Manaus (AM) – Na era da tecnologia, para uma pessoa estar atualizada sobre tudo o que acontece no mundo, ela precisa ter um meio conectado à internet que repasse para ela o máximo de informações possíveis. Agora mesmo, por exemplo, enquanto você lê essa matéria, você consegue contar quantos aparelhos eletrônicos estão ao seu redor?
Entre televisões, celulares e notebooks, cada vez mais os jovens recebem, diretamente, grande quantidade de luz artificial em seus olhos. Uma pesquisa feita pela plataforma Electronics Hub revelou que o Brasil é o segundo país com mais pessoas em frente a uma tela; são nove horas por dia usufruindo da tecnologia de forma direta, expondo os olhos à iluminação artificial.
Além de comprometer a saúde mental, o tempo gasto em frente às telas preocupa especialistas, que lidam diariamente com o aumento de doenças oculares advindas da exposição ocular aos meios de tecnologia. A pandemia agravou ainda mais a situação, pois com a população mais reclusa dentro de casa, os meios eletrônicos tornaram-se as principais plataformas para continuar conectado ao mundo exterior.
Na semana em que se comemora, em 13 de dezembro, o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Visual, o debate sobre os efeitos do uso excessivo de telas, principalmente na saúde de jovens, serve de alerta para os cuidados necessários visando o afastamento de um diagnóstico ruim.
Miopia
O Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) divulgou uma pesquisa no ano de 2021 revelando que 72% dos oftalmologistas diagnosticaram a miopia com mais regularidade na faixa etária de 0 a 19 anos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou ainda que, até 2050, metade da população mundial será diagnosticada com miopia.
Segundo o Ministério da Saúde, a miopia é um distúrbio visual cuja principal característica é a dificuldade de ver de longe. Apesar de ter um fator genético influenciando a condição, a miopia também pode ser adquirida por outras condições, como a exposição a ambientes externos ou a visualização de figuras de perto, seja lendo ou usando telas.
Um desses fenômenos recorrentes de quem abusa da iluminação artificial no globo ocular é o famoso “olho seco”. Conhecido por deixar os olhos com o aspecto ressecado, a condição é responsável por deixar um desconforto na visão de quem passa horas na frente de telas tecnológicas.
“Quando olhamos para telas, tendemos a piscar menos vezes do que o normal. O olho acaba ficando menos lubrificado do que deveria, causando sensação de ardência, desconforto e cansaço”, apontou o médico oftalmologista Jovanni Gomes, durante entrevista.
A advogada Lorena Teixeira, de 23 anos, contou ao Em Tempo que não se preocupava com o tempo que passava em frente ao celular até ser diagnosticada com miopia.
“Eu achava que não teria problema, porque todo mundo usa o celular sem preocupação. Eu usava muito antes de dormir e isso acabou afetando a minha visão; só percebi a gravidade quando fui ao oftalmologista e ele me deu o diagnóstico. Ele também me pediu para usar os aparelhos com mais moderação”,
relatou a advogada.
A profissional também é mãe de uma criança de três anos e contou à equipe jornalística os cuidados que tem com o filho após ter seu diagnóstico.
“Agora eu não deixo ele muito tempo no celular assistindo vídeos. Eu limito a quantidade de tempo tanto no celular, quanto na televisão. Não quero que ele tenha esse problema de saúde tão novo, vai ser prejudicial para o crescimento dele”, ressaltou Teixeira.
A preocupação da profissional é válida, segundo o professor de cirurgia oftalmológica da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais, Tiago César Pereira Ferreira.
“O problema da progressão precoce do grau de miopia é que, a partir de cinco graus, muitos vão ter alguma doença ocular no futuro, seja descolamento da retina, incidência maior de catarata, glaucoma. Então, os míopes que estão surgindo agora podem ser míopes de grau alto futuramente, e aumenta a prevalência de doenças oculares graves”, dissertou Thiago, em entrevista.
Cegueira
E esse uso indiscriminado das telas eletrônicas pode prejudicar ainda mais a visão do ser humano. A alta miopia, por exemplo, que é quando a pessoa possui um grau superior a 6, é uma condição comum e, segundo a OMS, é a terceira causa de cegueira no mundo. A mesma organização apontou ainda que cegueira afeta 39 milhões de pessoas em todo o mundo e 246 milhões sofrem de perda moderada ou severa da visão.
Um caso que repercutiu nas redes sociais em 2019 foi a luta diária da americana Gretta Nance, que foi diagnosticada com Disfunção da Glândula Meibomiana (DMG). Comum em idosos, a condição aparece em jovens que costumam ficar longas horas na frente de celulares, TVs, notebook e outros aparelhos eletrônicos.
Especialista em Marketing, Gretta tem um problema na glândula que fica abaixo da pálpebra e, segundo os médicos, após comprometida, não será possível mais recuperá-la. Agora, a profissional precisa seguir cuidados específicos para aproveitar a pouca visão que possui.
O caso de Gretta não foi o único a chocar a população mundial. Entre outros que surgem diariamente, a preocupação com a saúde dos olhos acende um alerta sobre prevenção e imediatismo no diagnóstico.
De acordo com a OMS, aproximadamente 80% dos casos de cegueira seriam evitados caso as doenças oculares fossem diagnosticadas a tempo e tratadas corretamente.
O médico oftalmologista Guilherme Kappel pontuou, em entrevista, os cuidados necessários para prevenir um futuro diagnóstico de cegueira e preservar a visão em diferentes fases da vida.
“O cuidado com a saúde dos olhos deve ser algo diário, assim como são os cuidados com seu corpo. Boa alimentação e hábitos saudáveis contribuem para uma boa saúde ocular. Além disso, é importante fazer um check-up oftalmológico ao menos uma vez por ano ou sempre que a pessoa notar alguma alteração na visa”,
finalizou Guilherme Kappel.
Uma a cada cinco pessoas, entre 18 a 24 anos, nunca foi ao oftalmologista no Brasil, segundo levantamento feito pelo Ibope Inteligência em 2020. Os dados recentes, porém, indicam que o cuidado deve existir.
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