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Após filho matar a ex-mulher, mãe liga para a família da jovem e pede perdão

A auxiliar de serviços gerais ainda chegou a amarrar o filho para ele se entregar à polícia

A mãe do criminoso pediu perdão e se prontificou a ajudar a família de Sarah com o que fosse possível Foto: Reprodução

Rio de Janeiro (RJ) – Menos de uma hora depois de Queven da Silva e Silva, de 26 anos, abrir fogo contra a ex-companheira, a cabeleireira Sarah Jersey Nazareth Pereira, de 23, a mãe do assassino confesso ligou para uma irmã da vítima em busca de informações sobre o ocorrido.

Na conversa que se seguiu, segundo o depoimento prestado pela parente da jovem na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), a mulher — uma auxiliar de serviços gerais de 40 anos — pediu perdão e se prontificou a ajudar a família de Sarah com o que fosse possível.

No termo de declaração da irmã da cabeleireira, ela conta que o primeiro contato entre as duas se deu às 5h18 da última terça-feira — segundo a polícia, Queven chegou à casa da ex, no Centro do Rio, por volta das 4h20. Na mensagem enviada por WhatsApp, a mãe do rapaz relatava que um outro filho havia acabado de contar que “o Queven atirou na Sarah”. A mulher continuou: “Como é que a Sarah está, pelo amor de Deus?”. A parente da jovem respondeu: “Ela morreu”.

Na sequência, de acordo com o depoimento, a auxiliar de serviços gerais passou a perguntar se poderia encontrar a família da vítima em algum lugar. “Vocês estão onde?”, quis saber. “Eu posso ir aí?”, prosseguiu. A mulher “em seguida envia outra mensagem pedindo perdão e pergunta se a mãe da declarante está presente”, conforme consta no termo de declaração.

A irmã de Sarah responde que não, que a mãe não está no local, e que, até aquele momento, ela sequer sabia do ocorrido: “Não é para ligar para minha mãe avisando. Minha mãe não tem estrutura para receber essa notícia. Não tem”.

A parente da vítima faz, então, um apelo: “Você não vai falar com ela. Você não vai vir aqui. Não vai. Não quero”. A mulher afirma que “tudo bem” — “se você não quer que eu vá, eu não vou”, disse —, mas pondera: “Infelizmente, eu não podia fazer nada”. A mãe do assassino completa: “Vou respeitar a sua vontade, mas eu não tenho culpa. Se precisar, estou aqui”. Em uma última mensagem, ela conclui: “Se precisar de qualquer coisa, nem que seja para ficar com as crianças. Qualquer coisa. Você me fala”.

Feminicídio

Queven e Sarah tiveram dois filhos, um menino de 4 anos e uma bebê de apenas 2 meses. Os dois estavam na residência, onde também moravam a mãe da vítima e a irmã, no momento em que o pai invadiu o imóvel e atirou contra a cabeleireira, que morreu na hora. No quarto onde estava Sarah, peritos da Polícia Civil encontraram 16 cápsulas de pistola.

Em seu próprio depoimento na DHC, a mãe de Queven contou que, ao tomar conhecimento do que havia acontecido, passou a tentar localizar o filho, para que ele se apresentasse às autoridades. A mulher diz que passou a tentar fazer contato com o rapaz “por diversas vezes”, até que recebeu como resposta uma confissão, na qual era citada uma suposta traição, embora o casal já estivesse separado. “Ela estava me traindo. Eu avisei: ‘Faz o que for, mas não me trai'”, escreveu Queven para a mãe, segundo o depoimento.

Mãe amarrou o filho

Queven da Silva e Silva foi preso horas depois da morte a tiros de Sarah Jersey Nazareth Pereira Foto: Reprodução

Mais tarde, a mulher soube que o filho estava no Morro dos Prazeres, na Região Central do Rio de Janeiro, onde ambos vivem. Ela afirma que foi, então, “ao encontro de Queven, estando ele drogado e bêbado”, mas que “o convenceu a se entregar”. Outro documento anexado ao inquérito da DHC, no qual é formalizada a prisão em flagrante do assassino, detalha que, apesar de ter “aceitado inicialmente” a sugestão, o rapaz passou a resistir à ideia, “razão pela qual” a mãe “o amarrou, com auxílio de outros familiares”.

Em seu depoimento, a mãe do criminoso explica que os parentes “tiveram receio de Queven desistir e fugir no meio do caminho” e que, “sendo assim, amarraram os pés e as mãos” dele. O grupo, então, desceu com o rapaz imobilizado até a Rua Almirante Alexandrino, uma das principais vias de acesso à comunidade, “onde foram recebidos pelos policiais militares”, ainda conforme o relato da mãe aos agentes.

Inicialmente, o porta-voz da Polícia Militar, tenente-coronel Ivan Blaz, chegou a divulgar que Queven teria sido alvo do “tribunal do tráfico”, que não teria aceitado o crime e iria executá-lo. Ele contou que o assassino foi localizado por uma equipe do 5º BPM (Praça da Harmonia) amarrado e acabou resgatado pelos agentes. O depoimento da mãe só foi prestado na especializada depois que essa primeira versão veio a público.

A auxiliar de serviços gerais também falou aos investigadores sobre as ligações pregressas do filho com o crime organizado — ele possui 47 passagens pela polícia, incluindo roubo, tráfico de drogas e homicídio, e estava foragido da Justiça do Rio desde 2016. Havia pelo menos oito mandados de prisão em aberto contra Queven.

A mãe confirmou que ele “já fez parte do tráfico de drogas do Morro dos Prazeres”, mas que acredita que, atualmente, o filho é “apenas usuário de drogas, apesar de ainda manter amizade com os traficantes locais e conviver no meio deles”. Ela contou que ele usa “cocaína e lança-perfume”, nunca tendo sido “internado para tratamento de dependência química”.

Ao ser ouvida, a mulher também comentou o relacionamento de cerca de sete anos mantido pelo filho com Sarah. Assim como outras testemunhas, ela lembrou que a convivência dos dois “sempre foi conturbada, com diversas brigas”. “Queven já agrediu Sarah em outras duas oportunidades, tendo ela sido hospitalizada e internada em razão das agressões”, informou a mãe do assassino.

*Extra

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