Por Marcela Estrella e Márcio Azevedo
Com o registro de candidaturas dos principais concorrentes à Prefeitura de Manaus já homologados pela Justiça Eleitoral, é possível consultar a riqueza de nossos prefeituráveis. Alguns, como Roberto Cidade (União) sempre foram abastados. Já, outros, como capitão Alberto Neto, saíram de nenhum patrimônio para mais de R$ 725 mil em apenas seis anos como político.
Por isso, o EM TEMPO fez um ranking dos candidatos à prefeitura de Manaus com maior renda declarada, e aqueles que mais enriqueceram entre as ultimas eleições e o atual pleito.
Ranking dos candidatos ‘mais ricos’
1º Lugar – Roberto Cidade (União Brasil)
O candidato do União Brasil é o candidato mais rico entre os prefeituráveis em 2024. Para esta eleição, ele declarou possuir bens que somam R$ 4.338.285.
Mas Roberto Cidade sempre foi rico. Em sua primeira campanha, em 2018, o valor dos bens declarados era 9% maior que o dessas eleições. Na época, ele dizia ter R$ 4.805.025.
Na eleição de 2022 seu patrimônio até diminui, indo para a casa dos R$ 2,9 milhões, voltando a crescer para este pleito.
Entre seus principais bens, Roberto Cidade declarou possuir alguns imóveis e investimentos.
2º lugar – Wilker Barreto (Mobiliza)
Wilker Barreto é o segundo candidato com maior renda declarada nas eleições deste ano. O político declarou ter R$ 2.651.012 em bens. Há quatro anos, ele dizia possuir R$ 941 mil de patrimônio.
Em quatro anos, o atual deputado estadual viu seus bens crescerem 181%.
Entre os bens que incrementaram a declaração de bens de Wilker, estão seis imóveis e aplicações financeiras.
3º lugar – Marcelo Ramos (PT)
Marcelo Ramos (PT) declarou à Justiça Eleitoral possuir R$ 1.598.044,77 em bens patrimoniais. Se comparado com a eleição de 2018, o petista enriqueceu mais de 180% desde então.
Em 2018 ele declarou possuir R$ 558 mil em patrimônio. Quatro anos depois, ele já tinha R$ 985 mil e, passados dois anos, a atual renda declarada ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) esta na casa de R$ 1,5 milhão.
No patrimônio atual do petista, se destacam as diversos bens atrelados a empresas, imóveis e a participação na Eneva, que é a empresa que ganhou os direitos de exploração de petróleo e gás no campo do Azulão, no município de Silves.
4º lugar – David Almeida (Avante)
O atual prefeito, e candidato a reeleição, David Almeida, conforme a declaração de bens à Justiça eleitoral, disse possuir R$ 1.277.906,77 em patrimônio. Comparado a 2020, quando se elegeu, seus bens cresceram 49%.
Naquela época, David Almeida declarou possuir R$ 857.529. Agora, olhando para o início de sua carreira política, em 2004, o candidato do Avante se tornou milionário em 20 anos. Naquele ano, David disse não possuir nenhum bem e, agora, já entrou para o seleto grupo das pessoas com patrimônio na casa dos milhões.
Diferente dos demais candidatos, David Almeida prefere concentrar sua renda em investimentos financeiros, como CDB e VGBL.
5º lugar – Capitão Alberto Neto (PL)
Nosso quinto candidato mais rico na campanha a Prefeito de Manaus é o bolsonarista e deputado federal Capitão Alberto Neto, que declarou patrimônio de R$ 725.395,42.
Nas eleições de 2022, quando Alberto Neto se reelegeu deputado federal, ele possuía apenas um apartamento no valor de R$ 312 mil. Passados apenas dois anos, seu patrimônio declarado cresceu mais de 132%.
É bom lembrar que na primeira eleição do Capitão Alberto Neto, ele não tinha “nem uma cachorrinha para puxar”, como é dito popularmente. Mas em oito anos na política, o policial militar da reserva viu seu patrimônio saltar de nada para quase R$ 800 mil.
Atualmente Alberto Neto possui o mesmo apartamento de 2022, porém agregou a seu patrimônio a participação em uma empresa e investimentos financeiros.
6º lugar – Amom Mandel (Cidadania)
Apesar do candidato Amom Mandel possuir a menor renda declarada entre os concorrentes à Prefeitura de Manaus nestas eleições, ele foi o prefeiturável cujo patrimônio mais cresceu desde sua primeira eleição, em 2020.
Naquele ano, Amom informou ao TRE possuir somente R$ 19.700 em ações e na participação de duas empresas. Em dois anos como vereador seu patrimônio saltou para R$ 88 mil e, este ano, passou de meio milhão de reais. Ou seja, entre sua primeira eleição e esta, Amom Mandel teve um crescimento de mais de 2.600% em bens patrimoniais.
