Ao longo dos mais de três anos de seu último relacionamento, a dentista Alice, nome fictício, de 24 anos, conta que foram muitas as vezes em que desejou trair seu parceiro. À época vivendo em uma relação abusiva, ela viu o desejo por outras pessoas surgir como uma forma de libertação momentânea do ex-namorado. “Eu sentia vontade de traí-lo todas as vezes que ele me maltratava em um nível mais elevado, principalmente fisicamente”, recorda.
Quando a situação com o parceiro tornou-se ainda mais complicada e violenta, ela tomou a decisão de dar vazão ao que antes era apenas uma hipótese.
“Decidi traí-lo quando ele deu um soco na parede e disse que aquilo seria em mim. Não suportava mais dividir o mesmo espaço com ele e quando vi que o outro homem me tratava muito bem, de uma forma totalmente diferente, tive vontade de trair mais vezes, porque, de certa forma, me sentia mais valorizada”, explica. A traição também fazia com que ela se sentisse mais livre. “Era como se eu fosse novamente a verdadeira Alice, não tinha ninguém para me controlar”,
diz.
Sem se arrepender de ter consumado a infidelidade, a dentista lamenta, porém, o fato de não ter sido honesta consigo mesma. “Era uma relação que não me cabia mais. Me senti covarde por não ter saído mais cedo dela”, afirma.
Embora o desejo de Alice tenha surgido em meio à insatisfação com o relacionamento, existem outras inúmeras razões que podem fazer com que alguém sinta vontade de ser infiel. “Os motivos são vários. Podem ter a ver com o contexto cultural ou com a forma com que a pessoa desenvolve seus vínculos afetivos”, pontua a psicóloga Leni de Oliveira. “O desejo é a grande mola propulsora, mas as circunstâncias e os conflitos vão definir se esse desejo será satisfeito ou não”, completa.
Desejar trair ou trair de fato também não tem necessariamente uma relação direta com a qualidade do relacionamento. É isso o que a especialista ressalta e que um estudo recente publicado no periódico “Archives of Sexual Behavior” aponta. Conforme o artigo, que entrevistou usuários do site Ashley Madison – uma espécie de rede social de namoro voltada para pessoas que já estão em um relacionamento -, a infidelidade não tinha como grande impulsionadora o sucesso ou não da relação.
Resultados do estudo, inclusive, apontavam pela direção contrária e traziam sugestões até mesmo contraditórias.
“Por um lado, os participantes relataram fortes sentimentos de amor pelos seus parceiros/cônjuges primários que os impediriam ostensivamente de trair. Por outro, eles também obtiveram considerável prazer físico e emocional com seus casos e expressaram pouco arrependimento”,
diz o artigo.
Conforme a pesquisa, outros fatores tinham mais relação com a infidelidade. Entre eles estavam a busca por experiências sexuais novas e excitantes e a falta de um forte compromisso com o parceiro.
Mas da vontade de trair à concretização da traição há um longo caminho a ser percorrido. E, segundo a psicóloga Leni de Oliveira, ele é variável.
“As pessoas vão lidar de maneiras diferentes com o desejo”, afirma. Há, claro, aqueles que traem, mas há também aqueles que buscam até mesmo fugir do desejo. Algo que, de acordo com Leni, não é aconselhável. “Ainda me pergunto se deveríamos evitar esse sentimento”, admite. “Nossos desejos falam sobre nós, nossos conflitos, contradições. Compreendê-los é muito mais potente do que evitar”,
pondera.
Em alguns casos, a comunicação com o parceiro também pode ser um caminho. A realidade, porém, é que não há uma regra ou um manual de instruções para agir em situações como essa. “Por ser um fenômeno complexo é difícil determinar se é melhor dizer ou não. Depende do casal. Dizer, pode trazer conflitos que nem sempre as pessoas estão dispostas a encarar”, ressalta.
*Nome fictício
*Com informações do O Tempo
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