Manaus (AM) – A população em situação de rua e o trabalho infantil são resultados da extrema pobreza, que aumentou no Brasil e é um grave problema ao redor do mundo. A pandemia da Covid-19 mudou o perfil da população em situação de rua no país e, após dois anos do agravamento da crise econômica, o aumento de crianças e adolescentes desamparados socialmente foi uma consequência.
Trabalhando diretamente com adolescentes em situação de rua e condição de trabalho infantil, a Associação Beneficente “O Pequeno Nazareno” atua nas ruas e comunidades de Fortaleza, Recife e Manaus, trabalhando para proporcionar dignidade para a infância, oportunidades para os jovens e apoio para as famílias de crianças e adolescentes em situação de rua.
Com o intuito de contribuir para a construção de um mundo com dignidade e justiça para todas as crianças e adolescentes, visando promover e defender os direitos dos que vivem em situação de rua e suas famílias, a associação foi fundada em 1993 em Fortaleza, pelo alemão Bernd Josef Rosemeyer que, ao chegar ao Brasil, se deparou com cenas de pessoas revirando o lixo dos restaurantes em busca de comida.
Com a vontade de mudar essa realidade, o divisor de águas aconteceu em uma das visitas ao centro de Recife, na Praça do Carmo, onde um menino, abatido, tinha um ferimento aberto na perna. Bernd Josef se aproximou e puxou conversa. Propôs que fossem em uma farmácia para cuidar do ferimento. Após o episódio, entendeu que havia descoberto sua grande missão: conhecer essas crianças, para saber como ajudá-las.
Filial em Manaus
Em 1993, abriu a sede do O Pequeno Nazareno. Depois, em 1995, veio o sítio, em Maranguape (onde estabeleceu um acolhimento para crianças e adolescentes em situação de rua). Em 2003, voltou a Recife para abrir a primeira filial da organização, com um local de apoio na Rua da Aurora, bairro da Boa vista, e um acolhimento em Vila Velha, Itamaracá. Em 2013, abriu mais uma filial em Manaus (AM).
De acordo com o coordenador do projeto na capital amazonense, Tommaso Lombardi, o interesse por ajudar o próximo sempre foi algo presente no dia a dia. Interessado pelo projeto O Pequeno Nazareno, ao lado da esposa, decidiu de trazer a mesma metodologia para Manaus.
“É um desejo que eu e minha esposa Elaine temos desde a adolescência, pelo nosso incômodo com as desigualdades presentes na sociedade. Quando decidi de não continuar como religioso, encontrei sintonia com o pensamento da Elaine, e decidimos de criar aqui em Manaus um estilo de vida ‘missionário’ que pudesse ser a serviço e contribuir para reverter estas desigualdades, principalmente voltados a crianças e adolescentes em situação de rua ou trabalho infantil”, pontuou.
A filial em Manaus fica localizada na Rua Uiana, nº 215, bairro Colônia Terra Nova, na Zona Norte da cidade. A iniciativa de implementar o projeto na localidade aconteceu após a divulgação de números que mostravam que 78% de todas as crianças e adolescentes que ficavam nos sinais de trânsito de Manaus eram oriundos do bairro. Por meio disso, foi criado o Projeto Gente Grande – que faz parte da associação – e, até o presente, já formou mais de 1.200 adolescentes e outros 300 entraram no mercado de trabalho como jovens aprendizes
“Inicialmente, abrimos uma casa de acolhimento para adolescentes em situação de rua, depois iniciamos também um serviço que ia até as ruas para entender porque eles vivenciavam isso. Pensamos em fazer alguma cousa naquele bairro para poder oferecer uma oportunidade, uma alternativa para eles não ir nas ruas e sonhar algo diferente para o próprio futuro. Assim criamos o projeto Gente Grande, que é um curso divididos em 4 ciclos de desenvolvimento humanos, que ajudam os adolescentes a olhar para se mesmo descobrir sonhos e potencialidades, desejar outras coisas”,
destacou Tommaso.
Missão do Pequeno Nazareno
Um dos principais pilares da instituição é criar condições para garantia da segurança e da proteção à vida de todas as pessoas beneficiadas pelas ações, projetos, serviços e programas da Associação Beneficente O Pequeno Nazareno, de maneira a prevenir ameaças a integridade física, moral e psíquica das pessoas atendidas pela organização e responder adequadamente a eventuais violações. Para chegar a esses resultados, realiza atividades voltadas a educação social de rua, acompanhamento familiar, mobilização social, inserção profissional, desenvolvimento comunitário, acolhimento institucional e esporte de participação.
A associação funciona como acolhimento institucional na modalidade de Casa Lar, abordagem social de rua e projeto Gente Grande. Durante a pandemia, os trabalhos exercidos pela instituição não pararam.
“O nosso trabalho não parou com os 3 serviços. O acolhimento é a casa dos meninos. A equipe de abordagem social diminuiu a quantidade de atendimentos, mas sempre continuou a acompanhar os meninos e as famílias, principalmente com um grande esforço de levar cestas básicas, para este público”,
contou, relembrando da pandemia.
Inicialmente, em meio às dificuldades, a palavra desistir não fez parte do vocabulário dos colaboradores. Mantendo o projeto a partir dos próprios recursos, Tommaso e a esposa cogitaram a desistir depois de um tempo, mas foram surpreendidos após serem beneficiados por um grande projeto que atua a nível nacional. Sempre encarando as dificuldades com tranquilidade, a decisão havia surgido após se verem em uma espécie de “rua sem saída”.
“Depois no caminho iniciaram a chegar parcerias principalmente para poder custear os profissionais, a nossa linha foi sempre pautada na simplicidade, fazer pequenos passos com constância, todos os dias, e as coisas foram crescendo, e sentindo a confiança de muitos que acreditaram no nosso trabalho. Os desafios fazem parte do cotidiano, as histórias de vida de muitos meninos e meninas às vezes é muito difícil. Geralmente olho para as dificuldades como algo que faz parte do caminho, reconheço muita providência e mudanças nós meninos/as que seria desproporcional com as dificuldades. Um momento muito triste foi em junho/julho deste ano que tinha decidido fechar o Projeto Gente Grande para falta de recursos, decidir isso foi um percurso difícil, mas alguns dias depois chegou a notícia que tínhamos sido contemplados pelo Criança Esperança possibilitando a continuidade com outros 150 alunos para todo 2023”, detalhou Tommaso.
O grupo aceita como forma de parceria qualquer ajuda que os auxilie a continuar com as atividades, podem ser em forma de alimentos, por exemplo, cestas básicas, ou dinheiro, que são revertidos para as exigências do projeto. As doações podem ser feitas pelo pix 00.371.537/0008-34 (CNPJ).
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