A “Roda de Conversa: a abolição nossa de cada dia” realizada pela Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), por meio da Escola do Legislativo “Senador José Lindoso”, nesta quinta-feira (25), discutiu as lacunas e desafios ainda persistentes na sociedade desde a abolição da escravidão, para a população negra.
A iniciativa, do programa “Educando pela Cultura”, faz parte da programação da celebração dos 140 anos da Abolição da Escravatura no Amazonas, ocorrida no dia 10 de julho.
Participaram do evento, aproximadamente, 300 alunos da Escola Estadual Homero de Miranda Leão, Escola Estadual Ernesto Penafort, Escola Estadual Roderick Castelo Branco, Escola Estadual professora Ruth Prestes Goncalves, Escola Estadual Dom Milton Corrêa Pereira e Escola Estadual Sebastiana Braga.
Roda de Conversa
A Roda de Conversa, que na abertura teve apresentação do Grupo de Capoeira: Grupo Arte e Revelação, com o mestre Ney Valente, reuniu especialistas na área, como o professor Edeney Barroso Salvador, a professora Elizangela Almeida da Silva e a professora Rafaela Fonseca da Silva.
Representantes quilombolas do Quilombo São Benedito do Barranco, que participaram de debates sobre a ausência de políticas públicas de inclusão social, nas décadas que se seguiram à abolição e também da necessidade contínua da existência dessas políticas.
Segundo a coordenadora do programa Educando pela Cultura, Jacy Braga, que esteve à frente da organização do evento, datas como esta precisam ser continuamente lembradas para que a história dos pretos seja recontada a partir da perspectiva de seus descendentes.
Os estudantes, que participaram do evento, precisam saber que somos o Estado que tem 52% da população composta por afrodescendentes, de acordo com Jacy, que também enfatizou que eles precisam estar cientes de seus direitos para poderem ocupar espaços que, infelizmente, lá atrás foram retirados.
“É importante para recontar a história como ela realmente foi, porque a narrativa dos livros é eurocentrista, contada por pessoas brancas. É preciso contar o outro lado da história, o lado de quem foi vítima, escravizado e subjugado, daqueles que, mesmo depois da liberdade, não tiveram oportunidades, sem acesso à moradia, escolas e trabalho digno”, salientou.
A “liberdade incompleta” do povo preto também foi apontada pela professora, mestre e pesquisadora social Elizangela Almeida da Silva, uma das palestrantes da roda.
A professora explicou que a abolição foi inacabada e o processo de negação para esta parte da população começou desde a abolição, assim como a luta do movimento social com as insurreições.
“A abolição chegou, mas não chegou como deveria porque continuamos sendo renegados e os nossos direitos sendo o tempo inteiro alijados. E isso reflete nos números da saúde, educação e da violência, especialmente da mulher preta brasileira, que nos colocam em uma situação de vulnerabilidade”, afirmou.
Desabafo em forma de poema
A atriz, ativista e professora Francy Jr. emocionou a platéia com a declamação do poema autoral “Memórias”, que representa um desabafo da mulher preta.
“Este poema retrata os sopros que as mulheres negras ouviram no passado e ouvem até os dias de hoje: sobre seu cheiro, sobre o seu cabelo, sua pele, sobre o seu jeito de andar, de ser, seus traços físicos, enfim a estereotipação da mulher preta”, afirmou.
Ao final, os estudantes foram convidados à reflexão sobre as atitudes diárias em relação a questão racial.
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