Na entrada de Teixeira de Freitas (BA), a 822 km de Salvador, uma estátua de melancia exibe com destaque o título de capital nacional da fruta. O monumento mostra a melancia em seu formato mais conhecido: vermelha e com sementes pretas.
Novas variedades chegam ao mercado
Entretanto, processos de melhoramento genético, mudanças de consumo e estratégias do agronegócio indicam que a melancia do futuro poderá ser menor, sem sementes e até amarela. Essas tendências foram discutidas na cidade nos dias 11 e 12 de novembro, durante o Tech Show Melancia, organizado pela Basf.
O encontro reuniu produtores, distribuidores e representantes do varejo. O objetivo foi debater caminhos para aumentar o consumo da fruta no Brasil. Segundo o IBGE, a safra 2023/2024 produziu 1,78 milhão de toneladas de melancia, com a Bahia na liderança, responsável por 230 mil toneladas.
Apesar da preferência do mercado por melancias maiores — acima de 14 kg — a atração do evento foi a variedade Pingo Doce, menor, mais adocicada, sem sementes e disponível nas versões vermelha e amarela.
Como surgiu a Pingo Doce
A história da fruta começou em 2016, quando a Basf, por meio da marca Nunhems, identificou consumidores buscando uma melancia menor e mais saborosa. A solução veio da Espanha, onde produtores já ofereciam frutas com esse perfil.
“Em 2016 eu comecei a querer entender como estava o processo de produção de melancias no mundo. Fui até os EUA várias vezes, mas na Espanha é que eu tive uma grata surpresa. Os produtores eram muito tecnificados e entregavam um produto de extrema qualidade. Trouxemos esse híbrido para o Brasil e lançamos a Pingo Doce no final de 2018”, explicou Golmar Beppler Neto, gerente de Vendas da Basf Brasil.
O que significa melancia “híbrida”
O termo “híbrido” vem da genética e indica o cruzamento de variedades da mesma espécie para modificar características da fruta — tornando-a mais doce, mais firme, menor ou mais saborosa.
Mas essa técnica não significa transgenia. Antonio Carlos Pierro, gerente de Desenvolvimento de Produtos da Basf para a América Latina, esclarece:
“Ela é um alimento obtido através do melhoramento genético e natural. É um processo que busca imitar em condições controladas processos que já existem na natureza.”
Ele reforça que todos os vegetais consumidos hoje passaram por mudanças naturais ao longo de milhares de anos.
Como exemplo, citou variedades de cebola que não fazem chorar, como Dulciana (Bayer) e Sunion (Basf).
Mercado quer frutas menores e sem sementes

A Pingo Doce é só uma das mais de dez variedades sem sementes da empresa. Para Beppler, esse mercado tende a crescer, assim como o das frutas menores, já que elas facilitam transporte e reduzem perdas para distribuidores e varejo.
“Nós acreditamos muito que com a democratização dessa fruta sem semente para vários públicos do Brasil, a gente tenha muito mais praticidade, conveniência e uma fruta saborosa”, afirmou. Além disso, destacou que a fruta menor melhora a logística e agrega valor ao produtor.
A Basf, porém, aposta em posicionar a Pingo Doce como produto premium. No início, mais de 20 produtores cultivavam a variedade. Hoje são oito — e o número deve diminuir conforme as exigências técnicas aumentem.
Mesmo assim, a produção cresce cerca de 15% ao ano, alcançando 35 mil toneladas em 2024 em mil hectares plantados.
Desafios logísticos
A melancia tem alta perecibilidade e precisa chegar ao consumidor entre 20 e 25 dias após a colheita. Por isso, a empresa busca verticalizar processos para ganhar agilidade.
Produtor investe em estrutura exclusiva
O produtor Pedro Orita cultiva melancia há mais de 30 anos em Teixeira de Freitas e, desde 2019, é um dos principais fornecedores da Pingo Doce no país. Ele responde por mais de 30% da produção nacional, com 350 hectares dedicados às versões amarela e vermelha.
Segundo ele, a adaptação ao novo tipo de fruta exigiu mudanças no campo e no pós-colheita. Orita investiu em um packing para processar e embalar cerca de 200 toneladas por dia.
“O desafio foi muito grande porque a melancia no Brasil é diferente. Até colocar no mercado leva um certo tempo pra se adaptar. No campo também houve uma dificuldade, porque é uma variedade diferente, que a gente não conhecia. O desafio para chegar a esse ponto de produção foi grande”, afirmou.
*Com informações da IstoÉ Dinheiro
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