Manaus (AM) – A imunização é um direito da criança e, para que o Brasil tenha proteção coletiva, é necessário que os pequenos sejam vacinados ainda na infância. Embora as vacinas sejam aplicadas gratuitamente nas unidades básicas de saúde da rede pública, o índice da imunização infantil vem caindo de forma vertiginosa no país e, atualmente, encontra-se nos níveis mais baixos dos últimos 30 anos, afirmou a Agência Senado, em maio deste ano.
A baixa adesão começou em 2015 em diversas campanhas de vacina. Em 2021, a situação agravou mais ainda quando apenas 60% das crianças foram vacinadas contra a hepatite B e tétano. Em relação à vacina contra a paralisia infantil (poliomelite), esse número nem chegou perto dos 70%, um resultado preocupante.
Vacinação infantil em Manaus é preocupante
A Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), informou que apenas 51% das crianças foram vacinadas durante a campanha vacinal contra a poliomielite, sendo que a expectativa do Ministério da Saúde era que a meta chegasse a, pelo menos, 95% do público. Outro imunizante importante, a vacina contra o sarampo, que gera preocupações por causa da alta suscetibilidade dos pequenos contra os sintomas graves que apresenta, teve apenas 64,90% das crianças vacinadas.
“No primeiro semestre deste ano, apenas 64% das crianças foram vacinadas, mas a meta é imunizar 95% do público infantil de até 1 ano, 11 meses e 29 dias de idade. A população estimada era de 18.966 crianças, mas só 12.309 foram levadas aos postos de vacinação para receber a 1ª dose”,
alertou a secretária de saúde municipal, Shádia Fraxe.
A secretária também afirmou que o sarampo é uma doença altamente transmissível e perigosa, e afeta principalmente as crianças menores de 5 anos de idade. Entre as complicações da doença, a pneumonia é maior, mas também há outros quadros graves que podem levar à morte. “O sarampo é uma doença imunoprevenível, ou seja, quem está com esquema vacinal atualizado, está protegido”, reforça.
Os sintomas da doença também são muito desconfortáveis para os pequenos, sendo os três principais: febre, manchas vermelhas na pele, tosse, coriza e conjuntivite. As manchas vermelhas podem ser confundidas com uma reação alérgica e por isso é essencial uma avaliação médica nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs).
Para combater essa doença, que uma já havia sido erradicada no país, o imunizante disponível nos postos de saúde é a tríplice viral, capaz de proteger a criança do sarampo, caxumba e rubéola. São necessárias duas doses da vacina até os 59 anos de idade. A comprovação deve constar na carteira de vacinação.
Reintrodução de doenças no país
Em 2022, 51 casos suspeitos de sarampo foram notificados em Manaus, sendo 50 deles descartados – um segue em investigação. O Brasil registrou neste ano, 44 casos confirmados de sarampo, com os estados de São Paulo e Amapá mantendo surto ativo da doença. Em 2016, o país havia recebido o certificado de eliminação do sarampo concedido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mas o status foi perdido em 2019, após reintrodução do vírus e confirmação de novos casos em grande escala.
Especialistas da área da saúde temem que, se esse quadro de baixa vacinação se manter gradativamente, o país poderá assistir a novas catástrofes sanitárias, com o ressurgimento de epidemias que eram comuns no passado e que fizeram muitas vítimas. Por isso, alertam mais uma vez que, a vacinação deve ser seguida “ao pé da letra”, evitando lamentações futuras de muitas famílias.
“A meningite e a caxumba, por exemplo, podem causar surdez. O sarampo pode retardar o crescimento e reduzir a capacidade mental. A difteria pode levar os rins à falência. A coqueluche pode provocar lesões cerebrais. Quando a mulher contrai a rubéola na gravidez, o bebê pode nascer com glaucoma, catarata e deformação cardíaca, entre outros problemas, além do risco de aborto”,
diz um treco do artigo de Ricardo Westin, publicado pela Agência Senado.
Importância da vacinação
As doenças imunopreviníveis são aquelas que podem ser prevenidas através da vacinação. Contestar este sistema de prevenção dá brecha para a perda precoce de crianças. O infectologista Noaldo Lucena alerta para a importância do imunizante, uma vez que este é fundamental para a conservação da saúde do ser humano como um todo
“Todo mundo sabe que existem períodos pré-vacina e pós-vacina. Por exemplo, quando a gente fala de febre amarela, a gente sabe que a pessoa vacinada, muito provavelmente, não irá morrer. E a mortalidade da pessoa que contrai febre amarela e não é vacinada para ela, é próxima de 100%. Então, a vacinação para crianças, em especial para evitar todas as doenças como sarampo, rubéola, catapora e etc, é absolutamente necessário que seja colocada de uma forma muito clara e coerente na mídia para que os pais retomem outra vez a importância da vacinação”,
ressalta Lucena.
Apesar de o município disponibilizar informações importantes sobre a vacinação para população, Noaldo Lucena enfatiza que os meios de comunicação como rádio, televisão e, principalmente, a internet, devem ser utilizados de maneira mais clara quanto à saúde infantil, para que os pais possam refletir a real função dos imunizantes.
“Seria o ideal para que os pais pudessem saber que eles não ficaram doentes porque foram imunizados por uma série de vacinas na infância, e que seus filhos começam a correr riscos que são absolutamente desnecessários e que trarão uma sobrecarga terrível para o SUS – que já é um serviço que tem suas dificuldades. E a maior consequência é a criança ser portadora de uma doença grave que pode levá-la à morte”,
afirma o médico infectologista.
Lucena explica ainda que a politização que vem acontecendo sobre a vacina é um desserviço para a população e a considera como “muito ruim”. De acordo com o médico, a baixa adesão vacinal compromete a qualidade da saúde da população. “A gente tem diminuído a capacidade de controlar essas doenças que são transmissíveis e imunopreviníveis através do uso de vacinas”, alerta.
Incentivo
A pandemia da Covid-19 foi o ponto-chave para que a população tivesse aversão ao esquema vacinal, embora a baixa adesão já houvesse acontecendo de forma gradativa, como informou o Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde. Com isso, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) fez um apelo aos governos para que fortaleçam ou reestabeleçam, urgentemente, os programas de imunização de rotina.
“Desenvolvam campanhas para aumentar a confiança nas vacinas e implementem planos para alcançar todas as crianças, todos os adolescentes e todas as suas famílias com serviço de vacinação, especialmente aos mais vulneráveis, que não têm acesso ao serviço de saúde, devido à localização geográfica, situação migratória ou identidade étnica”,
pediu o órgão.
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