Manaus (AM) – A viúva do indigenista Bruno Pereira, assassinado no Vale do Javari (AM) ao lado do jornalista britânico Dom Phillips, em 5 de junho, cobrou uma retratação do presidente Jair Bolsonaro e do presidente da Funai, Marcelo Xavier, por declarações que desprezam a atuação profissional e a memória de Bruno. Beatriz Matos se posicionou em uma audiência pública da Comissão Temporária sobre a Criminalidade na Região Norte.
“Gostaria que o presidente do Brasil, o vice-presidente do Brasil e o presidente da Funai se retratassem em razão das declarações ridículas que fizeram. O presidente da Funai falou em ilegalidade da presença deles ali. O presidente da República falou coisas que eu me recuso a repetir aqui. Isso não é uma questão menor. É uma questão muito séria”,
disse Beatriz.
Beatriz afirma que não recebeu qualquer palavra de condolência do governo brasileiro e criticou a falta de apoio da presidência da Funai. Por outro lado, ela agradeceu as homenagens dos povos indígenas e o apoio de deputados e senadores.
Além de Beatriz, a comissão também ouviu Jader Marubo, líder indígena e ex-coordenador da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Ambos relatam um processo de desmonte das estruturas de fiscalização na Amazônia.
Os povos indígenas e servidores da Funai vivem sob o medo e ameaças por denunciarem a atuação ilegal de garimpeiros, pescadores, caçadores e do narcotráfico na região. Para a antropóloga que também atua no Vale do Javari, o governo tem demorado a agir para enfrentar o problema.
“Que as mortes do Dom e do Bruno sirvam pelo menos para que se construa outra alternativa naquela região. Que seja possível transitar sem sofrer violência”, alertou.
Marubo afirmou que Bruno e Dom morreram por lutar pelos direitos dos indígenas e denunciar invasões e atividades ilegais na região. O líder indígena também aponta que o presidente Jair Bolsonaro é o responsável pelo desmantelamento da Funai e de órgãos de fiscalização e teria, portanto, parcela de responsabilidade pelas mortes.
“Em campanha mesmo o presidente Bolsonaro falou que iria ceifar a Funai. Hoje, entendemos o que é ceifar a Funai. Ele desestruturou a instituição. Se houvesse uma Funai forte, uma Funai atuante, uma Funai que fizesse o trabalho ao qual ela foi criada para fazer, hoje o Bruno estaria vivo”,
lamentou Marubo.
Jader Marubo também alertou que as atividades irregulares ameaçam a floresta e os povos indígenas isolados que vivem na região. “Tudo indica que pode acontecer isso [mortes] de novo, se nada for feito”, alertou Marubo.
*Com informações da Agência Senado
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