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Conhecimento contra ignorância

Cientista renomado se dispõe a ensinar Neymar sobre mudanças climáticas: “Sem cobrar nada”

O influenciador defende a “PEC da privatização das praias”, criticada por cientistas e especialistas brasileiros em clima

“Neymar precisa aprender um pouco mais sobre mudanças climáticas”, afirma o climatologista brasileiro Carlos Nobre, de 73 anos, nessa semana, em coluna no UOL News, ao comentar sobre o apoio dele a um empreendimento imobiliário que se beneficiaria da “PEC da privatização das praias”. O cientista também se ofereceu para ensinar gratuitamente o influenciador.

A PEC que Neymar defende propõe retirar da União a exclusividade sobre os terrenos de áreas costeiras, como praias e contornos de ilhas, cuja titularidade passaria a ser da iniciativa privada.

A discussão ganhou repercussão no último final de semana depois que a atriz Luana Piovani criticou o jogador por seu apoio à PEC, proposta pelo senador Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Neymar anunciou uma parceria com uma incorporadora em um projeto anunciado como “Caribe brasileiro”, com imóveis de alto padrão em uma área de 100 quilômetros entre os litorais de Pernambuco e Alagoas.

“O Neymar devia aprender um pouquinho mais sobre mudanças climáticas. Se ele quiser, eu posso até ensiná-lo sem cobrar nada”,

afirma Carlos Nobre.

Nobre destacou que é absolutamente sem sentido privatizar as praias, especialmente se considerado que o nível do mar está subindo e as ressacas, ficando mais fortes.

“Eu fui lá visitar o lugar que eu joguei tanto futebol. Não existe mais, porque a praia de Itanhaém [SP] é tão plana, que o mar subiu. Então é uma coisa absurda, sem sentido, privatizar as praias porque o nível do mar tá subindo, o nível das ressacas está ficando mais forte, então aquilo tem que ser sempre mantido como terreno público para ter uma proteção.”

“Eu sou totalmente favorável que aquilo tudo seja público. Eu quero visitar qualquer praia. Eu estudei meu doutorado nos Estados Unidos, tinha que às vezes caminhar ou ir de bicicleta, cinco, seis quilômetros para entrar no lugar da praia, o resto era privatizado. Nunca achei isso uma boa ideia”, defende.

“Em duas, três, quatro décadas vai ter um enorme risco onde hoje não é público, o nível do mar vai subir para onde hoje tem estradas, rodovias, populações morando. A gente vê no Nordeste que as ressacas ficaram tão fortes e já destruíram um monte de casas que não estão nem em lugar público. É só mostrar para vocês que isso não tem sentido nenhum, privatizar as praias. Tem que se pensar muito mais, com o aumento do nível do mar e da força das ressacas, qual vai ser o marco legal para ver áreas que vão ser atingidas já, além da parte pública das praias.”

Carlos Nobre afirmou que a pauta da privatização das praias deve subir ao Supremo Tribunal Federal porque o risco ambiental é muito grande.

“Se por acaso o Senado aprovar, eu acho que é muito importante levar esse assunto, que ele seja vetado pelo governo federal. Sem dúvida, vários ministros podem afirmar por que isso tem que ser vetado, inclusive do meio ambiente, mas não só do meio ambiente. E isso vai subir para o Supremo Tribunal Federal, porque o risco ambiental é tão grande que não faz sentido”, finaliza.

Biografia

Carlos Nobre é um cientista reconhecido por seu trabalho nas interações biosfera-atmosfera e impactos clima-ecológicos do desmatamento da Amazônia e do aquecimento global, trabalhando especialmente com o risco de ‘savanização’ desse Bioma.

Carlos é Ph.D. Graduado em Meteorologia pelo Massachusetts Institute of Technology, EUA, e atua há mais de 35 anos no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Ele foi um arquiteto para o estabelecimento de uma série de instituições de pesquisa no Brasil, incluindo o Centro Brasileiro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), o Centro de Ciências do Sistema Terrestre (CCST) e o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta Antecipado de Desastres Naturais (CEMADEN).

Atualmente, é Cientista Sênior do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo e está defendendo o chamado projeto Amazônia 4.0, uma iniciativa científica para desenvolver uma “bioeconomia florestal permanente para a Amazônia”. Ele é autor ou co-autor de mais de 250 artigos científicos, capítulos de livros e livros e recebeu vários prêmios científicos. Carlos é um dos Co-Chairs do Science Panel for the Amazon (SPA) e membro do SPA Science Steering Committee.

*Com informações do Uol

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