é um projeto de pouco mais de um ano que envolve moda, produção de evento e todas as expressões da arte – deu origem ao evento “Toca do Rato”. Voltado para a cultura periférica e com o intuito de promover a arte das pessoas vindas desses locais, a “Toca do Rato” já teve três edições e a primeira foi feita no aniversário de um ano da Cepecompany.
Para a dupla, o principal objetivo com a realização do evento sempre foi exaltar os ritmos que predominam na periferia e a cultura negra, além de proporcionar uma experiência acessível com ritmos, como o “Grime” que não está estabelecido ainda na cena manauara.
“Nosso principal objetivo com eventos é apresentar uma forma de entretenimento acessível, com qualidade e autenticidade. Onde além de curtir o evento em si e os ritmos já conhecidos a pessoa descubra ritmos novos e futuristas. Nossa intenção com os eventos sempre foi exaltar os ritmos que predominam na periferia e a cultura negra”
, pontuou Yasmin.
Por ser um projeto independente, ambos ressaltam que o trabalho é sempre difícil, ainda mais por ser um projeto que surgiu da periferia e tem recursos limitados. Além disso, a pandemia também foi uma das dificuldades.
“As dificuldades são muitas, fazer um trabalho independente é sempre muito difícil, ainda mais se tratando de uma marca que surgiu da periferia e tem recursos limitados. A dificuldade maior é principalmente nossa localização geográfica, os materiais para produzir nossas blusas são de acesso dificultoso para a região norte do país além de virem com o preço mais elevado”
, explicaram.
A dupla, realiza a colaboração entre os eventos e venda de camisetas com estampas autorais e de qualidade diferenciada, que são idealizados pela marca autoral.
“A Cepecompany surgiu em março de 2021, mas começamos os projetos para iniciá-la em 2020. Além de não ser um momento bom economicamente para o país, vivíamos assombrados pelo medo de não dar certo em tais circunstâncias e os decretos também dificultavam a produção de eventos”
, complementaram.
Para os criadores de ambos os projetos culturais, tais eventos são de suma importância para a movimentação econômica e da cultura local por fazer o dinheiro circular dentro da periferia e mostrar que esse locais também podem ser potências e fontes de muitas ideias milionárias.
O que é economia criativa?
A economia criativa é aquela que coloca a criatividade como fator central para definir o valor de produtos e serviços. O termo é um conceito que coloca a criatividade como destaque econômico para diversas empresas e setores no Brasil e no mundo. Afinal, a criatividade está presente nos mais diferentes ramos e ajuda a encontrar soluções para desafios de qualquer área. Esse setor da economia está relacionado à cultura, ao entretenimento, e é responsável por uma parcela considerável do Produto Interno Bruto (PIB).
Dentro do setor econômico, é possível dizer que está relacionada à produção, distribuição e criação de bens e serviços criativos. Foi na década de 1980 que o termo economia criativa começou a ser usado.
As empresas podem desenvolver modelos de negócios que tenham base na criatividade e também permitam a geração de renda.
Ao mesmo tempo em que é importante do ponto de vista econômico, pensar de forma criativa também ajuda empresas no seu desenvolvimento. Por isso, vale a pena entender e dar a oportunidade para idealizadores da economia criativa.
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