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VULNERABILIDADE SOCIAL

Casa Esperança acolhe crianças e adolescentes em vulnerabilidade de Manacapuru

Atualmente, a instituição atende um público de 24 acolhidos, até 17 anos de idade, em situação de risco pessoal ou social

Foto: acervo pessoal

Manacapuru (AM) – Negligência ou vulnerabilidade social são, atualmente, os principais fatores que levam crianças e adolescentes para as casas de acolhimento. O acolhimento é uma medida protetiva, excepcional e temporária. Prevista em lei – tanto na Constituição Federal quanto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) -, tem como objetivo o abrigamento de meninas e meninos que estejam em situação de vulnerabilidade, maus-tratos, abandono, violência física, abuso sexual ou outra situação que viole a garantia de proteção e dignidade.

Existem, aproximadamente, 30 mil crianças e adolescentes morando em mais 4.533 casas de acolhimento no Brasil. Atualizado, o número pode ser maior, já que mais de 130 mil menores de idade perderam o cuidado de um dos seus responsáveis, como pai, mãe ou outro tutor, durante a pandemia. Os dados foram divulgados em 2021 pelo Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Atuando há 13 anos em prol dessa população, a Casa Esperança é um espaço de acolhimento institucional de crianças e adolescentes localizada no município de Manacapuru (distante a 68 quilômetros de Manaus). Atualmente, a instituição atende um público de 24 acolhidos, com idades entre meses de vida e 17 anos, em situação de risco pessoal ou social.

Natural do interior do Pará, a diretora executiva da instituição, Ivanita Caldeira Lima, de 51 anos, destaca que sentiu a vontade de criar a ONG após ver a necessidade do município. A sede funciona na avenida Gilberto Mestrinho, n° 1583, no bairro Liberdade.

“Iniciamos apenas oferecendo alimentação e reforço escolar. Depois fomos cuidando desse mesmo público que estava com baixo peso e hoje somos um acolhimento. Fui freira durante dez anos da minha vida, sempre me preocupei com as necessidades das pessoas e quando eu vim para Manacapuru, me deparei com outra realidade. Sempre me preocupei por também ter vindo de uma família muito humilde”, pontuou.

Foto: acervo pessoal

Após sair da instituição religiosa, decidiu concorrer à eleição para o primeiro Conselho Tutelar de Manacapuru. Dessa forma, começou o trabalho de Ivanita em prol da asseguração dos direitos da crianças e adolescente do município. Sempre sentindo no coração a vontade de ajudar, a diretora da ONG almejava que os colegas de escola do seu filho biológico tivessem as mesmas oportunidades que ele teria.

“O interessante é que eu pude entrar na casa das pessoas com mais credibilidade, no sentido de zelar pelos direitos, e isso foi me dando uma garantia de que eu podia fazer mais pelas crianças. Resolvi trazer os colegas do meu filho para casa, oferecia brinquedos, comprava caderno para aqueles rabiscassem e assim foi aumentando o número. Já não tinha mais como não ficar com aquelas crianças diariamente. Com essa brincadeira, o grupo aumentou para 25 crianças”,

destacou.

Risco da fome

Em média, 2,7 milhões de pessoas que vivem no Amazonas se encontram em situação de insegurança alimentar moderada ou grave. Os dados foram apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e são referentes ao biênio (2017-2018), como resultado da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, sobre Segurança Alimentar.

Levando em conta esses números, Ivanita ressalta que sempre teve como meta principal mudar essa realidade. O projeto, que começou atendendo as crianças e adolescentes que buscavam um simples lanche, se ampliou e agora oferece atendimento para quem se encontra em condições mais precárias. O Serviço de Acolhimento Institucional oferece acolhimento em diferentes tipos de equipamentos (Casa Lar, Abrigo, Casa de Passagem e Residência Inclusiva) com o objetivo de garantir proteção integral.

