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ONU

Mundo desperdiça mais de 1 bilhão de refeições todos os dias

Enquanto isso, quase 800 milhões de pessoas passam fome

Homem recolhe comida em contêiner onde alimentos são descartados no Mercado Central de Buenos Aires. Foto: Matias Baglietto

Mais de um bilhão de refeições são desperdiçadas no mundo inteiro todos os dias, enquanto quase 800 milhões de pessoas passam fome, concluiu um novo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU).

O mundo desperdiçou 1,05 bilhão de toneladas métricas de alimentos em 2022, o que significa que cerca de um quinto dos alimentos disponíveis para as pessoas foram desperdiçados por famílias, restaurantes e outras partes dos setores de serviços alimentares e retalho.

Esse índice é somado aos 13% dos alimentos perdidos no mundo durante o percurso da exploração agrícola até à mesa. No total, cerca de um terço de todos os alimentos vai para o lixo durante o processo de produção.

Estes números de desperdício são ainda mais significativos quando comparados com as conclusões do relatório de que cerca de um terço da população mundial enfrenta insegurança alimentar e 783 milhões são afetados pela fome.

As estatísticas surpreendentes foram publicadas nesta quarta-feira (27) no Relatório do Índice de Desperdício Alimentar de 2024 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

Elas levantam questões sobre a capacidade do mundo de distribuir os alimentos que produz e destacam o papel do desperdício de alimentos como motor das mudanças climáticas, de acordo com o Diretor do PNUMA, Inger Andersen.

“O desperdício de alimentos é uma tragédia global. Milhões passarão fome hoje, à medida que os alimentos são desperdiçados em todo o mundo”, destacou Andersen.

“Esta não é apenas uma questão importante de desenvolvimento, mas os impactos desses resíduos desnecessários estão causando impactos substanciais para o clima e a natureza”, adicionou.

O relatório distinguiu entre “perda” de alimentos – alimentos descartados no início da cadeia de abastecimento, por exemplo, vegetais que apodrecem nos campos e carne que se estraga quando não refrigerada – e “desperdício” de alimentos — alimentos jogados fora pelas famílias, restaurantes e lojas.

As famílias desperdiçaram 631 milhões de toneladas métricas de alimentos em 2022 – 60% do total – enquanto o setor de serviços de alimentação foi responsável por 28% do desperdício, e o varejo por 12%.

Uma pessoa média desperdiça 79 quilogramas de alimentos todos os anos, o que significa que pelo menos um bilhão de refeições de alimentos comestíveis são desperdiçadas todos os dias, concluiu o relatório.

Estimativas “conservadoras”

Ainda assim, mesmo essas estimativas são conservadoras, segundo o relatório. Embora a coleta de dados tenha melhorado, com o número de pontos de dados sobre famílias tendo quase duplicado desde o relatório da ONU sobre desperdício alimentar de 2021, há uma crítica aos países pelo monitoramento irregular.

Apenas 21 países incluíram a perda e o desperdício de alimentos nos seus planos climáticos nacionais, apesar de gerarem 8% a 10% das emissões globais que provocam o aquecimento do planeta – quase cinco vezes mais do que as emissões do setor da aviação.

Embora o impacto climático dos voos que consomem muita gasolina tenha sido bem abordado, o relatório sugere que o impacto da questão mais cotidiana do desperdício alimentar foi ignorado.

A produção de alimentos exige muitos recursos e enormes quantidades de terra e água, e os sistemas alimentares são responsáveis por cerca de um terço das emissões globais de aquecimento do planeta.

A grande maioria dos resíduos alimentares vai para aterros, gerando metano à medida que se decompõe. Potente gás de efeito estufa, o metano tem cerca de 80 vezes o poder de aquecimento do dióxido de carbono nos primeiros 20 anos.

O desperdício alimentar não só alimenta as alterações climáticas, como também pode ser agravado por elas, afirma o relatório.

Descobriu-se que os países mais quentes desperdiçam mais alimentos do que os mais frios, uma vez que as temperaturas mais elevadas tornam mais difícil armazenar e transportar os alimentos antes que se estraguem.

O relatório também afirma que o desperdício alimentar não é apenas um fenômeno do “mundo rico”. A quantidade de alimentos desperdiçados em países de rendimento alto e médio diferiu em apenas 7 quilogramas por pessoa em cada ano.

*Com informações da CNN Brasil

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