São Paulo (SP) – O Primeiro Comando da Capital (PCC) utiliza diversas artimanhas para ocultar e dissimular a origem do lucro bilionário obtido, principalmente, com a venda de drogas dentro e fora do país.
Investigação do Ministério Público de São Paulo (MPSP) mostra que a facção paga pessoas para que transportem dinheiro vivo em mochilas. Entre os integrantes do PCC, elas são chamadas de formigas.
O fracionamento dos valores é feito para dificultar o rastreamento do dinheiro oriundo do tráfico de drogas. O limite permitido por cada viagem é de R$ 250 mil.
A definição de um volume máximo de notas transportadas também serve para minimizar o prejuízo da facção caso a formiga seja interceptada pela polícia e o dinheiro acabe apreendido.
Além das formigas, a maior facção criminosa do Brasil usa outras formas dissimuladas para transportar dinheiro vivo, de acordo com a Promotoria paulista.
Uma delas é o transporte em carros nos quais são adaptados cofres ocultos. Os veículos são periodicamente substituídos, para dificultar sua identificação.
De acordo com o MPSP, esses carros são guiados por motoristas que não têm nenhum antecedente criminal – mais um recurso para evitar a desconfiança em eventuais abordagens policiais.
“Desta forma, o dinheiro é afastado do seu local de origem, isto é, dos pontos de comercialização de entorpecentes, para posterior retorno à economia formal ou mesmo ao sistema financeiro oficial, sem que as autoridades consigam detectar as atividades criminosas que o geraram e mesmo a sua movimentação, não obstante a relevante quantidade de dinheiro que é movimentada”,
diz trecho de uma denúncia do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) feita contra lideranças do PCC.
“Casas-cofres”
Após o transporte dos valores em espécie, antes de serem reinseridos à economia formal por meio da lavagem de dinheiro, o montante é guardado em casas-cofres.
Esses imóveis são alugados pelo PCC para guardar dinheiro, drogas e armas. Neles, assim como nos carros usados para transportar os valores, são instalados cofres secretos, para ludibriar eventuais incursões policiais.
Caso um desses imóveis se torne alvo de alguma ação das autoridades, mesmo que os cofres secretos não sejam localizados, ele é imediatamente desativado, de acordo com mensagens trocadas entre Marcelo Moreira Prado, o Sem Querer, integrante da Sintonia final da rua que foi preso em 2018 e um membro do setor financeiro da facção.
Nas casas-cofres moram famílias “contratadas” pelo PCC. Segundo planilhas de gastos da facção apreendidas pelo MPSP, são pagos pela organização criminosa aluguel, contas, além de um “salário” para as pessoas que ocupam os imóveis. O valor destinado por morador é de aproximadamente R$ 2.000 e o pagamento de aluguéis e contas chega a R$ 4.000.
Isso é irrisório diante dos valores guardados nas casas. De acordo com uma mensagem interceptada pela Promotoria, um dos guardiões do dinheiro comenta sobre seu receio de manter R$ 680 mil dentro de casa.
Todo o dinheiro vivo movimentado pelo PCC é reaplicado, de acordo com as investigações, na compra de drogas e armas, para reabastecer os paióis da facção e, também, para evitar a interrupção do fornecimento de drogas nas “lojas da família”. Outra parte, porém, é reaplicada no mercado formal.
Somente em um ano, o MPSP identificou que o PCC “ocultou e dissimulou” a movimentação de mais de R$ 1 bilhão.
Movimentação bancária
Um outro estratagema do PCC para dissimular a origem criminosa do seu dinheiro é por meio de movimentações bancárias.
Segundo o MPSP, em um celular apreendido com Robson Sampaio de Lima, responsável pelo setor financeiro da facção, foram encontradas imagens de dados de contas bancárias e também de comprovantes de depósitos.
Com ordens de Robson, responsáveis em levar o dinheiro até as agências, chamados de “boys”, faziam depósitos fracionados, em valores previamente especificados, em diversos bancos. Os titulares das contas eram tanto pessoas físicas como empresas “laranjas”.
A movimentação dos valores, a mando de Robson, ocorria após a autorização da Sintonia final e, na ocasião, também da Sintonia do progresso, representada por Odair Lopes Mazzi Junior, o Dezinho, preso na última terça-feira (11) em um condomínio de luxo em Pernambuco. As sintonias compõem o primeiro escalão na hierarquia do PCC.
Vida de ostentação
Os altos valores movimentados pela facção também são usufruídos por membros de sua cúpula. Dezinho, por exemplo, comandou o envio de R$ 1,2 bilhão do PCC para o Paraguai, por meio do esquema de “dólar cabo” – técnica de lavagem de dinheiro – e tinha uma vida de rico em Pernambuco.
Ele também seria responsável por coordenar o transporte de mais de 15 toneladas de cocaína por ano. Segundo autoridades, sua importância na facção aumentou após a transferência de Marcos Willian Herbas Camacho, o Marcola, e outros líderes do PCC para presídios federais.
Segundo o promotor Lincoln Gakiya, do Gaeco paulista, Dezinho integra o PCC há 20 anos e faz parte do alto escalão da facção criminosa.
O líder do PCC tinha uma vida de luxo e foi pego após o setor de Inteligência da Polícia Civil de Pernambuco detectar visitas da sua esposa em condomínios e resorts que ficam em praias badaladas do estado. As informações foram compartilhadas com o MPSP e com a Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
“Ele é da Sintonia final de rua do PCC”, disse Gakyia ao Metrópoles. Ele é o autor da denúncia à Justiça contra o traficante. “É um réu de altíssima periculosidade, responsável pelo setor financeiro e pela logística do tráfico”
, declarou.
*Com informações do Metrópoles
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