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violência sexual

Amazonas registra aumento no número de casos de estupros de crianças e adolescentes

Número de casos mensais em 2024 são maiores do que foi registrado em 2023

O Amazonas registrou aumento no número de casos de estupros de crianças e adolescentes em 2024, conforme dados do Painel de Indicadores Criminais da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM).

De janeiro a julho, o Estado registrou 590 casos, enquanto ano passado teve 380 nesse mesmo período, o que representa um aumento de 55,26% no número de estupro de crianças e adolescentes este ano.

Ao compararmos o número de casos de 2023 e 2024, é possível ainda ver que a quantidade de ocorrências a cada mês deste ano é superior ao que foi registrado no ano anterior.

Foto: Divulgação

Em julho, por exemplo, enquanto em 2023 foram registradas 62 ocorrências, neste ano, o índice chegou a 107, sendo um aumento de 72,58% em apenas um mês.

Essa crescente continuou chamando atenção nos meses seguintes, apontando que o número de estupros em 2024, provavelmente, irá superar o número total de casos registrado ano passado, que foi 702.

Outro dado que ascende o alerta das autoridades é o fato do município de Manacapuru estar entre as 50 cidades brasileiras com mais incidência de estupro, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024. 

O município é o único representante do Estado na lista, a cidade ocupa a 41ª posição no ranking, com uma taxa de 64,8%. 

O aumento nos casos de abusos sexuais contra crianças e adolescentes chamam atenção das autoridades e gerando operações para combater o crime no Amazonas.

Nos últimos meses, por exemplo, as prisões despertaram atenção por conta das pessoas responsáveis pelos abusos, geralmente pessoas de confiança das famílias das vítimas.

Estupro e aborto

Este ano, um dos casos que mais repercutiu no Estado e desencadeou em uma grande investigação aconteceu no município de Coari, no interior do Amazonas, onde o padre Paulo Araújo da Silva, de 31 anos, foi preso suspeito de estuprar, engravidar e obrigar uma adolescente de 17 anos a abortar o feto.

Segundo a Polícia Civil do Amazonas, a jovem começou a ser abusada pelo padre aos 14 anos, e acabou engravidando aos 17.

“O padre obrigou ela a abortar. Teve a participação do Francisco Rayner, amigo do padre, que levou o medicamento chamado Misoprostol e ela foi obrigada a ingerir esse medicamento”, disse o delegado José Barradas Júnior.

Durante as investigações, foi constatado também que o padre Paulo fazia constantes ameaças à vítima, afirmando que, caso ela não continuasse a ter relações sexuais com ele, “iria acabar com a vida dela, pois ela era sua e de mais ninguém”.

‘Sinal divino’

Outro caso de bastante repercussão foi o estupro de uma adolescente 13 anos, em Boa Vista do Ramos. O suspeito do crime é um missionário religioso de 27 anos, que dizia para a garota que eles deveriam ter relações sexuais, pois ele havia recebido um “sinal divino”.

A adolescente contou aos policiais que ambos estavam noivos e por isso, tinham esse tipo de relacionamento.

Neste caso, a polícia não informou se os pais da menina sabiam da situação. O crime vinha ocorrendo desde 12 de fevereiro de 2023 e foi descoberto no último mês.

Traumas

Crianças e adolescentes que passam por esse tipo de traumas, carregam um misto de emoções que alteram sua percepção sobre a vida, conforme explica a psicóloga especialista no atendimento feminino, Ana Paula Lucena.

“Essa agressão, além de emocional, também é física. Isso afeta profundamente não só sua percepção de mundo, mas o próprio corpo passa a ter reações automáticas ao trauma. Muitas crianças e adolescentes
podem ter episódios de dissociação aumentados, sentindo a necessidade de desligar-se da realidade da qual não consegue fugir em sua própria casa ou quando o abusador não é denunciado”, afirma.

São muitas vidas impactadas por um abuso sexual na infância. A curto ou longo prazo, vítimas que não recebem o devido tratamento tendem a desenvolver uma série problemas decorrentes da agressão sexual e emocional que sofreram.

“Muitas das vezes os adolescentes e crianças podem apresentar alterações nos seus comportamentos, algumas sutis e outras muito abruptas e intensas. Cada pessoa poderá ter experiências diferentes a depender do seu processo de acolhimento após a constatação da violência, sendo crucial uma abordagem validante e acolhedora”, reiterou a psicóloga Ana Lucena.

A profissional destaca que há tratamentos direcionados aos pacientes em atendimento, que passarão por um processo para entender os sinais de violência, e que é preciso também ter um apoio social.

“Embora o impacto do abuso sexual seja devastador, existem abordagens psicoterapêuticas baseadas em evidência para ajudar a processar e sobreviver ao trauma”, destaca.

“A psicoeducação, por exemplo, ajuda a vítima a compreender que não foi sua culpa, sendo algo essencial. Além da terapia, o apoio social e legal também terá um papel significativo, e é por isso que durante a denúncia do crime a criança, adolescente ou adulto precisará ser acolhido e respeitado, não atribuindo novas violências emocionais ao processo”, acrescenta.

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