“Buscamos eliminar da vida deles aqueles alimentos que fazem mal e oferecemos uma alimentação melhor para que tivessem um certo crescimento. A partir disso, uma amiga minha que é nutricionista trabalhou comigo na criação desse projeto e deu certo. Fomos nas escolas, dávamos palestra em muitos lugares e foi muito bom. Conseguimos melhorar muito a vida deles. O projeto se expandiu e já começamos a ficar com algumas crianças que estavam em situação crítica, já somos procurados até mesmo pelo hospital de Manacapuru para atender aquelas crianças com baixo peso ao extremo”,

ressaltou.

“Começamos a trazer e ficar com eles durante o período de tratamento, que durava uma média de 20 a 45 dias. Assim começamos realimente o internato.  Nos deparamos com algumas famílias que já não tinham o interesse em ficar com a criança, ficavam muito relaxadas e tivemos que entrar com o judiciário para que aquela família não tivesse mais tanto poder sobre aquela criança. Às vezes pegávamos a criança em uma segunda e devolvíamos na sexta e, em muitas vezes, nós a buscávamos do mesmo jeito. Nem sequer davam banho”, completou Ivanita.

Foto: Acervo pessoal

Conforme a diretora-executiva do local, a ajuda de voluntários e de outros parceiros tem sido fundamental para o funcionamento do espaço que conta com dois berçários, dois quartos, brinquedoteca, lactário, sala de saúde, espaço educacional, sala psicossocial, sala de atendimento, coordenação geral, cozinha, refeitório e despensa.

Buscando o fortalecimento de vínculo famílias, a ONG não trabalha diretamente com adoção. Em casos necessários, a Casa Esperança se coloca a frente para dar início aos trâmites legais.

“Nosso primeiro foco é que elas voltem para as famílias. Se por ventura, de alguma forma, não voltou para família, solicitamos para a justiça o pedido da perda do poder familiar. Dependendo do que a justiça entender do pedido, se ele é válido ou não, aí ela coloca para uma fila de adoção. Nosso primeiro objetivo é fortalecimento de vínculo, é o resgate da família para aquela criança”, pontuou.

Sonho ainda maior

Com o intuito de expandir o espaço da Casa Esperança, Ivanita ressalta que chegou a alugar um espaço maior para crianças de 0 a 18 anos. Após enfrentar dificuldades com o aluguel, precisou retornar para o local onde tudo começou, na própria residência. Após mobilização da comunidade, a realização desse sonho foi possível.

Foto: acervo pessoal

“Hoje nós conseguimos, com a graça de Deus e a ajuda de uma família muito generosa que nos ofereceu um recurso em espécie, comprar um terreno ao lado da minha casa. Está muito lindo, estou muito orgulhosa do que temos hoje. Conseguimos ampliar o espaço. Dia 30 abriremos para que as pessoas possam ver o resultado das doações, porque tudo aqui foi fruto de doações de pessoas físicas, todo o material de construção, tudo aqui. A casa está linda e adequada as nossas crianças e agradeço muito a Deus por essa realização”, ressaltou emocionada.

A instituição já recebeu o apoio da Prefeitura Municipal de Manacapuru por oito meses e do Governo do Amazonas por meio de um convênio de nove meses. Atualmente, com o apoio do Fundo de Promoção Social (PPS), a Casa Esperança conseguiu um veículo para o transporte.

A Casa Esperança também conta com uma sala de artes, onde as crianças do abrigo produzem itens que são vendidos e tem a renda convertida em donativos. Neste ano, a instituição pretende construir uma sala de fisioterapia para atender à necessidade das crianças com deficiência.

“Somos 19 pessoas para manter o abrigo funcionando, sendo nove cuidadoras, porteiro, serviços gerais, setor financeiro e setor psicossocial. Precisamos muito de doações, pois custos são altos e esse ano estamos gastando muito com material escolar e merenda para às crianças. Pedimos que nossos padrinhos continuem nos ajudando, inclusive com alimentos. Pois, poderemos destinar nossa renda, para outras necessidades do local”, destacou.

Quem quiser contribuir com o trabalho da Casa Esperança pode entrar em contato por meio do número: (92) 99341-0659.

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