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Negócio

Desafios do comércio de bioartesanato no Amazonas

Especialistas em economia e artesanato da região norte, em entrevista exclusiva ao Em Tempo, falam sobre as dificuldades logísticas e das transações com atravessadores no Estado

O valor de uma arte é definido pela sua qualidade, tempo gasto, período para prática e estudo dedicado. No entanto, para os bioartesãos do Amazonas, indígenas e não-indígenas, muitas vezes não funciona desta maneira. Em entrevista exclusiva ao Em Tempo, especialistas na economia e diversidade da arte amazônica falaram sobre os desafios logísticos de compra e venda das artes e utensílios locais.

Segundo a economista, Denise Kassama, o modelo de negócio das biojoias e do bioartesanato são conhecidos por fomentarem o interesse turístico local, sendo estes itens que tem potencial como grandes geradores de renda, principalmente, para aqueles que moram nas comunidades interioranas.

 “Agora digo,‘potencialmente’, porque hoje, efetivamente, não temos tanta gente trabalhando nessa seara. Tem graves dificuldades logísticas desse produto chegar até cidades como Manaus. As comunidades do interior utilizam a natureza como forma de subsistência”, relata.

Kassama conta sobre as transações com os atravessadores, que são compradores responsáveis por fazer o deslocamento de diversos materiais em vários setores econômicos. Aponta que, nestes comércios, o artesão é por vezes, o menos remunerado nas vendas.

“Ele vende para o atravessador que traz aqui pra Manaus. Chegando aqui na cidade, o atravessador oferece para o pessoal que trabalha com revenda de artesanato. E o item que foi comprado no interior por cinco reais é vendido aqui por cinquenta, cem reais”, explica.

A situação logística é determinada como problema também por Ana Helena, gerente da Galeria Amazônica, projeto de parceria da Associação da Comunidade Waimiri Atroari (ACWA) e do Instituto Socioambiental (ISA). O local realiza compras e vendas de peças de artesanato.

“O atravessador compra a peça do artesão para revender para lojistas, a maioria compra bem barato, e vende caro. Essa semana passada tivemos um exemplo. O preço de custo de uma rede é R$300,00. A pessoa comprou por cem reais e quis nos vender por trezentos. O problema disso é que os artesãos vendem assim mesmo por precisarem do dinheiro na hora para voltar para suas comunidades. A gente vê isso como exploração do trabalho à mão”, contou.

A gerente da Galeria ainda ressalta que as transações só são feitas mediante apresentação do documento.

“A carteirinha do artesão comprova, de fato, que é ele que faz a arte, e assim repassamos o valor justo e comprando direto do artista” informa.

De acordo com a superintendente de desenvolvimento sustentável e comunidade da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Valcicleia Solidade, apesar desta transação exploratória e por falta de melhores opções, os atravessadores existem em todas as cadeias produtivas da Amazônia.

“Muitas vezes é até um mal necessário. O desafio no caso dos bioartesanatos, é encontrar uma solução inteligente e estabelecer processos de rastreabilidade, organização produtiva que autentique a origem dos insumos e produtos, pensando na agregação de valor positivo para aqueles que vivem na floresta, e não para quem apenas a usa de forma indevida e informal”, afirma.

Carteira do Artesão

O processo de regulamentação dos artesãos existe, e é incentivado pelas fundações de artesanato locais. A Carteira Nacional do Artesão é a identificação prevista na Lei nº 13.180, de 22 de outubro de 2015, válida em todo o território nacional, com o propósito de prover informações necessárias à implantação de políticas públicas e ao planejamento de ações de fomento para o setor artesanal. O cadastro pode ser realizado pelo site www.gov.br

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