Em Londres para o funeral da rainha Elizabeth 2ª, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), divulgou vídeo na noite de domingo (18) em que dizia que a gasolina no Brasil era “uma das mais baratas do mundo”, e fez uma comparação com o Reino Unido.
Diante de um posto de combustíveis na capital britânica, que vendia o litro da gasolina por 1,61 libra (equivalente a cerca de R$ 9,70), Bolsonaro afirmou que o valor era “praticamente o dobro da média de muitos Estados do Brasil”.
“Estou aqui em Londres, Inglaterra. O preço da gasolina: 1,61 libras. Isso dá aproximadamente 9 reais e 70 centavos o litro. Ou seja, praticamente o dobro da média de muitos Estados do Brasil”,
disse.
No entanto, a fala do presidente não leva em conta as diferenças de renda da população entre os dois países — e, portanto, quanto tempo um cidadão teria de trabalhar para abastecer seu carro.
Preço da gasolina em Londres. O governo do PR @jairbolsonaro atuou para apoiar a população do nosso Brasil 🇧🇷 pic.twitter.com/AOyt3WS6Fg
— Marcelo Queiroga 🇧🇷🇧🇷 (@mqueiroga2) September 18, 2022
No Reino Unido, o salário mínimo é de 9,50 libras por hora. Considerando o preço da gasolina a 1,61 libra por litro, como indicava o letreiro do posto diante do qual Bolsonaro fez o vídeo, um cidadão britânico recebendo salário mínimo teria de trabalhar o equivalente a 10 minutos para comprar um litro de gasolina.
Já no Brasil, o salário mínimo é de R$ 1.212 por mês, ou R$ 5,51 por hora. Considerando o preço médio da gasolina a R$ 4,97 por litro, como aponta o último levantamento da Agência Nacional de Petróleo Biocombustíveis e Gás Natural (ANP), um cidadão brasileiro comum teria que trabalhar o equivalente a 54 minutos, ou seja, quase seis vezes mais do que o britânico para pagar pelo mesmo litro do combustível.
Em relação à renda per capita — o Produto Interno Bruto (PIB), ou soma de bens e serviços produzidos por um país, dividido por sua população, a gasolina também é mais barata para o britânico do que para o brasileiro.
No ano passado, a renda per capita anual do Reino Unido foi de US$ 49.675, enquanto a do Brasil, US$ 16.506, segundo o Banco Mundial.
Sendo assim, considerando o correspondente dos valores mencionados acima em dólar, o litro de gasolina custaria 0,004% da renda média do britânico, ao passo que 0,006% da renda média do brasileiro.
“Bolsonaro fez a mera conversão de câmbio nominal”, explica Fabio Terra, professor de Economia da Universidade Federal do ABC (UFABC). “Não é só preço o que importa, importa muito a renda porque ela é o que permite que se compre algum ‘preço’, ou seja, algum produto”, acrescenta.
Terra, da UFABC, acrescenta que, apesar disso, “importamos parte razoável do que consumimos aqui também”.
“No caso do diesel, a importação chega a 30%. Importamos também muitos refinados de petróleo. E fazemos essa importação com uma moeda fraca quando comparada ao dólar, moeda em que se cota o petróleo, enquanto que o Reino Unido faz com moeda forte”,
assinala.
Nas redes sociais, usuários também apontaram a contradição matemática de Bolsonaro.
Salário mínimo por hora
— Julio Ponce (@jasonptodd) September 18, 2022
🇧🇷: R$ 5,50 🇬🇧: £9.50
Preço médio do litro de gasolina
🇧🇷: R$ 4,97 🇬🇧: £1.66
Litros de gasolina que dá para comprar com uma hora de trabalho
🇧🇷: 1,11 🇬🇧: 5,7 https://t.co/PCesRErSan
Segundo um ranking elaborado pela plataforma de monitoramento Global Petrol Prices, o Brasil tem a 34ª gasolina mais barata entre 168 países e territórios (0,99 dólar por litro). E os brasileiros também pagam menos por esse combustível do que a média mundial (1,33 dólares por litro).
No entanto, essa lista tem forte influência da taxa de câmbio, pois os valores são convertidos em moeda local para o dólar.
Nesse sentido, como a libra esterlina é mais valorizada ante o dólar americano que o real brasileiro, o Reino Unido aparece nesse ranking como tendo gasolina “mais cara” do que o Brasil.
De acordo com a Global Petrol Prices, o país onde a gasolina é mais barata é a Venezuela. Ali, o litro da gasolina custa o equivalente a US$ 0,02.
Mas Terra, da UFABC, ressalva: “No caso da Venezuela são duas coisas, por um lado a abundância de petróleo; por outro, a política de precificação que eles usam para transpor os preços ao produtor para os preços ao consumidor”.
O governo venezuelano mantém os preços da gasolina sob rígido controle e subsidia grande parte do custo, mantendo os valores baixos para o consumidor final.
*Com informações do site BBC Brasil
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