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Empreendedorismo

Empreendedorismo indígena movimenta a economia no Norte do país

Visto como uma forma de lucrar por meio da arte e trabalhar em prol da preservação da cultura em meio aos avanços, o empreendedorismo voltado ao artesanato indígena apresenta um crescimento expressivo

Foto: reprodução/Watyamã

Repleta de elementos ricos e completos, além de ressignificar a ancestralidade, dar voz e apresentar representatividade às comunidades indígenas brasileiras, o artesanato indígena tem movimentado a economia no Norte do Brasil. Visto como uma forma de lucrar por meio da arte e trabalhar em prol da preservação da cultura em meio aos avanços, o empreendedorismo voltado ao artesanato indígena tem ganhado força e é utilizado como fonte de renda do caboclo e dos moradores das regiões locais. 

O uso sustentável dos recursos de cada região habitada pelos povos indígenas, como fibras e sementes, com o auxílio de alguns materiais sintéticos, como miçangas, dá vida a uma infinidade de peças artesanais que já conquistam espaços de casas, empresas e corpos de pessoas não indígenas, principalmente, turistas.

Os povos indígenas foram os mais afetados pela pandemia no mercado de trabalho dos últimos anos, conforme dados do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas. Para chegar à estatística, o estudo utilizou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2020, que mostra que o desemprego entre esse grupo étnico dobrou mais do qualquer outro grupo e teve a renda reduzida em, aproximadamente, 28,6%. 

A conservação do empreendedorismo indígena cria emprego e aumenta a participação do trabalho para esses povos. Durante o primeiro semestre de 2022, os pequenos negócios – incluindo a comercialização de artesanato indígena, resultaram em a cada 1 mil empregos gerados no Amazonas, 97 eram para o segmento. O saldo totalizou 14.927 novos postos de trabalho no período, no qual foi o terceiro maior entre os estados brasileiros e destaca as micro e pequenas empresas (MPEs) como principal motor econômico do estado, responsável por 81% do saldo de novos empregos nos primeiros seis meses do ano.

Seguindo a tradição da família de trabalhar no ramo, aos 18 anos, a artesã Wara Oliveira, do povo Satere-Mawe, faz parte da Organização de Mulheres da Tribo Sateré-Mawé – Watyamã que carrega o lema “O artesanato não é só uma bijuteria e sim uma forma de proteção”. Natural do município de Barreirinha, interior do Amazonas Wara destaca que a pandemia foi prejudicial para muitos povos indígenas e viram nas redes sociais uma forma de conseguir manter seus negócios e ter um alcance maior na sociedade.

Naturalmente, os povos indígenas seguem a formação empreendedora por conta dos laços geracionais e não por necessidade da demanda do mercado de trabalho.

“Tudo isso surgiu através da minha avó, ela sempre trabalhou com artesanato, com sementes e outros itens. Depois ela morreu e passou a geração para a minha mãe que, ao lado do meu pai, começou a trabalhar isso nas feiras, e outros espaços. Eles até tinham uma lojinha no Centro. Eu e meus irmãos também iniciamos durante a pandemia, que prejudicou muitas pessoas. Começamos a publicar no Instagram durante esse período. Também criamos a Associação Watyamã, que significa ‘mulheres guerreiras’. Nós sempre trabalhamos com essa área e agora, com as nossas gerações, continuamos a trabalhar com isso. Trabalhamos em feiras, vamos para Parintins e outros eventos culturais. Sempre trabalhamos com isso”

, destacou.

Os Sateré-Mawé são povos originários da região do baixo rio Amazonas e inventores da cultura do guaraná, no entanto, o artesanato sempre esteve presente no cotidiano do povo. Itens como as sementes são os mais usados para a confecção de colares, brincos, pulseiras, adornos para os cabelos e pés para muitas mulheres da etnia do Estado. Para Wara, esses empreendimentos são mais do que necessários para a autonomia das mulheres indígenas.

“Gera economia, gera renda para as artesãs e emprega mulheres a ter seus próprios ganhos, visto que a maioria são o carro chefe dessas famílias, algumas indígenas mães e estudante têm seu próprio sustento através do artesanato. Esse trabalho contribui grandemente com a economia, pois os turistas sempre compram produtos da nossa terra. Valorizar a nossa cultura e os povos indígenas é completamente importante. Ainda é possível se ver claramente a variedade de artesanato indígena, quando você bate o olho percebe logo ‘isso é Sateré, isso é Baniwa ou isso é Kokama’. Asssim como temos variedade de povos, temos também vários artesanatos”

, ressaltou.

A economista Denise Kassama ressalta ainda que o empreendedorismo indígena é bastante intenso em estados como Pará, Roraima e Amapá, por conta da alta presença dos povos indígenas na região. Ao rodar pelos principais pontos turísticos amazonenses, é possível notar a alta quantidade de empreendedores que exercem um trabalho voltado ao ramo do artesanato indígena e, de acordo com Denise, essa atividade nesses locais também serve como propulsora na atividade econômica do turismo local.

De acordo com a economista, é relevante ressaltar a importância de eventos como o 55° Festival Folclórico de Parintins. Realizado por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa e da Agência Amazonense de Desenvolvimento Cultural (AADC), o evento aconteceu nos dias 24, 25 e 26 de junho e contou com o “Circuito +Cultura”, que ofereceu uma programação alternativa e gerou renda para artistas parintinenses. O evento atraiu um público recorde em 2022 com a presença de 111.498 turistas.

“Não tem como desassociar a questão indígena do Norte do país. Um dos maiores destaques na questão do empreendedorismo indígena, por haver um papel super relevante, é voltado ao turismo nessa região, seja na questão do artesanato, da culinária, hospedagem, passeios. Elas são muito importantes, mas fugindo dessa seara em si, tem outros negócios também, como os restaurantes nas cidades ou comércios, que são tão importantes quanto qualquer outra atividade”

, detalhou.

A especialista considera ainda a atividade como uma espécie de empreendedorismo inclusivo, por servir na desestigmatização dos povos originários.

“Outra característica importante é que, geralmente, o empreendedorismo indígena dá oportunidade e trabalho ao indígena, que às vezes sofre um preconceito muito grande da sociedade. Então não deixa de ser um empreendedorismo inclusivo, por atuar gerando renda para essas populações que estão abandonadas pelo poder público. Além de gerar emprego, consequentemente, oferece dignidade a essa população que deveria ser mais valorizada”

, concluiu.

Com o intuito de valorizar esses empreendedores e aquecer o mercado na capital amazonense, a Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult), em parceria com a Associação dos Artistas do Boi-Bumbá, realizou, realiza a Feirinha do Tururi, evento, que é o “esquenta” do Boi Manaus, festa realizada todos os anos nas vésperas do aniversário de Manaus, comemorado no dia 24 de outubro. O evento vai reunir mais de 50 atrações até o dia 20 de outubro, na cidade.

O esquenta da festa este ano, de acordo com a prefeitura, já atraiu aproximadamente 8 mil foliões para a avenida Belmiro Vianez, conhecida como “alameda do Samba”, no bairro Alvorada, zona Centro-Oeste da cidade, dentro das comemorações de 353 anos da cidade.

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