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Fome

Ao contrário do que diz Bolsonaro, pessoas se alimentam de restos de comidas jogadas em lixo

Bolsonaro colocou em dúvida os dados recentes de pesquisa ao dizer que "não existe fome para valer no Brasil"

Foto: Guito Moreto/Agência O Globo

Felipe, Hilton e Ricardo. Nesta sexta-feira (26), o trio de moradores de rua estava na porta de uma padaria, no Centro do Rio, pedindo pão e se alimentando do lixo descartado pelo comércio, justamente o contrário do que afirmou o presidente Jair Bolsonaro, que em entrevistas, mais cedo, ao programa Pânico, da Jovem Pan, e ao Ironberg Podcast, colocou em dúvida os dados recentes ao dizer que “não existe fome para valer no Brasil”.

“Essa senadora [Simone Tebet] aí, falou besteira aqui. Gente passa mal? Sim, passa mal no Brasil. Alguém já viu alguém pedindo um pão na porta, ali, no caixa da padaria? Você não vê, pô. Até no interior. Tem gente que passa mal? Tem gente que passa mal, sim. Mas quem porventura está na linha da pobreza, passando fome, sim, deve ter gente que passa fome, e só” afirmou o presidente durante a entrevista ao Pânico.

Mas não é o que se vê em uma rápida passada pelo Centro do Rio de Janeiro. Pouco após o presidente da República ter dito as frases, o morador de rua Felipe Rodrigues, de 40 anos, se alimentava do lixo em frente à padaria onde marca ponto na Rua do Riachuelo. Todos os dias, pela manhã, ele vai ao local pedir pão para se alimentar, e como ele mesmo diz, depois sai à caça do almoço e do jantar, sem saber se irá conseguir se alimentar.

“Peço pão aqui na padaria todo dia de manhã. Todo dia de manhã venho aqui no gerente e peço. Todas as vezes eu consigo e daqui para a frente até a hora do almoço eu vou caçando cada vez mais. Teste de sobrevivência é esse”, afirmou Felipe, que também já passou mal nas ruas por não ter o que comer e respondeu à fala de Bolsonaro.

” Isso é uma injustiça. Se nós não pedir (sic), nós morre (sic) de fome, porque é isso aí que tu tá vendo”, completou, apontando para o lixo.

Na companhia de Felipe, o ex-taxista Hilton Teixeira, de 48 anos, também buscava uma doação e catava alimentos em meio ao descarte do comércio. Ele conta que trabalhava com transporte, mas há seis anos perdeu tudo e acabou em situação de rua.

“Já pedi pão, peço salgados todo dia. A gente chega para pedir e a maioria dos clientes correm da gente. Até já cheguei a passar mal, fiquei fraco, mas graças à Deus achei uma quentinha com um amigo dormindo, acordei o senhor e ele disse “pode pegar” “, disse Hilton, que perdeu os documentos todos e busca ajuda para fazer a segunda via dos mesmos e poder dar entrada no recebimento do Auxílio Brasil.

Ao lado, Ricardo Rodrigues comemorava ter achado um frango inteiro no lixo da padaria, garantindo o jantar dele e de amigos com quem divide os alimentos recolhidos na rua. Ex-morador de Petrópolis, ele vive nas ruas do Rio há quatro anos após abandonar o antigo lar devido à violência doméstica.

“Po, esse frango vai fortalecer demais o jantar com os amigos. Aqui sempre dá para conseguir algo bom para se comer. Como sempre tem uma sobra de pão, a gente vem aqui pedir e tem aqueles clientes que ajudam”, disse Ricardo.

E no mesmo momento em que o jovem falava, uma moradora da Região, a aposentada Maria Ivone de Lourdes dava um pouco de pão para o grupo. Ela conta que a situação na região do Centro piorou muito, com aumento da população em situação de rua nos últimos anos e procura ajudar como pode, apesar de ter suas dificuldades também.

“Se a gente sair na rua dez vezes ao dia, dez vezes eles pedem “me dá um trocado para tomar um café. Estou morrendo de fome”. Eu tenho dó.

*Com informações do site Extra

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