Os dados mais recentes sobre o mercado de trabalho brasileiro revelam um cenário que pode parecer contraditório à primeira vista: um aumento na proporção de pessoas trabalhando, mas com salários menores — além de um recorde de trabalhadores sem carteira assinada.
“É um copo meio cheio ou meio vazio, dependendo da maneira como você observa”,
resume Bráulio Borges, economista-sênior da consultoria LCA e pesquisador-associado do FGV IBRE.
A taxa de desemprego de 9,3%, registrada no trimestre de abril a junho de 2022, é a mais baixa para o segundo trimestre desde 2015, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Comércio, construção civil, serviços domésticos e outros serviços estão entre as áreas que respondem por maior criação de ocupações. (Veja abaixo a lista completa das áreas com os maiores aumentos).
Borges destacou que, “olhando só o número de pessoas ocupadas, há sete anos que a gente não observa o mercado de trabalho brasileiro em uma situação tão favorável”. No entanto, ele acrescentou que uma análise mais detalhada mostra que “não é uma situação assim tão boa”, em referência a aspectos como a queda de 5,1% no rendimento médio real (R$ 2.652) em relação a igual período do ano anterior.
Veja a lista:
-Alojamento e alimentação (23,1%, ou mais 1 milhão de pessoas)
-Serviços domésticos (18,7%, ou mais 931 mil pessoas)
-Outros serviços* (18,7%, ou mais 805 mil pessoas)
-Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (14,2%, ou mais 2,4 milhões de pessoas)
-Construção (11,2%, ou mais 753 mil pessoas)
-Indústria geral (10,2%, ou mais 1,2 milhão de pessoas)
-Transporte, armazenagem e correio (10%, ou mais 463 mil pessoas)
-Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (5,5%, ou mais 893 mil pessoas)
-Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (5,1%, ou mais 568 mil pessoas)
*Serviços artísticos, culturais, esportivos e recreativos; serviços pessoais, de manutenção e reparos de equipamentos e de objetos pessoais e domésticos.
**Os demais grupos de atividades não tiveram variações significativas, segundo o IBGE
Salário menor e número recorde de informais
No entanto, isso também ajuda a explicar a queda nos salários reais. “Esses setores demandam muita mão de obra, mas, ao mesmo tempo, pagam salários baixos, geralmente pouco acima do salário mínimo, e isso ajuda a entender um pouco outro aspecto: os salários reais estão caindo também”, diz Borges.
Ele destaca que isso não seria o esperado. “É uma situação meio diferente, porque com um desemprego de 9,3%, a gente esperaria que o comportamento dos salários estivesse mais favorável”, diz. “Então os salários estão realmente perdendo, e bastante, da inflação, mesmo com a economia gerando mais e mais empregos em termos quantitativos.”
Também chama atenção o número recorde de trabalhadores sem carteira assinada no setor privado (13 milhões), o maior da série. O aumento foi de 23% na comparação com igual período do ano anterior — bem maior que a alta de 11,5% do número de empregados com carteira assinada no mesmo período.
Lameiras considera “natural” a força do emprego informal neste momento, visto que foi o que mais sofreu na pandemia e destaca que o setor de serviços, que puxa o crescimento “é um setor realmente intensivo em mão de obra informal”.
*Com informações do CNN
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