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Persistência

Estiagem afeta cotidiano de alunos no interior do Amazonas

Professores e pais de alunos se esforçam para manter crianças estudando em meio à seca

Reprodução: Adobe Stock

A seca que atinge o Amazonas afeta em diversos aspectos a vida dos ribeirinhos, principalmente a locomoção. Segundo a Secretaria de Estado de Educação e Desporto Escolar (Seduc-AM) alertou através de um informe divulgado no dia 19 de setembro, que a vazante pode prejudicar mais de 20 mil alunos do interior do estado. Ainda segundo a secretaria, os estudantes que moram em comunidades de Benjamin Constant, Careiro da Várzea, Novo Aripuanã, Tefé e Tonantins terão que repor aulas em calendário especial.

Com o nível dos rios baixando de forma recorde, tornou-se um empecilho a continuação de atividades básicas no estado. Em Manaus, no último dia 19, o Rio Negro atingiu a cota mínima de 13,29 metros, considerado o menor nível registrado em 121 anos de leitura pelo Porto de Manaus.

O município de Manacapuru também registrou, nesta semana, um novo recorde devido à vazante do Rio Solimões. Na quinta-feira (19), a cota mínima foi de apenas 3,61 metros, o nível mais baixo em 55 anos de medição.

Mesmo com as dificuldades logísticas por conta da seca dos rios e igarapés, os alunos da rede estadual e municipal de ensino continuam recebendo assistência de professores que doam o seu tempo para contribuir com a formação de cada criança e adolescente.

A arte de educar

Reprodução: José Dilson e filha/ Arquivo Pessoal

José Dilson é professor da Escola Municipal São João, de Rio Preto da Eva, no interior do Amazonas, lecionando todas as matérias para 10 alunos, do 1º ao 5º ano do ensino fundamental.

Responsável por ensinar esse pequeno grupo de alunos, José precisou adaptar seu método de ensino, já que os alunos não conseguem frequentar as aulas por conta da seca.

“Agora eles estão estudando por apostila. Eu preparo a apostila, alguns pais conseguem pegar na escola, ou eu mando por algum conhecido de confiança, mas é porque não tem condições de todo mundo estar no colégio. Antes o caminho até a escola era de 15 minutos, por conta da seca, está demorando aproximadamente 1 hora”,

contou o professor.

Dilson também é pai de uma menina de 12 anos, aluna da Escola Municipal Professora Ivanilde Braga Brandão. Dividindo-se entre a educação de seus alunos e de sua própria filha, o professor pontuou sua preocupação neste momento de estiagem.

“Agora ela está sem ir para a aula também, porque não tem condições. Na época da cheia do rio, demorava 45 minutos para ela chegar na escola. Agora com o rio seco, demorava 2 horas”,

descreveu José.

Além de dificultar o aprendizado das crianças ribeirinhas, a seca também passou a interferir no abastecimento de comida e bebida na comunidade. Apesar da situação árdua, a família de Dilson não possui planos para se mudar para um local que não esteja sofrendo com tantos impactos da vazante.

“A gente teve que abrir pequenos poços de águas para usar, as famosas cacimbas. Também sentimos o aumento de preço nas comidas, principalmente nas frutas e hortaliças. Vamos aguentar, mas até agora, ninguém tem planos de sair daqui não”,

declarou o professor.

Incentivo que vem de casa

Reprodução: Rozana Xavier e Alejandro Xavier/ Arquivo Pessoal

Concursada, Rozana Xavier é mãe de Alejandro Xavier, de 13 anos, e avó de Carlos Alexandre, de 12. Ambos estudam na Escola Municipal Professora Ivanilde Braga Brandão, em Rio Preto, mesmo lugar que Rozana trabalha.

Sem aulas presenciais, os alunos das comunidades ribeirinhas aprendem os conteúdos por meio de apostilas, já que alguns lugares estão isolados.

“Está muito seco, sem condições das embarcações fazerem rotas. Meu filho não vai para a escola, não tem como ir, quando o rio está cheio, demora apenas 30 minutos a viagem”,

relatou a profissional.

Assim como José Dilson, Rozana também não tem planos de migrar para outro local, mesmo com as dificuldades que a seca proporciona na sua comunidade.

“Estamos aguentando, não vamos para outro lugar não, nós continuamos aqui mesmo, mesmo com o aumento dos preços”,

desabafou Xavier.

Mesmo com a seca, os profissionais da educação e pais de alunos fazem seus esforços para que o futuro de seus filhos não seja afetado por conta da estiagem, pois todos acreditam que a educação é essencial na vida das crianças ribeirinhas.

Férias antecipadas

Reprodução: Divulgação / Semed

Diferente dos alunos de Rio Preto da Eva, os alunos de escolas da Zona Rural de Manaus tiveram as férias adiantadas por conta da vazante do Rio Negro. A Secretaria Municipal de Educação (Semed), anunciou o término das aulas nas escolas ribeirinhas, que seria no dia 17 de outubro, para o dia 4 do mesmo mês.

Ainda de acordo com a Semed, o calendário das escolas do Rio Negro é diferenciado devido à cheia e à vazante dos rios, por isso iniciam em janeiro e finalizam em outubro, conforme às especificidades climáticas da região amazônica.

O respectivo calendário letivo é amparado pelo artigo 23 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), e visa garantir os 200 dias letivos e 800 horas previstos pela legislação, para não causar prejuízos aos alunos, no processo de ensino e aprendizagem.

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