O estudo qualitativo “Inteligência Artificial na Educação: usos, oportunidades e riscos no cenário brasileiro”, realizado pelo Cetic.br e pelo NIC.br, analisou o uso de IA por alunos e professores do ensino médio de escolas públicas e privadas em São Paulo e Pernambuco. A pesquisa revelou um uso indiscriminado da tecnologia, tanto em atividades escolares quanto em apoio emocional e pessoal.

“Um uso quase selvagem, porque eles usam para tudo, desde pesquisar uma palavra, até entender uma dor que estão sentindo, receita, lembrete, para várias atividades escolares, anotações, para fazer resumo, para realizar tarefas inteiras, até para suporte emocional. Eles falam bastante disso também, que usam como terapeuta, como conselheiro. Enfim, um uso bastante diverso e amplo do ponto de vista dos alunos”, disse à Agência Brasil Graziela Castello, coordenadora da pesquisa. Pesquisadores realizaram o trabalho de campo entre junho e agosto de 2025 e divulgaram os resultados no seminário INOVA IA 2025, no Rio de Janeiro.

Professores também usam IA de forma intensa

Os educadores utilizam a IA generativa principalmente para preparar aulas e apoiar atividades pedagógicas, mas sem supervisão ou orientação das escolas. Graziela ressalta que alunos e professores buscam informações sobre uso ético e seguro, mostrando interesse em aprender como aplicar a tecnologia de maneira correta.

“E eles querem informação, querem saber como usar de maneira ética, segura, sem riscos.”

Riscos do uso indiscriminado

A coordenadora do estudo alertou que, diferente da internet, a IA entrou rapidamente na vida escolar, com uso intenso e reconhecimento dos riscos.

Os alunos temem desaprender, perder a criatividade ou dependência excessiva da tecnologia. “(Medo) de que, agora, o processo fique tão pasteurizado que eles percam a nuance daquilo que são”, disse Graziela.

Professores também percebem benefícios, como redução de tarefas repetitivas e customização de atividades, mas utilizam a ferramenta de forma experimental e sem orientação formal.

“Eles querem informação. Acham que a escola é lugar para formação de alunos e professores, mas também se sentem sobrecarregados. Eles também problematizam isso: quem deveria dar essa informação e em que condições”, explicou Graziela.

Desigualdades de acesso à tecnologia

A pesquisa apontou diferenças significativas entre escolas públicas e privadas. Alunos de instituições privadas, com acesso a computadores, conseguem usar a IA com mais proveito, enquanto quem depende de celulares enfrenta limitações.

“Fundamentalmente, você tem ainda a reprodução de desigualdades em infraestrutura digital que vão ampliar, se não forem contornadas, ainda mais essa desigualdade de oportunidades entre escolas públicas e privadas”, destacou a coordenadora.

Formação, regulação e pensamento crítico

O estudo enfatiza a necessidade de regimentos, protocolos e políticas para orientar o uso da IA, garantindo segurança e aprendizado de forma ética. Graziela destaca a importância do letramento digital, incluindo compreensão sobre dados, proprietários das informações e adaptação ao contexto brasileiro.

“Tem uma série de enfrentamentos que têm de ser feitos simultaneamente. A questão é que a coisa (IA) entrou com uma velocidade e a gente vai ter que trocar a roda do carro com ele andando”, apontou Graziela Castello.

Além disso, alunos precisam desenvolver pensamento crítico, aprendendo a checar informações e evitar reprodução de erros ou vieses presentes nas ferramentas de IA.

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