Atualmente a renda declarada de Amom é de R$ 523.449,62. Ela é composta por uma casa financiada no conjunto Eldorado, um veículo elétrico, muito mais ações que há quatro anos e a participação em uma empresa.
7º lugar – Gilberto Vasconcelos (PSTU)
O candidato Gilberto Vasconcelos informou não possuir nenhum bem em seu nome. Ele é professor de ensino fundamental.
Salários
Na corrida deste ano à Prefeitura de Manaus temos dois candidatos que ocupam os cargos de deputado federal, dois de deputado estadual, um ex-parlamentar, um professor e o atual prefeito.
O salário líquido do prefeito de Manaus gira em torno de R$ 19,8 mil. Em tese, é com isso que o chefe do executivo municipal vive. Em quatro anos, esse valor daria uma renda acumulada de aproximadamente R$ 950 mil, sem contar o décimo terceiro salário.
Já o salário líquido de um deputado federal é quase duas vezes maior que o do prefeito de Manaus. Atualmente, a remuneração líquida de nossos representantes na Câmara dos Deputados é de, aproximadamente, R$ 32 mil. Isso, fora as verbas acessórias, como os R$ 49 mil que ele pode gastar para comprar passagem aérea ou realizar outras atividades parlamentares. Ou, ainda os R$ 125 mil de verba de gabinete.
Os deputados estaduais na disputa deste ano também possuem uma remuneração bem maior do que irão ganhar, caso sejam eleitos. Como a Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) não divulga o salário mensal dos parlamentares, vamos usar como base o valor bruto do subsídio mensal, que é de R$ 31.238. Eles também ganham cota para a atividade parlamentar, no valor de R$ 44 mil e verba de gabinete que passa dos R$ 100 mil.
Omissão de Bens
Os candidatos a prefeitura de todos os municípios do Brasil precisam declarar bens no momento em que forem registrar a candidatura. Segundo o Tribunal Regional Eleitoral (TRE), a declaração é feita para que se tenha controle da evolução patrimonial de todos os candidatos.
Na prática, porém, a realidade é outra: muitos candidatos omitem da Justiça eleitoral imóveis e outras propriedades, impedindo o eleitor de fiscalizar sua evolução patrimonial e abrindo margem para eventuais questionamentos sobre a origem desses recursos.
O empresário e influenciador digital Pablo Marçal, candidato do PRTB à prefeitura de São Paulo (SP), por exemplo, teria deixado de declarar uma empresa, reduzindo em pelo menos R$ 22 milhões o valor de seu patrimônio declarado à Justiça Eleitoral.
Outro caso conhecido é o do deputado federal Arthur Lira (PP-AL), que comprou quatro fazendas em Pernambuco, entre 2004 e 2006, por quase R$ 5 milhões (cerca de R$ 16 milhões, em valor atual, conforme correção pelo IGP-M) e nenhuma dessas propriedades consta na declaração de bens entregue por ele à Justiça eleitoral em 2006. Na época, foram declarados pelo deputado apenas bens no valor de R$ 695.901,55.
Em entrevistas sobre o caso de Lira, o gerente do Centro de Conhecimento Anticorrupção da Transparência Internacional – Brasil, Guilherme France, afirmou que a falta de sanções para políticos que omitem bens na declaração entregue à Justiça eleitoral prejudica o processo de fiscalização da atuação parlamentar.
“Infelizmente, este não é um caso isolado. O acesso à informação sobre o patrimônio do político favorece o acompanhamento da evolução patrimonial e aponta possíveis conflitos de interesse”, observa. “Se o político tem uma empresa em determinada área, é preciso saber se ele está usando da função pública para favorecê-la”, exemplifica.
Ele defende mudanças na legislação e em resoluções do Tribunal Superior Eleitoral para que todos os bens constantes da declaração do Imposto de Renda do candidato também constem de seus documentos entregues à Justiça no registro da candidatura, sob pena de sanções.
“Entendemos que há certos dados que, por segurança e privacidade, devem ser mantidos em sigilo. Mas o direito à privacidade dessas pessoas públicas precisa se equilibrar com o direito da sociedade de acompanhar sua evolução patrimonial”, defende Guilherme.
O diretor-executivo da ONG Transparência Partidária, Marcelo Issa, também defende que seja obrigatória a declaração à Justiça eleitoral de todos os bens informados à Receita Federal.
“A legislação exige que os candidatos apresentem declaração de bens à Justiça Eleitoral para que o eleitor possa formar seu voto de modo consciente. Embora eventuais discrepâncias entre o que se declara ao órgão eleitoral e aquilo que consta da declaração à Receita Federal possam configurar falsidade ideológica, defendemos que a legislação seja alterada para prever expressamente a obrigatoriedade de coincidência entre ambas declarações”.
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