Brasília (DF) — Sempre às quintas, sextas ou segundas-feiras, o presidente interino do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), Glauco Wamburg, costuma viajar de Brasília para o Rio de Janeiro. As justificativas para a pontes-aéreas e que constam no Portal da Transparência são agendas supostamente oficiais e de interesse da autarquia federal. No entanto, muitos dos compromissos não foram, de fato, cumpridos por Wamburg.
Ao longo de dois meses, o Metrópoles conferiu cada uma das agendas após servidores denunciarem que o presidente do INSS, supostamente, criava reuniões fictícias para justificar viagens até a capital carioca e ministrar aulas de direito previdenciário em uma faculdade particular, a Universidade Santa Úrsula, em Botafogo, bairro da zona sul carioca. Uma equipe do portal esteve na instituição e registrou a grade horária do professor Glauco Wamburg. Ele entra em sala nos quatro horários, entre 18h30 e 22h30, sempre às segundas.
A “farra das passagens” promovida por Glauco é um assunto que percorre os corredores do INSS e passou a ser comentado com frequência pelos servidores.
“Esse assunto veio à tona agora, mas é público e notório por quem conhece a rotina na autarquia. Glauco sempre viajou às custas dos cofres públicos para dar aula em instituição privada e resolver assuntos particulares”
, disse uma fonte do INSS ouvida pela coluna.
Ao todo, no período analisado pela coluna, as passagens custaram ao governo cerca de R$ 65 mil. Desse valor, mais de R$ 15 mil foram pagos a Wamburg em diárias pelas viagens.
Veja imagens da grade horária do presidente do INSS como professor de uma universidade carioca:
Sem presença
A coluna apurou minunciosamente as motivações apresentadas por Glauco Wamburg para justificar as viagens pagas com dinheiro público e verificou inconsistências nos períodos apresentados. Entre 3 e 4 de abril, por exemplo, Glauco solicitou viagem de ida e volta do Rio de Janeiro para “participar de reuniões na superintendência regional do INSS no Rio de Janeiro”. Passagens mais hospedagem custaram R$ 3.696,78.
Segundo a própria superintendência, em 3 de abril “não houve reuniões no local”. Em 4 de abril, por outro lado, o superintendente-regional, Marcos Fernandes, reuniu-se com alguns servidores para tratar de assuntos internos e, mais tarde, no mesmo dia, compareceu a outra reunião por videoconferência. Em nenhum dos casos o nome de Wamburg foi citado como participante das reuniões.
Em 27 de março, Glauco solicitou, com urgência, uma passagem só de ida para o Rio de Janeiro, no valor de R$ 3.046,26. Indagada, a Superintendência Regional do Rio de Janeiro informou que o Marcos Fernandes reuniu-se com o deputado estadual de Volta Redonda, Jari Oliveira. Outra vez, o nome de Wamburg não foi citado como participante da reunião.
Reunião com ministro
Em 29 de maio, Glauco teria solicitado passagens para Brasília a fim de comparecer a uma reunião com o ministro da Previdência Social. À época, ele já estava no Rio de Janeiro. Contudo, segundo o próprio Ministério da Previdência Social, “não consta registro de reunião do ministro da Previdência Social com servidores do INSS na data referida”.
Em 17 de abril, Wamburg solicitou passagem para o Rio de Janeiro sob alegação de que acompanharia o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, durante reuniões na Secretaria de Trabalho e nas tratativas de compra e venda do Mercadinho São José, no Rio de Janeiro. Entretanto, segundo o Ministério da Previdência Social, apenas o assessor especial do ministério, Bruno Ribeiro Cardoso, acompanhou o ministro na data.
Em 15 e 16 de maio, Glauco solicitou passagens, novamente ao Rio de Janeiro, para participar de reunião com o secretário de Trabalho do Município do Rio de Janeiro a fim de tratar dos seguintes temas: parcerias em ações volantes entre o INSS e a secretaria, bem como o avanço da compra e venda do imóvel do Mercadinho São José.
Encontro com comandante da PM
Além dessa suposta reunião, ele teria, ainda, um encontro marcado com o secretário-geral e coronel da PMRJ para tratar de um imóvel em Campo Grande, que seria uma parceria do INSS com a PMERJ. Procurada, a Secretaria de Trabalho do Município do RJ declarou que “nos dias 15 e 16 não houve nenhuma reunião do secretário para tratar destes assuntos com integrantes do INSS”.
Acionada, a PMERJ disse que Glauco Wamburg esteve no quartel-general em 24 de março, acompanhando o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi. No entanto, optaram por não responder se houve ou não uma reunião entre Wamburg e o secretário-geral coronel da PM em 15 e 16 de maio.
A reportagem apurou que motivos alegados por Glauco Wamburg para outras viagens envolvendo a ponte Brasília, Rio de Janeiro seguiram os mesmos padrões de inconsistência.
Acionada, a assessoria de comunicação do INSS não havia respondido até a última atualização deste texto. O espaço permanece aberto para eventuais manifestações.
*Com informações do Metrópoles
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