O general de brigada Mauricio Vieira Gama, chefe do Estado-maior do Comando Militar do Sudeste, afirmou, nesta quarta-feira (1º), que o Exército ainda analisa as imagens para saber como 21 armas foram furtadas do Arsenal de Guerra de Barueri, na Grande São Paulo. Duas metralhadoras .50 ainda não foram encontradas.
“Agora, detalhes de como saíram essas armas estão sendo investigados”, disse. “As imagens estão no IPM (Inquérito Policial Militar). Não podemos divulgar essas imagens. Para tranquilizar vocês, temos inúmeras informações, mas não podemos divulgar, para não atrapalhar as investigações”,
afirmou.
As 21 armas, 13 metralhadoras calibre .50, que podem derrubar aeronaves, e oito calibre 7,62, que perfuram veículos blindados foram levadas para fora do quartel, possivelmente entre os dias 5 e 8 de setembro, a fim de que fossem negociadas com facções criminosas em São Paulo e no Rio de Janeiro.
O furto só foi descoberto pelo Exército mais de um mês depois do crime, no último dia 10, durante inspeção no quartel. Três dias depois, o caso veio a público em reportagem do Metrópoles.
Durante a entrevista desta quarta, Gama explicou que não apenas as imagens do circuito interno serão usadas nas investigações. “Há uma limitação de armazenamento de imagens, mas outras perícias técnicas vão dar para o encarregado pelo Inquérito Policial Militar o embasamento”, disse. “Pelo lapso temporal, as câmeras têm um tempo de armazenamento”, afirmou, sem detalhar se faltou memória, por exemplo, para registrar tudo o que aconteceu.
Além disso, há possibilidade de que as câmeras tenham sido desligadas, por isso o Exército não quer apostar todas as fichas nas imagens gravadas no Arsenal de Guerra.
Sobre eventuais pedidos de prisão preventiva, Gama afirmou que é preciso robustecer os indícios para se prender uma pessoa. “Às vezes, prender não é uma boa estratégia”, disse. “O que posso garantir é que está muito avançada a investigação”, disse.
Armas apreendidas
Também nesta quarta-feira, duas armas do Arsenal foram localizadas em um carro no Rio de Janeiro. Um fuzil 7.62, que não é do Arsenal de Guerra, também foi encontrado e sua origem está sendo investigada. As armas, segundo a Polícia Civil do Rio, estavam no veículo de um fornecedor do Comando Vermelho.
“O armamento [fuzil 7.62] está com a numeração riscada. Pela aparência dele, é um armamento antigo, tem falta de peças, o que o torna inoperante. Faltam componentes que são imprescindíveis para o funcionamento. Pode não ser do Exército”,
afirmou o chefe do Comando Militar do Sudeste.
Além das duas armas localizadas nesta quarta-feira, outras oito foram encontradas na comunidade Gardênia Azul, zona oeste do Rio, no dia 19 de outubro, e nove estavam enterradas na lama em uma área isolada na cidade de São Roque, no interior de São Paulo, em ação realizada no dia 25 de outubro. Ninguém foi preso.
Operações em São Paulo
Em busca de pistas que levem à recuperação das últimas duas metralhadoras furtadas do Arsenal, homens do Exército e do Comando de Operações Especiais (COE) da Polícia Militar realizaram, na manhã desta quarta-feira, nova operação em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo. Nas diligências, no entanto, nada foi encontrado e a operação terminou pouco antes das 9h.
Ação semelhante já tinha sido realizada no município nessa terça-feira (31/10), mas nada foi localizado. Fontes do Exército, contudo, disseram que as duas operações foram importantes para levantar novas informações sobre o caso.
Sobre as ações realizadas na Vila Galvão, em Guarulhos, o general de brigada Maurício Gama disse, durante a entrevista, que foram cumpridos mandados de busca e apreensão, que resultaram na coleta de celulares e computadores, mas não deu mais detalhes.
Militares envolvidos
O furto das metralhadoras do Arsenal de Guerra, de acordo com as investigações do Exército, teve participação direta de pelo menos seis militares. O único identificado até agora é o cabo Vagner da Silva Tandu. Motorista e homem de confiança do tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista, ex-diretor do Arsenal, Vagner é apontado como a pessoa que tirou do quartel o armamento usando um veículo militar.
Outros cinco militares teriam ajudado o cabo diretamente. As investigações indicam que eles realizaram o corte intencional de energia do quartel, o que impediu as câmeras de segurança de registrarem a ação.
O Comando do Sudeste pediu, na última quinta-feira (26), a prisão preventiva do cabo e dos militares. O Metrópoles apurou que, na véspera, Vagner teria esvaziado seus armários no quartel. Na quinta, ele faltou ao trabalho e, na sexta (27), apresentou um laudo psiquiátrico recomendando que ele ficasse uma semana afastado.
No entanto, ao passar por uma perícia com um médico do Exército nessa segunda-feira (30/10), Vagner teve o laudo rejeitado e foi considerado apto a trabalhar. Segundo pessoas ligadas à instituição, o militar cumpre jornada normalmente esta semana.
De acordo com fontes do Exército, a advogada de Vagner tem mantido contato direto com o Ministério Público Militar para tratar da situação de seu cliente. O Metrópoles não conseguiu localizar a defesa do cabo nem do pai dele. O espaço segue aberto para manifestação.
Além do pedido de prisão dos seis militares suspeitos, o Exército aplicou “punição disciplinar” a outros 17 militares por falha de conduta na fiscalização do armamento. A punição consiste em uma espécie de prisão administrativa no quartel, que pode durar de 1 a 20 dias. O Metrópoles apurou que, inicialmente, 20 homens receberam a punição, mas três deles tiveram o recurso aceito.
O tenente-coronel Rivelino Batista, não é formalmente investigado, mas foi exonerado do cargo. Ele foi substituído pelo coronel Mário Victor Vargas Junior. Nesta quarta-feira, ele passou a cumprir funções administrativas na 2ª Região Militar, na sede do Comando Militar do Sudeste. Ele foi exonerado da direção do Arsenal após o escândalo do furto de 21 metralhadoras do local.
*Com informações do Metrópoles
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