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Monkeypox

“Monkeypox não é doença de gays”, diz pesquisador da UEA sobre possível estigma

OMS chegou a orientar que homens que fazem sexo com outros homens diminuam contato sexual. Assunto foi ironizado pelo presidente Jair Bolsonaro em entrevista para um podcast

Manaus (AM) – O Amazonas já conta com cinco casos confirmados da varíola dos macacos (Monkeypox), além de nove casos suspeitos, e conforme o titular da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM), Anoar Samad, já havia mencionado em entrevista coletiva, a tendência é de aumento dos casos confirmados.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença está se disseminando pelo contato físico entre pessoas, principalmente pela relação sexual entre homens homossexuais (98%). Por isso, o órgão de saúde recomendou que haja redução de relacionamento entre homens.

Nesta segunda-feira (8), durante uma entrevista ao Podcast Flow, o presidente Jair Bolsonaro (PL) debochou da vacina contra a varíola do macaco de forma preconceituosa ao associá-la à homossexualidade.

O professor e pesquisador da Universidade Federal do Amazonas (UEA), Paulo Trindade, diz que um novo estigma foi plantado para prejudicar a comunidade LGBTQIAP+, pois essa minoria está sendo atacada cada vez mais quando surgem novas doenças.

Paulo é especialista em Gênero, Sexualidade e Direitos Humanos pela Universidade do Estado ao Amazonas (UEA). Foto: Reprodução

A orientação da OMS não foi errada, mas não podemos direcionar este tipo de situação a um grupo específico. Precisamos ter cuidado com a maneira que isso será dito para não gerar mais violência, preconceito e estigma. Fazer esse filtro dificulta na testagem e até a busca por tratamento. Na área da saúde, há uma classificação “homem que faz sexo com outros homens (HSH)”, que não se identificam como gays. Monkeypox não é doença de gays. Todas, todos e todes nós podemos nos infectar”

relata Paulo.

Paulo Trindade afirma que o vírus da varíola dos macacos já aflige países africanos há muitos anos, mas discorda da forma como a OMS está informando a população sobre a doença.

“Alertas já eram enviados às autoridades e nunca foi feito nada de concreto. Nem ao menos desenvolver uma vacina específica, afinal, estava apenas no continente africano. Porém, somente agora que o vírus saiu do controle, [o vírus] começou a receber um pouco mais de atenção das autoridades. E em vez de pensar nos impactos ambientais e desigualdades que ocasionam a eclosão dessas novas pandemias, o que as autoridades fazem? Crucificam mais um grupo vulnerável (os gays)”,

completa Trindade.

Paulo Trindade explica que o preconceito e a discriminação existem há muito tempo e para combater esse pensamento é necessário a implantação da educação sexual nas escolas, em conjunto com orientações para prevenir a violência contra a comunidade LGBTQIAP+.

“Precisamos olhar para a história. O estigma plantado sobre corpos dissidentes permanece até hoje, um grande exemplo disso é o combate contra HIV/AIDS. Inclusive, ainda não há vacina, mas todas as pesquisas em torno do HIV/AIDS foram base para acelerar a elaboração da vacina contra Covid-19. Daí a importância de trabalhar esses conteúdos na escola. Algo que tem sido cada vez mais silenciado e inviabilizado diante do discurso de ódio, opressão e preconceito”,

pontua o pesquisador.

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